domingo, 1 de abril de 2018

1964: aconteceu em abril


1964: aconteceu em abril
Luciano Capistrano
Professor: Escola Estadual Myriam Coeli
Historiador: Semurb/ Parque da Cidade Dom Nivaldo Monte

Entre gritos, insanidade
Autoritária
Nas casas dos horrores
Trucidam as
Liberdades
Fez escuro a nação verde-oliva
Ergue-se figuras fascinoras
Ustra e CIA!
(Luciano Capistrano)


               Na madrugada do dia 31 de março de 1964, “tropas do IV Exército partem de Juiz de Fora/MG em direção ao estado da Guanabara”, os ouvintes da Rádio Mayrink Veiga, acordaram com essa notícia. Era a marcha do obscurantismo, dava início, assim, a interrupção do processo democrático brasileiro, 
               31 de março de 1964, é o ato final de um complô articulado por forças militares e civis,  sobre a tutela norte-americana com a finalidade de manter e ampliar os interesses dos EUA no Brasil. Fez-se noite a democracia.
          O início dos anos 1960 no Brasil é caracterizado pela falência do populismo enquanto projeto político que garantia a permanência da burguesia no poder, cujo alicerce está na aparente harmonia entre as classes sociais. Sobre esta função política do populismo o historiador Jacob Gorender afirma: O populismo foi a forma da hegemonia ideológica por meio da qual a burguesia tentou – e obteve em elevado grau – o consenso da classe operária para a construção da nação burguesa. A liderança carismática e sem mediações formalizadas, adequadas a massas de baixo nível de consciência de classe, constituiu a expressão peculiar do populismo. Não sua essência, concentrada nas ideias de colaboração de classes e paz social (GORENDER, 1998, p.16).
            Neste sentido, o populismo é um dos instrumentos em que a elite apoiou-se para constituir e manter a ordem burguesa, pelo menos até quando se sente ameaçada por uma classe operária que nasce com esta política populista e a cada momento adquire uma maior consciência de classe. Deste modo: O populismo é um movimento representativo, fundamentalmente, da concomitância do controle da cúpula do poder econômico político pela burguesia brasileira, sob as transformações trazidas pelo novo setor da burguesia industrial, com a cooptação, para esse processo, do proletariado emergente. Constitui uma aliança de classes, frouxa, mas durável, que perdura do fim do Estado Novo até a crise do governo Goulart. Um período que se estende de 1945 a 1964. Esse processo está caracterizado por uma reorganização de alianças dentro da sociedade brasileira (JAGUARIBE, 1985, p.13).
       Confirmando o que foi dito, anteriormente, sobre o populismo, Dreifuss (1981) apresenta a candidatura de Jânio Quadros como sendo “a última tentativa eleitoral civil do grande capital para conseguir compartilhar o poder de Estado com o bloco populista vigente”. Quando da reúncia de Jânio, em agosto de 1961, o vice-presidente, João Goulart, encontrava-se em visita diplomática à China. Nesse momento da Guerra Fria, os setores dominantes entraram em pânico, temerosos de que João Goulart assumisse o poder, porque as forças conservadoras mostravam o perigo de qualquer aproximação com países comunistas.
       João Goulart marcou sua trajetória política. Desde o governo de Getúlio Vargas, quando foi ministro do trabalho, por sua proximidade com os setores organizados da sociedade, principalmente os representantes da classe trabalhadora. Herdeiro político de Vargas pautou sua vida política na defesa intransigente das conquistas trabalhistas. 
A posição de desconfiança dos setores dominantes da sociedade, em relação ao governo Goulart, é confirmada por René Dreifuss, em A Conquista do Estado: João Goulart tornou-se presidente, contrariamente às expectativas dos empresários multinacionais e associados, bem como da estrutura militar de direita. Com a ascensão de João Goulart ao governo, o bloco multinacional associado, que estava na iminência de perder sua posição econômica privilegiada, preparou-se para restringir as demandas populares e reprimir os interesses tradicionais pela imposição de meios extra políticos. Os interesses multinacionais e associados começaram a articular um bloco civil-militar de tendências cesaristas que, no fim, tanto subverteria a ordem política populista quanto conteria as aspirações nacional reformistas (DREIFUSS, 1981, p. 130).
         Esta articulação de um bloco civil-militar, apontada por Dreifuss, com a finalidade de conservar os privilégios das multinacionais e associados, rompendo a ordem constitucional não era nenhuma novidade na política brasileira. A derrubada do governo de João Goulart representou na verdade a vitória de um grupo político que ao longo dos governos populistas sempre cogitou a possibilidade de os militares assumirem o poder, preservando, deste modo, seus interesses. Tancredo Neves, primeiro-ministro do governo Goulart, testemunha ocular dos grandes episódios da República desde Vargas até o fim do regime militar, esclarece a relação do golpe militar de abril, com outros momentos da história republicana: Eu acho que o suicídio (do presidente Getúlio Vargas, 25 de agosto de 1954) teve realmente como consequência a eleição de Juscelino ( Juscelino Kubitschek de Oliveira, eleito presidente da República em 1955). Mas o suicídio também adiou 64. Você verifica: as lideranças de 64 são as mesmas de 54, com os mesmos objetivos. 64 foi uma revolução de direita, uma revolução conservadora, uma revolução nitidamente pró-americano, feita, inclusive, com a participação deles, americanos, que já tinham participado em 54. Para mim, este é o aspecto mais importante do suicídio de Vargas. Você verifica também que o Jânio, em 61, foi, na verdade um cripto-64. O Jânio teve uma cobertura enorme de todos os elementos que fizeram 64 (NEVES apud COUTO, 1999, p.54).

1964: aconteceu em abril*
(Para Mailde)

Abril tempos de repensar
Falar é necessário
Democracia liberdades em risco.
Décadas de uma legalidade interrompida
Dias sombrios
Golpe não revolução!
21 anos de obscurantismo
Torturas
Prisões
Desaparecidos políticos!
(Luciano Capistrano)
*Livro de Mailde Pinto Galvão.
(Luciano Capistrano)

REFERÊNCIAS

COUTO, Ronaldo Costa. História indiscreta da ditadura e da abertura: Brasil (1964-1985). Rio de Janeiro: Record, 1999.

DREIFUSS, René Armand. 1964: a conquista do Estado. Petrópolis: Vozes, 1981.

GORENDER, Jacob. Combate nas trevas. São Paulo: Ática, 1998.

JAGUARIBE, Hélio. Sociedade e política: um estudo sobre a atualidade brasileira. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.

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