sábado, 6 de outubro de 2018

De Anne Frank á Winston Churchill!



De Anne Frank á Winston Churchill!
Luciano Capistrano
Professor e Historiador

“Vejo a gente numa pequena nuvem, clara e azul, no meio de outras nuvens pesadas e escuras. O nosso lugar ainda é seguro, mas as nuvens estão ficando cada vez mais densas e o círculo que nos separa do perigo tão próximo vai se fechando. Por fim ficamos todos de tal maneira envolvidos na escuridão que, com o desejo desesperado de encontrar uma saída, esbarramos uns contra os outros. Olhamos para baixo onde os homens lutam, olhamos para cima onde há felicidade e paz. Mas estamos isolados por uma massa grossa e impenetrável que nos barra todos os caminhos e nos encerra, como um muro invencível, um muro que nos destruirá quando a hora soar. E eu só posso clamar e suplicar: - Oh, círculo, se abra e nos deixe sair!
Sua Anne.” ( O Diário de Anne Frank, p. 83 - Editora Principis, 29917)

          Início essas “ Impertinentes ou pertinentes divagações”, com um trecho do O Diário de Anne Frank, para trazer a baila umas reflexões sobre os riscos de vivermos em um modelo de sociedade excludente, nazifascista. Anne Frank, seu nome era Annelies Marie Frank, nasceu em 12 de junho de 1929, em Frankfurt, na Alemanha, e morreu em um campo de concentração, meses antes do fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Seu diário, é o relato do infortúnio de viver sobre as ordens de um governo nazista, ficou escondida com sua família durante a ocupação da Holanda. Uma garota de 13 anos, judia, deixou um contundente clamor contra o nazismo.
        É preciso compreender os caminhos sinuosos que levaram milhares de cidadãos de bens a apoiarem líderes nazi-fascistas no “caótico” mundo do entre-guerras. A Itália com Mussolini e a Alemanha com Hitler, caíram no perigoso embalo do canto dos ditos “salvadores da pátria”. Vejamos:


Uma das principais características do Estado Fascista seria, assim, sua associação com a sociedade de massas. Essa sociedade, desencantada com o Estado e a instituições democráticas, que passavam no entre-guerras por séria depressão econômica, humilhada após o desfecho da Primeira Guerra Mundial e carente de lideranças fortes, era o ambiente fértil para a ascensão de regimes salvacionistas que canalizassem as frustrações pessoais e coletivas por meio de uma propaganda bem elaborada. Nesse sentido, muitos estudiosos enfatizam também a importância da propaganda como um dos aspectos fundamentais dos regimes fascistas. (SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2014, p. 142.


         Neste sentido, a crise porque passa a democracia brasileira, se reveste num campo fértil para as ideias salvacionistas. Ao se fazer uma crítica às instituições políticas, uma nuvem de fumaça paira sobre a sociedade civil, chegando ao risco de parte considerável da população apoiar postulantes a cargos eletivos, abertamente defensores da instauração de regimes ditatoriais, como por exemplo, o candidato a Presidente Jair Bolsonaro e o seu vice, ambos, claramentes entusiastas de torturadores como é o caso do, carrasco, Brilhante Ustra. Bolsonaro, por exemplo, chegou a dizer que faria o trabalho não realizado pela ditadura militar/ civil, instalada no Brasil em 1964, “mataria mais de trinta mil, inclusive Fernando Henrique Cardoso”.
        O historiador Eric Hobsbawm, em a Era dos Extremos, traz uma ponderação interessante sobre a crise nos governos liberais:

No fundo, a política liberal era vulnerável porque sua forma de governo característica, a democracia representativa, em geral não era uma maneira convincente de governar Estados, e as condições da Era da Catástrofe raramente asseguraram as condições que a tornavam viável, quanto mais eficaz. (HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 140).

       A crise ética e econômica contribui, se não de forma definitiva, mas, no mínimo, com uma considerável parcela de força para o crescimento do discurso de força autoritária. A história nos ensina os riscos dos momentos de crise social para os legítimos caminhos da democracia. Como nos aconselhou o Primeiro Ministro Britânico, Winston Churchill : “ Ninguém pretende que a democracia seja perfeita ou sem defeito. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos.”






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