1964:
aconteceu em abril
Luciano
Capistrano
Professor:
Escola Estadual Myriam Coeli
Historiador:
Semurb/ Parque da Cidade Dom Nivaldo Monte
Entre
gritos, insanidade
Autoritária
Nas
casas dos horrores
Trucidam
as
Liberdades
Fez
escuro a nação verde-oliva
Ergue-se
figuras fascinoras
Ustra
e CIA!
(Luciano
Capistrano)
Na
madrugada do dia 31 de março de 1964, “tropas do IV Exército
partem de Juiz de Fora/MG em direção ao estado da Guanabara”, os
ouvintes da Rádio Mayrink Veiga,
acordaram com essa notícia. Era
a marcha do obscurantismo, dava início, assim, a interrupção do
processo democrático brasileiro,
31 de março de 1964, é o ato final de um complô articulado por forças militares e civis, sobre a tutela norte-americana com a finalidade de manter e ampliar os interesses dos EUA no Brasil. Fez-se noite a democracia.
O
início dos anos 1960 no Brasil é caracterizado pela falência do
populismo enquanto projeto político que garantia a permanência da
burguesia no poder, cujo alicerce está na aparente harmonia entre as
classes sociais. Sobre esta função política do populismo o
historiador Jacob Gorender
afirma: O populismo foi a forma da hegemonia ideológica por meio da
qual a burguesia tentou – e obteve em elevado grau – o consenso
da classe operária para a construção da nação burguesa. A
liderança carismática e sem mediações formalizadas, adequadas a
massas de baixo nível de consciência de classe, constituiu a
expressão peculiar do populismo. Não sua essência, concentrada nas
ideias de colaboração de classes e paz social (GORENDER, 1998,
p.16).
Neste sentido, o populismo é um dos instrumentos em que a elite
apoiou-se para constituir e manter a ordem burguesa, pelo menos até
quando se sente ameaçada por uma classe operária que nasce com esta
política populista e a cada momento adquire uma maior consciência
de classe. Deste modo: O populismo é um movimento representativo,
fundamentalmente, da concomitância do controle da cúpula do poder
econômico
político
pela burguesia brasileira, sob as transformações trazidas pelo novo
setor da burguesia industrial, com a cooptação, para esse processo,
do proletariado emergente. Constitui uma aliança de classes, frouxa,
mas durável, que perdura do fim do Estado Novo até a crise do
governo Goulart. Um período que se estende de 1945 a 1964. Esse
processo está caracterizado por uma reorganização de alianças
dentro da sociedade brasileira (JAGUARIBE, 1985, p.13).
Confirmando o que foi dito, anteriormente, sobre o populismo,
Dreifuss
(1981) apresenta a candidatura de Jânio Quadros como sendo “a
última tentativa eleitoral civil do grande capital para conseguir
compartilhar o poder de Estado com o bloco populista vigente”.
Quando da reúncia
de Jânio, em agosto de 1961, o vice-presidente, João Goulart,
encontrava-se em visita diplomática à China. Nesse momento da
Guerra Fria, os setores dominantes entraram em pânico, temerosos de
que João Goulart assumisse o poder, porque as forças conservadoras
mostravam o perigo de qualquer aproximação com países comunistas.
João Goulart marcou sua trajetória política. Desde o governo de
Getúlio Vargas, quando foi ministro do trabalho, por sua proximidade
com os setores organizados da sociedade, principalmente os
representantes da classe trabalhadora. Herdeiro político de Vargas
pautou sua vida política na defesa intransigente das conquistas
trabalhistas.
A posição de desconfiança dos setores dominantes da sociedade, em
relação ao governo Goulart, é confirmada por René Dreifuss,
em A Conquista do Estado: João Goulart tornou-se presidente,
contrariamente às expectativas dos empresários multinacionais e
associados, bem como da estrutura militar de direita. Com a ascensão
de João Goulart ao governo, o bloco multinacional associado, que
estava na iminência de perder sua posição econômica privilegiada,
preparou-se para restringir as demandas populares e reprimir os
interesses tradicionais pela imposição de meios extra
políticos.
Os interesses multinacionais e associados começaram a articular um
bloco civil-militar de tendências cesaristas que, no fim, tanto
subverteria a ordem política populista quanto conteria as aspirações
nacional
reformistas
(DREIFUSS, 1981, p. 130).
Esta articulação de um bloco civil-militar, apontada por Dreifuss,
com a finalidade de conservar os privilégios das multinacionais e
associados, rompendo a ordem constitucional não era nenhuma novidade
na política brasileira. A derrubada do governo de João Goulart
representou na verdade a vitória de um grupo político que ao longo
dos governos populistas sempre cogitou a possibilidade de os
militares assumirem o poder, preservando, deste modo, seus
interesses. Tancredo Neves, primeiro-ministro do governo Goulart,
testemunha ocular dos grandes episódios da República desde Vargas
até o fim do regime militar, esclarece a relação do golpe militar
de abril, com outros momentos da história republicana: Eu acho que o
suicídio (do presidente Getúlio Vargas, 25 de agosto de 1954) teve
realmente como consequência a eleição de Juscelino ( Juscelino
Kubitschek de Oliveira, eleito presidente da República em 1955). Mas
o suicídio também adiou 64. Você verifica: as lideranças de 64
são as mesmas de 54, com os mesmos objetivos. 64 foi uma revolução
de direita, uma revolução conservadora, uma revolução nitidamente
pró-americano, feita, inclusive, com a participação deles,
americanos, que já tinham participado em 54. Para mim, este é o
aspecto mais importante do suicídio de Vargas. Você verifica também
que o Jânio, em 61, foi, na verdade um cripto-64. O Jânio teve uma
cobertura enorme de todos os elementos que fizeram 64 (NEVES apud
COUTO, 1999, p.54).
1964:
aconteceu em abril*
(Para
Mailde)
Abril
tempos de repensar
Falar
é necessário
Décadas de uma legalidade interrompida
Dias
sombrios
Golpe
não revolução!
21
anos de obscurantismo
Torturas
Prisões
Desaparecidos
políticos!
(Luciano
Capistrano)
*Livro
de Mailde Pinto Galvão.
(Luciano
Capistrano)
REFERÊNCIAS
COUTO,
Ronaldo Costa. História indiscreta da ditadura e da abertura: Brasil
(1964-1985). Rio de Janeiro: Record, 1999.
DREIFUSS,
René Armand. 1964: a conquista do Estado. Petrópolis: Vozes, 1981.
GORENDER,
Jacob. Combate nas trevas. São Paulo: Ática, 1998.
JAGUARIBE,
Hélio. Sociedade e política: um estudo sobre a atualidade
brasileira. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
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