13
de março de 1964, um discurso,
muitas reflexões
Luciano
Capistrano
Professor:
Escola Estadual Myriam Coeli
Historiador:
Semurb/ Parque
da Cidade Dom Nivaldo Monte
“No
Japão de pós-guerra, há quase 20 anos, ainda ocupado pelas forças
aliadas vitoriosas, sob o patrocínio do comando vencedor, foram
distribuídos dois milhões e meio de hectares das melhores terras do
país, com indenizações pagas em bônus com 24 anos de prazo, juros
de 3,65% ao ano. E quem é que se lembrou de chamar o General
MacArthur de subversivo ou extremista?
Nações
capitalistas, nações socialistas, nações do Ocidente, ou do
Oriente, chegaram à conclusão de que não é possível progredir e
conviver com o latifúndio.
A
reforma agrária não é capricho de um governo ou programa de um
partido. É produto da inadiável necessidade de todos os povos do
mundo. Aqui no Brasil, constitui a legenda mais viva da reivindicação
do nosso povo, sobretudo daqueles que lutaram no campo.
A
reforma agrária é também uma imposição progressista do mercado
interno, que necessita aumentar a sua produção para sobreviver. ”
(Trecho
do discurso de João Goulart no dia 13 de março de 1964 na Central
do Brasil – Acessado em
http://www.ebc.com.br/cidadania/2014/03/discurso-de-jango-na-central-do-brasil-em-1964)
O
comício da Central do Brasil, é apontado por diversos historiadores
como sendo a gota d’água na fervura vivida pela sociedade
brasileira, nos tumultuados dias anteriores ao golpe civil-militar de
abril de 1964. As forças conspiradoras, encamparam o discurso
acusador de Jango “comunista”.
O
Presidente João
Goulart (Jango),
político “cria” do antigo PTB, Partido Trabalhista Brasileiro,
expoente da linhagem nacional desenvolvimentista, não era aceito por
setores militares e civis, capitaneados por interesses
estrangeiros, notadamente,
articulados a partir da embaixada norte-americana, chefiada no
Brasil, a época, por Lincoln Gordon:
Obviamente
não podia imaginar que aquilo fosse acabar em regime de exceção
prolongado. Se alguém me sugerisse naquele dia que o governo militar
iria durar 21 anos, eu diria que o sujeito
era louco. A famosa operação Brother Sam, que se atribui à CIA,
foi na verdade uma operação da marinha de guerra orquestrada por
mim (GORDON apud COUTO, 1999, p.57).
Fica
claro no depoimento do ex embaixador Lincoln Gordon, a participação
direta dos EUA, na derrubada do governo de Jango e instalação em
solo brasileiro de um regime ditatorial comandado pelos militares
associados aos interesses externos com apoio de grupos políticos
internos, para cita apenas algumas das lideranças civis, apoiadores
do golpe de 1964, Carlos Lacerda, Magalhães Pinto, Aluízio
Alves,e, outros governadores e parlamentares, alguns destes foram
cassados pelos próprios militares.
Ao
me reportar aos tristes acontecimentos da década de 1960, o faço,
de certo modo, movido pelos
discursos,
as vezes “ingênuos”, as vezes “convictos”,
defendendo a “intervenção militar”, como forma de retirar o
Brasil da crise política vivida nos tempos presentes. Ora, a
historiografia, extensa, já comprovou o equívoco que foi a ação
“dantesca” que levou ao golpe civil-militar de 1964, isso, é um
ponto passivo. Agora, se existem quem levante a bandeira da
intervenção militar, cabe, sim, uma reflexão sobre os fatos
passados, assim, penso ser importante travar o bom diálogo diante da
atual conjuntura.
Algo
me faz pensar sobre os caminhos que levaram a democracia brasileira a
cair no “poço sem fim” da ditadura civil militar-1964, é o
discurso, transvestido de democrata, que acusava Jango de comunista.
Em seu discurso, na Central do Brasil, naquele 13 de março, o
Presidente Jango, fez acertadamente uma referência as medidas
adotadas, no Japão do pós Segunda Guerra
pelo
General
MacArthur, sobre a distribuição de terras naquele país do
pacífico. O general norte-americano, em nenhum momento foi acusado
de comunista por defender uma distribuição de terras. Faço, essa
referência, para dizer do risco que existe no discurso, dito por
muitos “analistas das redes sociais”, inquisidor apontando como
comunistas qualquer atitude, mesmo,
a simples referência a “democracia” como único caminho para
sairmos da crise politica brasileira.
Vivemos,
guardadas as devidas diferenças, uma conjuntura muito próxima da
vivida na década de 1960. Quando propor reformas dentro do sistema
capitalista era tido como ato subversivo.
O
golpe civil-militar de 1964, não foi a solução para a “crise”,
o comício da Central do Brasil, do dia 13 de março de 1964, não
foi o culpado pela queda do governos eleito democraticamente, do
Presidente João Goulart. O acontecimento do dia 13 de março, foi
apenas uma gota, um pretexto, par ao golpe que estava em curso, sobre
as diretrizes da embaixada norte-americana. Resultado, vivemos
os priores tempos de torturas e violações de direitos universais.
Houve
muita violência após o golpe de 1º de abril, ao contrário do que
sustentam alguns analistas que insistem em caracterizar a derrubada
de Goulart como uma ação incruenta. […] em Recife, o velho líder
comunista Gregório Bezerra teve seu cabelo arrancado com alicate,
seus pés molhados com ácido e seu pescoço amarrado com cordas.
Bezerra foi arrastado pelas ruas e seus algozes conclamavam a
população – que assistia aterrorizada – a execrá-lo.(FICO, p.
55-56, 2015).
Finalizo,
este curto artigo, reafirmando a disposição para o diálogo
fraterno sobre os fatos de nossa história.
Referencias
COUTO, Ronaldo Costa. História indiscreta da ditadura e da abertura: Brasil (1964-1985). Rio de Janeiro: Record, 1999.
FICO, Carlos. História do Brasil contemporâneo: da morte de Vargas aos dias atuais. São Paulo: Contexto, 2015.
Referencias
COUTO, Ronaldo Costa. História indiscreta da ditadura e da abertura: Brasil (1964-1985). Rio de Janeiro: Record, 1999.
FICO, Carlos. História do Brasil contemporâneo: da morte de Vargas aos dias atuais. São Paulo: Contexto, 2015.
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