sábado, 8 de abril de 2017

Quando a saudade dói... escrevo!

Quando a saudade dói... escrevo!
Luciano Capistrano
Professor: Escola Estadual Myriam Coeli
Historiador: Parque da Cidade

Antes de ir ...

Antes de ir me abrace
Antes de ir me fale
Antes de ir me beije
Antes de ir me olhe
Antes de ir me ame
Antes de ir me afague
Antes de ir me sinta
Antes de ir ...
Saudades!!
(Luciano Capistrano)

Encontrar amigas e amigos, rever lugares, sempre é muito bom, nos provoca “furacões” de emoções. No dia 11/01/2017, visitei meu “conjunto”, o Santa Catarina, lugar onde vivi grande parte de minha adolescência e início da minha vida adulta. Não foi uma visita das mais alegres, fui participar da missa de sétimo dia de um amigo, “seu” João Dantas.
            Amigo velho, confesso, ao entrar na Igreja de Santa Maria Mãe, um turbilhão de imagens, sensações, invadiram meu ser. As imagens das estações do calvário de Jesus Cristo, pintadas, ilustrando as paredes laterais da igreja, os bancos, as imagens no altar, os cânticos, os “rostos”, alguns estranhos, outros conhecidos, me fizeram viajar no tempo. Afinal, fazem 22 anos que deixei o conjunto Santa Catarina.
            Uma saída não por livre arbítrio, explico:
            Em 1995, perdi meu irmão mais novo, João Ricardo tinha apenas 17 anos, para a violência, um bandido, transvestido de policial, ceifou sua vida. Naquela época, talvez por não ser, ainda, pai, não compreendi o porquê dos meus pais não aceitarem continuar morando naquele conjunto, naquela rua Hidrolândia. Hoje, pai de dois filhos, dois “Joãos”, compreendo a atitude de papai e mamãe. A morte de um filho quebra a ordem natural, os filhos devem enterrar seu pais.
            Fato, é, que a mudança se consumou, até hoje meus pais, e, mais uma confissão, eu também, temos dificuldades em ir ao conjunto Santa Catarina. A saudade dói.
            Lá vivi com minha família dias felizes, agora, vivi a pior noite de todas.
            Lembro-me de Bruno, menino da Hidrolândia, a gritar no portão de casa, Lula, Lula..., assim os amigos do Catarina me conheciam, “atiraram em João Ricardo, ele está caído em frente a mercearia de Augusto”.
Em mim, e, em toda a nossa casa, caiu o mundo, a alegria daquela noite de 05 de novembro de 1995, deu lugar a uma “noite traiçoeira”. Corri, corri... ao chegar, já encontrei meu irmão caído, eu e amigos, o colocamos em um carro, rapidamente nos dirigimos ao hospital Santa Catarina.
            Horas depois, descubro, já no hospital, que meu irmão morrera no local, chegara naquela unidade de pronto atendimento sem vida. Encerrou um ciclo na vida de minha família, meus pais, meus irmãos e eu passamos a conviver com a dor da perda, a dor da saudade.
            Este negócio de saudades é danado, às vezes, ao escutar uma música ou sentir o cheiro de uma fragrância, vem a imagem dele, meu irmão João Ricardo.
            É, amigo velho, não é fácil perder um ente querido para essa guerra insana, essa violência a dilacerar os lares de milhares de famílias tem de ter um basta. Não, não foi acidente, não existe “bala perdida”, existe assassinato, e, isso, não é algo natural.
            Ao fazer este desabafo emocional, desejo provocar o diálogo, faz necessário pensarmos seriamente sobre o estado de violência vivido por nossa sociedade. Por trás dos índices das mortes por armas letais existem famílias. Lembremos da música de Padre Zezinho: Que nenhuma família acabe assim de repente...

Luto
(às famílias vítimas da violência)

Corpos,
Dores,
Dor,
Fatídico,
Sinistro,
Vidas interrompidas.

Família,
Partida,
Luto,
Dor,
Dores,
País da ingenuidade perdida.
(Luciano Capistrano)

            Nestes 22 anos, muita coisa mudou, além de ter ficado mais calvo, com os poucos cabelos, sobreviventes, brancos, a violência aumentou.
            Finalizo - não querendo ser pessimista, olhando a imagem de Jesus Cristo em seu calvário, tão bem descrito, nos belos traços feitos na parede da Igreja de Santa Maria Mãe -, com a esperança cristã de uma vida nova, então, acreditemos na possibilidade de construção de uma sociedade menos violenta, uma sociedade mais pacifica.

Esperançar

Nestes dias ouço vozes
Dizem: ESPERANÇAR
Sim, entre, dias tristes e alegres,
Esperançar é necessário
Sem esquecer o prumo
E nem o rumo da vida
Nessa correnteza
Das águas calmas e agitadas
Esperançar é preciso!!
(Luciano Capistrano)
Obs: quando a saudade dói, escrevo!




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