Quando
a saudade dói... escrevo!
Luciano
Capistrano
Professor:
Escola Estadual Myriam Coeli
Historiador:
Parque da Cidade
Antes de ir ...
Antes de ir me abrace
Antes de ir me fale
Antes de ir me beije
Antes de ir me olhe
Antes de ir me ame
Antes de ir me afague
Antes de ir me sinta
Antes de ir ...
Saudades!!
(Luciano Capistrano)
Encontrar amigas e
amigos, rever lugares, sempre é muito bom, nos provoca “furacões” de emoções.
No dia 11/01/2017, visitei meu “conjunto”, o Santa Catarina, lugar onde vivi
grande parte de minha adolescência e início da minha vida adulta. Não foi uma
visita das mais alegres, fui participar da missa de sétimo dia de um amigo,
“seu” João Dantas.
Amigo
velho, confesso, ao entrar na Igreja de Santa Maria Mãe, um turbilhão de
imagens, sensações, invadiram meu ser. As imagens das estações do calvário de
Jesus Cristo, pintadas, ilustrando as paredes laterais da igreja, os bancos, as
imagens no altar, os cânticos, os “rostos”, alguns estranhos, outros
conhecidos, me fizeram viajar no tempo. Afinal, fazem 22 anos que deixei o
conjunto Santa Catarina.
Uma
saída não por livre arbítrio, explico:
Em
1995, perdi meu irmão mais novo, João Ricardo tinha apenas 17 anos, para a
violência, um bandido, transvestido de policial, ceifou sua vida. Naquela época,
talvez por não ser, ainda, pai, não compreendi o porquê dos meus pais não
aceitarem continuar morando naquele conjunto, naquela rua Hidrolândia. Hoje,
pai de dois filhos, dois “Joãos”, compreendo a atitude de papai e mamãe. A
morte de um filho quebra a ordem natural, os filhos devem enterrar seu pais.
Fato,
é, que a mudança se consumou, até hoje meus pais, e, mais uma confissão, eu
também, temos dificuldades em ir ao conjunto Santa Catarina. A saudade dói.
Lá
vivi com minha família dias felizes, agora, vivi a pior noite de todas.
Lembro-me
de Bruno, menino da Hidrolândia, a gritar no portão de casa, Lula, Lula...,
assim os amigos do Catarina me conheciam, “atiraram em João Ricardo, ele está
caído em frente a mercearia de Augusto”.
Em mim, e, em toda a
nossa casa, caiu o mundo, a alegria daquela noite de 05 de novembro de 1995,
deu lugar a uma “noite traiçoeira”. Corri, corri... ao chegar, já encontrei meu
irmão caído, eu e amigos, o colocamos em um carro, rapidamente nos dirigimos ao
hospital Santa Catarina.
Horas
depois, descubro, já no hospital, que meu irmão morrera no local, chegara
naquela unidade de pronto atendimento sem vida. Encerrou um ciclo na vida de
minha família, meus pais, meus irmãos e eu passamos a conviver com a dor da
perda, a dor da saudade.
Este
negócio de saudades é danado, às vezes, ao escutar uma música ou sentir o
cheiro de uma fragrância, vem a imagem dele, meu irmão João Ricardo.
É,
amigo velho, não é fácil perder um ente querido para essa guerra insana, essa
violência a dilacerar os lares de milhares de famílias tem de ter um basta.
Não, não foi acidente, não existe “bala perdida”, existe assassinato, e, isso,
não é algo natural.
Ao
fazer este desabafo emocional, desejo provocar o diálogo, faz necessário
pensarmos seriamente sobre o estado de violência vivido por nossa sociedade.
Por trás dos índices das mortes por armas letais existem famílias. Lembremos da
música de Padre Zezinho: Que nenhuma família acabe assim de repente...
Luto
(às famílias vítimas da violência)
Corpos,
Dores,
Dor,
Fatídico,
Sinistro,
Vidas interrompidas.
Família,
Partida,
Luto,
Dor,
Dores,
País da ingenuidade perdida.
(Luciano Capistrano)
Nestes
22 anos, muita coisa mudou, além de ter ficado mais calvo, com os poucos
cabelos, sobreviventes, brancos, a violência aumentou.
Finalizo
- não querendo ser pessimista, olhando a imagem de Jesus Cristo em seu
calvário, tão bem descrito, nos belos traços feitos na parede da Igreja de
Santa Maria Mãe -, com a esperança cristã de uma vida nova, então, acreditemos
na possibilidade de construção de uma sociedade menos violenta, uma sociedade
mais pacifica.
Esperançar
Nestes dias ouço vozes
Dizem: ESPERANÇAR
Sim, entre, dias tristes e alegres,
Esperançar é necessário
Sem esquecer o prumo
E nem o rumo da vida
Nessa correnteza
Das águas calmas e agitadas
Esperançar é preciso!!
(Luciano Capistrano)
Obs: quando a saudade dói, escrevo!
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