terça-feira, 25 de julho de 2017

Diálogos sobre a urbe: Caminhos e Descaminhos da cidade de Natal

Diálogos sobre a urbe: Caminhos e Descaminhos da cidade de Natal
Luciano  Capistrano
Especialista em História e Cultura Afro-brasileira e Africana/UFRN
Professor: Escola Estadual Myriam Coeli
Historiador: SEMURB/Parque da Cidade Dom Nivaldo Monte


Natal

Não sei se terei a rima perfeita
Para em versos poéticos
Dizer dos caminhos e descaminhos
Das memórias, das histórias
Da terra de nome: Natal.
Lugar de brancas dunas
Tantas vezes cantadas em versos e prosas
Nos cantos de Açucena
Ao balançar dos coqueirais
A sombra das "praieiras dos meus amores", descortina a urbe: Natal.
Ouço vozes no tempo
Otoniel Menezes
Ferreira Itajubá
Jorge Fernandes
Palmyra Wanderley
Suas poesias a ecoar nas esquinas
De uma Baby linda.
Dos encontros de civilizações
Ibéricos, Africanos, Potiguaras
Forjaram culturas em partos
De dores e alegrias
Se fez uma Fortaleza dos Reis Magos
Ao olhar do alvissareiro
Lá no alto da torre
Via-se como " era grande o Potengi".
Dos limites da Santa cruz da Bica
As margens do Riacho do baldo
Latas d'água na cabeça
Gente ia e vinha, em caminhos de beber água sob as bênçãos de Santo Antônio
Ao canto do galo se fez uma cidade
Devota a Nossa Senhora da Apresentação
E nas margens ergueu-se
A igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos.
E assim, em versos sem rimas
Vou pautando uma história urbana
Dos vestígios de memórias
Entre rochas e humanos
Descortino a cidade
Da Ribeira, da Cidade Nova
A Cidade Alta , em uma construção
Continua, ditas por poetas e cronistas
Natal, Cidade do Sol
Já foi Trampolim da Vitória...
(Luciano Capistrano)


            Falar em Natal para muitos é apenas discorrer sobre as belezas naturais. Dizer das belezas de seu litoral e incluir, até praias vizinhas, como nos versos do poeta “... de Redinha a Genipabu...” Bem realmente, a mãe-natureza presenteou a cidade do Natal, com uma paisagem única. Aqui encontra-se belos cartões-postais. 
           Natal é bela, isto é fato! 
            A cidade surgida neste sítio, entre dunas, mar e o rio, tem muito a apresentar. Natal tem história. História que vai além da sua fundação, pois, antes dos Portugueses foi terra dos Potiguara. A digital dos formadores da urbe Potiguar, encontra-se em seu Patrimônio Histórico: Material e Imaterial. 
            A Natal moderna, cidade verticalizada, ainda não conseguiu suprimir os vestígios de seu passado. Claro que um passado, muito mais preservado quando se refere a “pedra e cal”. 
            Por que a Fortaleza dos Reis Magos, conseguiu bem ou mal, ser preservada e o local da aldeia dos Potiguara, na margem esquerda do rio Potengi, não recebeu o mesmo tratamento? 
            Deixemos a questão, para reflexão, já que não é nosso propósito, neste momento entrar nesta seara. 
            O certo é que ao olharmos os símbolos da presença europeia em nossa cidade Natal, percebemos também a influência dos indígenas e dos africanos. Culturas diversas causadoras da construção do hoje, natalense. 
            Saberes e fazeres milenares presentes: quando saboreamos ginga com tapioca, na praia da Redinha; ao assistirmos uma apresentação do Boi Calemba, do saudoso Manoel Marinheiro; ao entrarmos no Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão e presentearmos nossos olhos com as peças de Xico Santeiro; na técnica utilizada para construir a Fortaleza dos Reis Magos, marco da ocupação portuguesa, e por fim, quando das celebrações de fim de ano presenciamos, junto a estátua de Iemanjá, as oferendas jogadas ao mar. 
            Como preservar, então, o Patrimônio Histórico da Cidade do Natal? 
            Um dos primeiros passos a serem dados em direção a preservação do Patrimônio Histórico é desenvolver ações tendo como meta, fazer este Patrimônio conhecido por seus cidadãos. Neste sentido a Educação Patrimonial, exerce um papel preponderante na concretização do desejo de preservar aquilo que é relevante para a cultura material e imaterial da capital Potiguar.     

Palestra "Educação Patrimonial" - Professor Luciano Capistrano


            A Educação Patrimonial deve ser a locomotiva, deste processo de proteção e restauração dos nossos lugares de memória. Conhecer o passado é um direito de todas e todos os cidadãos, está na Constituição. 
            Projetos que contemple a valorização dos espaços, guardiões, da memória, são fundamentais. Urge iniciativas, nas três esferas de poder. A FUNCART, a Fundação José Augusto e o IPHAN, devem promover políticas além do Tombamento, é preciso construir uma mentalidade que pense na importância dos vestígios deixados pelos nossos antepassados. 
            Hoje, falo da minha experiência de professor, caminhar por entre nossas ruas, em busca destes lugares de memória, é muitas vezes, encontrar museus com acervos danificados, sem guias, monumentos sem nenhum cuidado em conservação, edificações protegidas pelo Tombamento, mas em situação de risco quanto aos vândalos e as intempéries do tempo. E até, mesmo, espaços fechados para a visitação. 


Circuito Histórico - Educação Patrimonial - Professor Luciano Capistrano

            Um bom exemplo, a ser registrado, é o Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão, apesar de não funcionar aos sábados, domingos e feriados, pelo menos nas vezes que lá estive, disponibiliza um rico acervo do nosso Patrimônio Imaterial. Localizado na antiga rodoviária, tem em seu entorno a praça Augusto Severo, a antiga Escola Domestica, o antigo Grupo Escolar Augusto Severo, o Teatro Alberto Maranhão e o Largo Dom Bosco. Lugares de muita história, formando um verdadeiro convite a quem quer conhecer o passado da cidade Natal. 
            Lembremos, então, Câmara Cascudo, quando em uma de suas actas afirmou: “Errariam menos os homens se lessem mais a história”. Neste sentido, erraríamos menos se preservássemos mais o nosso Patrimônio Material e Imaterial.


Professor Luciano Capistrano

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