Brasil:
Independência ou morte, seja um brando de fortalecimento dos
caminhos democráticos.
Luciano
Capistrano
Especialista
em História e Cultura Afro-brasileira e Africana/UFRN
Professor:
Escola Estadual Myriam Coeli
Historiador:
SEMURB/Parque da Cidade Dom Nivaldo Monte
Que
País é Esse?
(Renato
Russo)
Nas
favelas, no Senado
Sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a Constituição
Mas todos acreditam no futuro da nação
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
No Amazonas, no Araguaia
Na Baixada Fluminense
No Mato Grosso e nas Gerais
E no Nordeste tudo em paz
Na morte eu descanso
Mas o sangue anda solto
Manchando os papéis, documentos fiéis
Ao descanso do patrão
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
Terceiro Mundo se for piada no exterior
Mas o Brasil vai ficar rico
Vamos faturar um milhão
Quando vendermos todas as almas
Dos nossos índios num leilão
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
Sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a Constituição
Mas todos acreditam no futuro da nação
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
No Amazonas, no Araguaia
Na Baixada Fluminense
No Mato Grosso e nas Gerais
E no Nordeste tudo em paz
Na morte eu descanso
Mas o sangue anda solto
Manchando os papéis, documentos fiéis
Ao descanso do patrão
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
Terceiro Mundo se for piada no exterior
Mas o Brasil vai ficar rico
Vamos faturar um milhão
Quando vendermos todas as almas
Dos nossos índios num leilão
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
Na
década de 1980, ventos originários da capital federal, Brasília,
trazia a sonoridade do rock brasileiro, entre os diversos grupos,
“crias” das esplanadas, surgia o Legião Urbana. Do Aborto
Elétrico vinha Renato Russo, com uma das letras, que logo, logo, se
transformaram em hino de uma geração que aspirava por liberdade. O
Brasil, iniciava de forma afirmativa, com as mobilizações de rua, sua caminhada na estrada de restauração
da democracia, perdida durante os 21 anos de governos dos generais
presidentes.
Lembro
da Campanha das Diretas Já.
O
ano 1984, a Emenda a Constituição, apresentada pelo Deputado Dante
de Oliveira, ganha as ruas e praças deste país, o povo na rua,
mobiliza-se a sociedade. Multidões, rompe-se o silêncio, a CNBB, a
OAB, a ABI, e outras Instituições da sociedade se alinham no
discurso em favor da Emenda Dante de Oliveira.
Das
Praças ecoa o grito: Diretas Já! Existia um desejo por democracia a
unir os diversos espectros políticos ideológicos da sociedade
brasileira, como nos diz o historiador Carlos Fico:
[…] No Rio de Janeiro, quando Sobral Pinto iniciou seu discurso citando o artigo primeiro da Constituição (“Todo o poder emana do povo e em seu nome é exercido!”), o povo foi ao delírio. A presença de Sobral era emblemática: nonagenário, ele era um católico liberal, distante do radicalismo da esquerda. Havia defendido o líder comunista Luís Carlos Prestes após a rebelião de 1935 mesmo discordando dele. Representou, naquele momento da Campanha das Diretas, a união da sociedade brasileira em torno do mais básico princípio democrático: os cidadãos devem escolher seu mandatário, independentemente das ideologias políticas que os reunissem em defesa desse pressuposto elementar. (FICO, Carlos. História do Brasil Contemporâneo: da morte de Vargas aos dias atuais. São Paulo: Editora Contexto, p.101, 2015)
Em
abril de 1984, na Praça Gentil Ferreira, vivi com meu pai, Benjamin
Capistrano Filho, um dos momentos mais impactantes, milhares de
pessoas, lotando a Avenida Amaro Barreto, a Avenida Presidente
Bandeira, o Relógio, símbolo do Alecrim, testemunhou a euforia, o
grito, recolhido, proibido, era posto para fora, vi meu pai,
perseguido pelos governos militares, chorar de alegria, alegria em
ver a liberdade se expressar naquela manifestação política, ali,
naquele momento, me convenci mais, e, mais da preciosidade que é
viver em um país democrático.
Ao
lembrar da Campanha das Diretas Já, me vem o discurso, dito por
alguns mal intencionados e outros desavisados, que vociferam
“Intervenção Militar já”, amigo velho, o processo de
democratização do Brasil não ocorreu de forma fácil, apesar da
chamada, “Abertura Lenta, Gradual e Segura”, defendida durante o
governo do General Presidente Geisel, os órgãos de repressão
política continuavam em ação, um xadrez político complicado de
ser desarmado era o lado “duro” dos militares que defendiam a
permanência do arcabouço jurídico/repressivo aos moldes do Ato
Institucional 5. Não, esqueçamos do atentado do Rio Center, quando
militares ligados aos setores radicais da direita militar, levavam
explosivos para serem detonados no show do primeiro de maio,
felizmente o artefato explodiu no “colo” de um dos terroristas
“verde-oliva”.
A
crise política, de hoje, guardada as devidas diferenças, tem alguns
fatores que lembram os anos anteriores ao abril de 1964, quando os
militares e civis, filiados aos interesses norte-americano, como
testemunhou o embaixador dos EUA, a época, Lincool Gordon, romperam
o processo democrático e implantaram uma ditadura civil-militar,
1964-1985.
Existe uma crise, sim, mas, como costumo dizer: existe apenas uma saída, e,
a saída, amigo velho, é uma OVERDOSE de DEMOCRACIA.
O
perigo dos momentos de crises, éticas, políticas, econômicas, são
os “salvadores da pátria”, como nos alertou o Deputado Ulisses
Guimarães, quando da proclamação da Constituição de 1988:
"República
suja pela corrupção impune tomba nas mãos de demagogos, que, a
pretexto de salvá-la, a tiranizam.”
Ao aproximar do fim deste curto artigo, sem ser conclusivo, mas apenas um convite ao diálogo, deixo, para as muitas reflexões, um fragmento do “Funk da Lama” de Zeca
Baleiro:
“Tanto
faz se é Demóstenes
ou Palocci
Se é Fabio Melo ou Marcelo Rossi
Você vai ter que responder pelo o que faz,
Você vai ter que responder pelo o que diz ...”
ou Palocci
Se é Fabio Melo ou Marcelo Rossi
Você vai ter que responder pelo o que faz,
Você vai ter que responder pelo o que diz ...”
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