segunda-feira, 17 de abril de 2017

Alecrim: Algumas considerações


Alecrim: Algumas considerações¹
Luciano Capistrano – lulahisprofessor@Hotmail.com
Professor: Escola Estadual Myriam Coeli
Historiador: SEMURB/Parque da Cidade Dom Nivaldo Monte 
  


            O Alecrim foi oficializado bairro, em 1911, através da resolução nº 151, assinada pelo Presidente da Intendência (antiga denominação da Prefeitura), Joaquim Manoel Teixeira de Moura. Nascia assim o quarto bairro de Natal: Desmembrado da Cidade alta, tendo por limite ao norte uma linha que, partindo da ponta de Areia Preta, se dirige, pela rua Ceará-Mirim e Baldo, ao rio Potengi; a leste, o oceano até encontrar a avenida sul, que demora no extremo do terreno patrimonial do munícipio; ao sul, a mesma avenida limite do patrimônio municipal até o rio Potengi, até encontrar o ribeiro que banha o sítio denominado de Oitizeiro. 
            O lugar onde foi delimitado o bairro do Alecrim tem uma história de ocupação que remonta 23 de outubro de 1911. Dois equipamentos urbanos instalados o Cemitério do Alecrim ( 1856) e o Lazareto da Piedade (1882), foram as primeiras ações do poder público nessa região, uma demonstração que o bairro já nascia com a estigma de abrigar aquilo que a cidade queria longe de seus limites urbanos. 
            Durante a formação urbana de Natal, o bairro exerceu, e, ainda exerce uma importância econômica significativa para a cidade. Caros 
leitores, Natal era uma cidade sitiada, uma cidade de difícil acesso, muitas eram as barreiras naturais. O oceano, o rio e dunas, eram obstáculos a serem vencidos por aqueles que habitavam e visitavam a capital potiguar do passado. Existem relatos, do inicio do século XX, sobre a dificuldade de acompanhar um cortejo fúnebre, pois, não era fácil sair da Ribeira e acompanhar o finado até o alto do Baldo, enfrentar um verdadeiro areal e chegar ao Cemitério do Alecrim, muitas das famílias abastardas da cidade faziam o translado do corpo de trem até o Oitizeiro, hoje nas mediações da Cosern. 
            Bem a cidade cresceu, e o bairro, antes, uma área suburbana, formada por granjas, começou a se desenvolver, fruto inclusive de umas das características mais presentes: o comercio.  O professor Itamar de Souza, diz que um dos nomes do Alecrim, Cais do Sertão, advém por ter servido de pouso dos viajantes oriundo do interior e de outros estados que procuravam a Capital Potiguar, para vender ou resolver assuntos relacionados a administração estadual. Bem o fato é que uma rede de pequenas pousadas surgiu dessas necessidades. 
            A feira do Alecrim, lugar de sociabilidade tradicional de Natal, logo se transformou num grande centro econômico. Em um domingo de 1920, João Estevam e alguns amigos, organizaram a venda de suas mercadorias na avenida 1, avenida Presidente Quaresma. Na década de 1940, durante a administração do prefeito Gentil Ferreira, a feira passou para o sábado. Assim, desde então, sábado é dia de feira. 
            Durante o período da Segunda Guerra Mundial, o Alecrim, como toda a cidade, sofreu um grande impacto populacional, militares e civis, chegados à cidade em decorrência do chamado esforço de guerra, com a instalação em solo potiguar da Base Aérea de Natal, hoje de Parnamirim. Natal Trampolim da Vitória testemunhou, também, a construção da Base Naval de Natal, no Bairro do Alecrim, fato este, que serviu de um novo impulso para a urbanização do lugar. Com a instalação da Base e da Vila Naval, o contingente populacional fez do Alecrim o bairro mais populoso de Natal. Ficando, apenas na memória, o antigo bairro descrito por Câmara Cascudo em sua História da Cidade do Natal: Raríssimas pessoas habitavam o descampado. Era terra de roçados de mandioca e de milho, zona de caçada para os morros. Umas quatro casinhas de taipa, cobertas de palha, sem reboco, denominadas de capuabas, estavam dispersas num âmbito de légua quadrada ( CASCUDO, p. 441, 2010). 
            Umas das singularidades do Alecrim é a numeração de ruas e avenidas,  avenida a1, avenida 2 e assim por diante. Em 1929, o prefeito Omar O’Grady solicitou ao IHGRN nomes de Presidentes da Província e de tribos indígenas, deste modo as avenidas 1 ( Pte Basílio Quaresma Torreão ); avenida 2 ( PTE João Capistrano Bandeira de Melo); avenida 3 ( José Bento da Cunha Figueiredo Júnior); avenida 4 ( Cassimiro José de Morais Sarmento ); avenida 5 Presidente Pedro Leão Veloso ) governadores do período imperial e avenida 6 ( Rua dos Canindés ); avenida 7 ( Rua dos Caicós ); avenida 8 ( Rua dos Pajeús ) avenida 10 ( Rua dos Paianazes ); e avenida 12 (rua dos Paiatis) tribos indígenas.  Muitos creditaram à presença americana a numeração das avenidas, o Historiador Itamar de Souza, em sua Nova História de Natal, apresenta uma série de publicações da Intendência Municipal, datadas de 1908, 1910, por tanto antes de 1911, fazendo referências a logradores localizados no Alecrim com numeração, esta documentação confirma assim a não influência norte-americana na nomeação das avenidas. 
            Um bairro de muitas histórias, pioneiro no cinema falado em nossa cidade, do teatrinho do povo ( Teatro Sandoval Wanderley ), do Teatro Jesiel Figueiredo, do Cinema São Luís e outros lugares da sétima arte. 
            Caro leitor, deixo aqui um convite a todas e todos, andemos pelas ruas do velho e bom Alecrim, cantemos como o poeta Babal:  
  

“Os guaranis festejando a paz 

O guerreiro Bumbum 

Éramos todos devotos, meninos fiéis 

Quando não era possível ter sonho 

A gente tinha um 

E ele girava em torno da Avenida Dez”.
Foto: Aspecto da Praça Gentil Ferreira - Década de 1980


1. Artigo publicado originalmente no "Café História".

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