Fraternidade
e superação da violência, Em Cristo somos todos irmãos (Mt 23,8):
Uma
reflexão sobre a Campanha da Fraternidade 2018.
Luciano
Capistrano
Professor:
Escola Estadual Myriam Coeli
Historiador:
Parque da Cidade
A
Igreja Católica todos os anos no período da Quaresma, realiza a
CAMPANHA DA FRATERNIDADE, nascida em Natal na década de 1960, sobre
a coordenação de Dom Eugênio de Araújo Sales. Natal, provinciana,
inaugura um grande projeto de evangelização da Igreja Católica, no
início o apoio efetivo das “Cáritas Brasileiras”, em uma ação
com objetivos de intervir nas atividades sociais das paróquias, além
de arrecadar fundos para os projetos sociais, teve desde a origem a
finalidade de divulgar o evangelho nas diversas comunidades do Rio
Grande do Norte, logo o ideal da Campanha ganhou outros estados
nordestinos, para tanto contou com a ajuda financeiras de bispos
norte-americanos. Abro, aqui, um parêntese para lembrar meu amigo
velho, vivíamos o período da chamada “Guerra Fria”, mundo
polarizado entre EUA e a antiga União Soviética, neste sentido a
Igreja de certo modo concorre com os sindicatos rurais nas áreas de
influência do campo.
Claro
que para além das questões políticas ideológicas, floresceu
dentro do clero nordestino e se espalhou por todo o território
brasileiro, o desejo de fazer do evangelho algo “vivo”, neste
sentido a Campanha da Fraternidade ganha as diversas arquidioceses e
no dia 26 de dezembro de 1963, sob os ventos soprados do Concilio
Vaticano II, é lançado a nível nacional a Campanha da Fraternidade
para se efetiva na Quaresma de 1964, da cidade provinciana para o
Brasil. Desde de 1970 que a abertura da Campanha da Fraternidade
recebe uma mensagem especial do Papa, assim, o movimento Natal da
década de 1960, transcende as fronteiras regionais e se transforma
num dos mais significativos momentos da Igreja Católica, agora sob
as diretrizes da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
Nestes
anos a Campanha tem como tom as questões sociais, fazendo da
evangelização um movimento de libertação/reflexão das condições
vividas por todos os segmentos sociais, sempre com temáticas
instigantes/provocadoras a partir das questões sociais.
“Fraternidade
e superação da violência, tendo como lema Em Cristo somos todos
irmãos (Mt 23,8)”.
Este
é o lema da Campanha da Fraternidade – 2018, importante
e inquietante temática, ao trazer para as paróquias
e
as diversas comunidades cristãs a proposta de dialogar e refletir
sobre a violência faz-se, deste
modo,
uma contribuição para superar tão grave chaga da sociedade
brasileira.
Os
números assustam, conforme o Atlas
da Violência 2017,
a
partir
dos
dados de homicídios ocorridos no Brasil,
entre
2005 e 2015, registrados
no Sistema
de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde,
em
2015 alcançamos a triste marca dos
59.080 homicídios.
Como
pensar em paz diante de um triste dado estatístico? 59.080,
este foi o número de mortes violentas acontecidas no Brasil em 2015.
Uma estatística que traduz uma sociedade violenta e violentada.
Vivemos uma silenciosa guerra, silenciosa porque muitos de nós não
enxergamos o risco em nossos lares, vivemos a ilusão de quem diz:
“aconteceu com o vizinho, que triste.” Meu caro amigo, minha
querida amiga, leitores, ninguém está a salvo neste estado de
guerra.
Luto
(às
famílias vítimas da violência)
Corpos,
Dores,
Dor,
Fatídico,
Sinistro,
Vidas
interrompidas.
Família,
Partida,
Luto,
Dor,
Dores,
País
da ingenuidade perdida.
(Luciano
Capistrano)
Acredito
ser fundamental caminhar em duas vias, o combate efetivo, repressivo,
para desbaratar as ações das quadrilhas, principalmente as
organizações criminosas ligadas ao tráfico de drogas. Para além
das ações repressivas, tem de ser ocupadas as ruas e praças dos
diversos bairros com projetos culturais, esportivos, projetos de
inclusão de crianças e jovens, numa rede de proteção contra
a
criminalidade. Não
temos como esperar mais, é urgente uma ação por uma sociedade
pacifica.
As praças, raras exceções, são espaços vazios, sem uma presença real do poder público, quando as lâmpadas não estão queimadas é o mato, o lixo, o abandono. Claro que muito dos aspectos de abandono das praças é fruto da ação da própria comunidade. Então que o poder público estimule, através de projetos, a participação da comunidade na conservação das praças, das ruas, como lugares de todas e todos.
A
onda de violência crescente em nossas cidades, provoca nas pessoas
de bem o desejo, na minha opinião “ingênuo”, da volta do “mão
branca”, como o mágico
capaz de acabar com a violência. Minha formação humanista/cristã,
não me permite apoiar esquadrões da morte, grupos de extermínio.
Sou contrário a essa ideia, acredito ser o Estado o responsável
sobre o monopólio das armas, do policiamento, da aplicação da Lei.
Nada
fora da Lei.
As comunidades não podem conhecer apenas a força das armas, do cassetete, é preciso avançar nas ações preventivas, ruas iluminadas, atividades culturais e esportivas, deste modo ocupando as praças e as ruas com o bem.
Nesta
perspectiva, a Campanha da Fraternidade é um chamamento, a princípio
aos cristãos, mas estendido a todas e todos, homens e mulheres de
bem, é preciso fazer o enfrentamento da violência de modo rígido,
agora de tal modo que seja eficaz, construindo uma rede pela paz, nas
pequenas e grandes cidades. Termino, este curto artigo, me permitam,
deixando a oração da Campanha da Fraternidade 2018, e , convidando
os cristãos e não cristãos para um dialogo fraternos, sobre os
caminhos e descaminhos, das ações a médio e longo prazo para
construirmos um outro mundo, um mundo de paz.
“Deus
e Pai, nós vos louvamos
pelo
vosso infinito amor e vos
agradecemos
por ter enviado Jesus,
o
Filho amado, nosso irmão. Ele
veio
trazer paz e fraternidade à
terra
e, cheio de ternura e compaixão,
sempre
viveu relações repletas de perdão
e
misericórdia. Derrama sobre nós
o
Espírito Santo, para que, com o coração
convertido,
acolhamos o projeto de
Jesus
e sejamos construtores de uma
sociedade
justa e sem violência,
para
que, no mundo inteiro, cresça o
vosso
Reino de liberdade, verdade e de paz. Amém.
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