Bairro Candelária: algumas considerações
Luciano Capistrano
Professor de História: Escola Estadual Myriam Coeli
Historiador: Semurb / Parque da Cidade Dom Nivaldo Monte
A década de 1970 é caracterizada por uma expansão da habitação. Eram diversos projetos habitacionais que ganhavam formas. O Banco Nacional de Habitação (BNH), e as parceiras locais financiavam empreendimentos imobiliários com o objetivo de atender a uma crescente demanda por moradia. As cidades, principalmente as capitais, viviam as tensões sociais em decorrência da migração em virtude da busca por emprego em centros mais desenvolvidos. Em Natal, este processo de aumento a população também foi verificado. A capital potiguar é, então, palco de ações desenvolvidas pela Companhia de Habitação do Estado e o Instituto de orientação às Cooperativas Habitacionais (INOCOOP), fazendo surgir um novo cenário urbano. A cidade de Câmara Cascudo se expande para além da “corrente. ”
Estádio Presidente Humberto Castelo Branco (Castelão) ,início dos anos de 1970 – Cartão Postal.
O final dos anos de 1960 - ainda na administração do ex Prefeito Agnelo Alves -, já apresenta uma outra Natal, com a inauguração do Estádio de Futebol, o antigo Castelão. Marco na arquitetura da cidade, a nova praça esportiva, aponta a direção do caminho a ser ocupado pela urbanização. O antigo caminho da base área americana, via nascer um novo espaço: inseriam-se cada vez mais antigas granjas, sítios, matas, dunas, lagoas, no perímetro urbano. Como assinalou no Hino, “poema”, de Natal o professor Waldson Pinheiro:
Natal, Cidade Sol
tu representa tanto para mim!
No inicio, Forte dos Reis Magos,
Cidade Alta, Ribeira e Alecrim.
Daí, sempre a crescer –
um cajueiro, galhos a estender,
brotou em Morro Branco e Bom Pastor,
em Candelária, Felipe Camarão;
do morro do Careca
em Ponta Negra, vem rolando até o chão.
Vista da Av. Pres. Prudente de Morais no final dos anos 1970. Fonte: Acervo ‘‘A República’’.
Faz necessário lembrar que, a cidade de Natal vivenciou na década de 1940, um grande impacto com a instalação da base área americana, e toda uma intensa movimentação de atividades relacionada aos esforços de guerra Olhar sobre este fato é fundamental para compreendermos os caminhos delineados na urbanização. Neste sentido é interessante a analise da professora Maria do Livramento Miranda Clementino, ao afirmar ser:
[...] preciso no entanto observar que embora em pequeno número, porem significativo em termos de área, inicia-se no pós guerra, a ocupação de locais distantes do centro da cidade. Para isso, muito contribuem terrenos cercados e ocupados pelas forças armadas brasileiras, que, dadas as suas dimensões oneram a implantação da infraestrutura e serviços urbanos na cidade, criam enormes vazios urbanos e impõem a característica de cidade horizontal que Natal apresenta.
A cidade de Natal, tem de certo modo, como afirmou a professora Maria do Livramento, sua expansão urbana delineada nas rotas, digamos assim, das instalações militares. Ao olhar exemplos como o do conjunto habitacional Neópolis, tudo fica bem nítido: no fim da cidade, nas terras longínquas, como se dizia á época, foi construído esta unidade habitacional.
Neste contexto nasce Candelária, sobre as brancas dunas, numa Natal que olhava o seu caminhar em direção a Parnamirim, o conhecido Trampolim da Vitória. Esse movimento de ocupação urbana, já tinha um marco inicial, o Conjunto Neópolis, entregue a população em 1970, seu empreendimento representou uma ocupação de terras “distantes”, Candelária, então, tem uma concepção que segue a mesma lógica, ocupar, “espraiar” a cidade e deste modo os “espaços”, vazios aos poucos eram ocupados por novos empreendimentos comerciais, resultado das demandas advindas dos conjuntos habitacionais.
Em 1976, quando Candelária foi inaugurada, durante o governo de Tarcísio Maia, os primeiros moradores, enfrentaram diversos desafios, principalmente referentes ao acesso. A avenida Presidente Prudente de Morais, por exemplo, foi inaugurada em 1979. Nestes primeiros anos de morada nova, não era fácil vencer o “areal” e a “mata” .
Antigos moradores relatam a felicidade de receberem a chave de suas novas casas, como percebermos em algumas correspondências realizadas neste início do conjunto. A dona de casa Aline de Farias Capistrano, uma das primeiras moradoras, contemplada com uma casa na rua Bernardo Dória, na época uma rua vizinha a um “matagal”, onde tempos depois foi erguido o Bairro Latino, próximo a fabrica T Barreto, deixa claro a felicidade de ter uma nova morada: “ Betinho [...] está animado para ir morar em Candelária [...] vou receber a chave da casa de Candelária no dia 27 deste [...] no dia 30 que será sábado nos mudamos. ” A Candelária dos tempos de Dona Aline mudou, transformou-se, seguiu o trilho do progresso, como bem assinalou o professor Pedro de Lima:
Verifica-se uma tendência para a constituição de um espaço metropolitano em torno de Natal; o litoral, ao norte e ao sul da cidade, passa por um intenso processo de urbanização, relacionada predominantemente com o turismo, mas também com a criação de novos espaços residenciais das classes média; observa-se a proliferação de centros comerciais e empresariais, shoppings centers e condomínios residenciais, além de hotéis e outros equipamentos de suporte a indústria do turismo.
O bairro Candelária foi criado, oficialmente, através da Lei nº 4.330 promulgada em 5 de abril de 1993. Bairro que nasceu conjunto, empreendimento realizado pelo Instituto de Orientação às Cooperativas Habitacionais (INOCOOP/RN). Entregue em 1975, não foi nada fácil os primeiros tempos. Erguido no alto, sobre dunas, Candelária sofria com a falta de transporte coletivo, e parte de seus moradores tinham de enfrentar o areal, da hoje avenida Prudente de Morais, via de acesso ao conjunto.
O conjunto cresceu e virou bairro. Quanto a origem de seu topônimo, a ex-diretora do INOCOOP, Maria do Rosário, segundo Itamar de Souza em “ Nova História de Natal, estar na adaptação do nome Candelário, estação de sky, visitada por ela quando esteve na Espanha.
Av. Pres. Prudente de Morais (final dos anos 1970), no bairro Candelária.
Fonte: Acervo A República.
O bairro Candelária, longe de ser aquelas “desérticas” dunas do passado, guarda a história da expansão urbana de Natal. Candelária tem limites com Lagoa Nova, Capim Macio, Neópolis, Cidade da Esperança, Cidade Nova e Pitimbu, em seus limites encontra-se parte do Parque da Cidade Dom Nivaldo Monte, assim, o bairro incorpora papel importante na preservação da fauna, flora, e, o aquífero barreiras, fonte fundamental para a manutenção do abastecimento de água da cidade de Natal, a cidade das brancas dunas. Como assinalou a professora Marise Duarte, “... a área dunar existente nos bairros de Pitimbu, Candelária e Cidade Nova pode ser considerada uma das mais importantes do ponto de vista da proteção ambiental no município de Natal”.
Enfim, Candelária e o Parque da Cidade Dom Nivaldo Monte, representam momentos diferentes de uma cidade chamada Natal.
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