Violência: apenas um desabafo¹
Luciano Capistrano
Historiador: SEMURB/ Parque da Cidade
Professor: Escola Estadual Myriam Coeli
Meu caro leitor, me assusta os dados sobre as mortes de formas violentas reveladas no “Mapa da Violência”, estamos num crescente estado de violência urbana, a conversa na calçada, a brincadeira na rua, o sair de casa, o estar em casa, se transformaram em situações de risco.
Recentemente fiquei chocado com dois casos, pela brutalidade, um ocorreu em São Paulo, um policial foi morto na frente do filho, detalhe, já se encontrava de joelhos, rendido, quando um dos seus algozes ordenou, “mata que é policial”, e, outro fato, também absurdo, cruel, foi o tiro a queima roupa deferido por um assaltante em um vigilante de uma farmácia de Natal. Nos dois casos, as vítimas se encontravam sem defesa, já dominadas, não esboçaram nenhuma tentativa de reação. Por sorte o vigilante sobreviveu, apesar das sequelas que para sempre lhe acompanharão.
Mortes, assassinatos, vidas ceifadas gratuitamente.
Diante de tão bruta violência o que fazer?
Diante da ausência do Estado o que fazer?
Diante da incompetência dos gestores públicos o que fazer?
Diante das quase 60.000 mortes, anuais, de forma violenta o que fazer?
Poderia preencher diversas folhas em branco com questionamentos sobre o que fazer diante da violência. Não são respostas fáceis, mas de uma coisa tenho certeza, a sociedade não pode cai na armadilha da barbárie, não podemos retroceder a Lei de Talião. É preciso fazer do combate a violência uma ação de toda a sociedade. Não podemos achar natural o assassinato, o homicídio.
No dia 12/04/2016, fiquei impactado com a cena de dois jovens nus, tangidos, por populares em motos e carros, em uma das avenidas mais movimentadas de Natal, a avenida Bernardo Vieira, cena dantesca. Me lembrei dos vídeos divulgados pelo Estado Islâmico, não vi diferença na forma pirotécnica de se fazer da violência o grande espetáculo.
Espetáculo do absurdo, Estado sem Lei, amigo velho estamos em guerra.
População diante do crescimento da violência, de forma insana, busca fazer "justiça". Enquanto populares, correm com sede de justiça para pegar dois adolescentes, nus, da Av. Bernardo Vieira até a Ponte de Igapó, gestores públicos fazem "banquetes", com sangues de inocentes. Faz necessário restabelecer o Estado de Direito, o medo fruto da violência sem controle, não pode transformar cidadãos de bem em bandidos.
Olha amigo velho, estamos em guerra e infelizmente a continuar essa situação de falência do Sistema de Segurança, vamos nos transformar em "bárbaros", em foras da Lei. Se a legislação não atende às demandas dos tempos presentes de altos índices de violência, então, mude-se a Legislação. O combate a violência tem de ser realizado dentro da Lei.
Este é apenas um desabafo de um cidadão cansado com o descontrole dos governos, um cidadão que no ano de 1995, teve seu irmão mais novo, assassinado de forma covarde.
É, meu caro leitor, não podemos nos deixar levar pela ira insana, façamos do diálogo, do debate sobre as modificações na legislação, na estruturação das Instituições de Segurança, uma pratica de cidadania, para, assim, podermos construir uma sociedade de justiça e paz!
Finalizo, este desabafo, com uma frase de João Paulo II: “O diálogo com base em leis morais sólidas facilita a resolução de conflitos e promove o respeito pela vida, de cada vida humana. Portanto, o recurso às armas para resolver disputas é sempre uma derrota da razão e da humanidade. ”
1. Publicado originalmente em 2016, Café História.
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