Rio Grande Sem Sorte:
Uma reflexão.
Luciano Capistrano
Professor: Escola Estadual Myriam Coeli
Historiador: Parque da Cidade
RIOGRANDE
RIO GRANDE DA MORTE
RIO GRANDE SEM SORTE
RIO GRANDE SEM FORTE
RIO GRANDE DO NORTE
RIO PEQUENO DO NORTE
RIO FINITO DO CORTE
RIO SECO DE SORTE
RIO GRANDE DO NORTE
RIO SEM CAIS SEM PORTO
RIO VOCÊ JÁ FOI MORTO
RIO DE LEITO TORTO
RIO CHORANDO DE FOME
RIO TRISTE SEM NOME
RIO CANSADO QUE SOME
(Bosco Lopes)
Nestas primeiras semanas de 2017, nosso lindo Rio Grande do Norte, foi "surpreendido" com o conflito das facções criminosas, Sindicato do Crime do RN x Primeiro Comando da Capital, opa, surpreendido? Realmente, o que, me surpreende é a falta de planejamento dos órgãos de segurança do estado para enfrentar uma crise a muito tempo anunciada.
As dunas de Alcaçuz não merecem o veredito de culpadas, aquele paraíso, de belas paisagens naturais, apenas, foi o lugar escolhido para ser edificado um presidio de segurança máxima. Um projeto, no mínimo, equivocado no seu nascedouro e execução. Inaugurada em 1998, quando era governador do estado, o hoje senador, Garibaldi Alves Filho, transformou o pacato município de Nísia Floresta, famoso por lagoas e praias, no município da Penitenciária de Alcaçuz.
Um prédio, como diria o "Zé Ninguém", verdadeiro queijo suíço. Ao longo do tempo, assistimos diversas fugas, são vários os tunes construídos, segundo relatos, por "mãos", cava-se sem necessidade de nenhum equipamento. Uma penitenciária sem controle, corredores, pavilhões, sobre as ordens dos "chefões" das facções. O que fazer?
Difícil, um problema muito complexo!
Como disse o poeta Bosco Lopes: Rio Grande da Morte / Rio Grande Sem Sorte!
Na verdade, amigo velho, o Brasil a muito tempo perdeu o prumo e o rumo, vivemos uma onda de violência a afligir os mais distantes recantos deste país, lembro das calmas cidades do interior, hoje lugares de medo, não ficamos, mas nas varandas das casas de praias, as noites bucólicas nos "sítios", transformaram-se em noites de medo. Perdemos a tranquilidade do "campo", da "praia", da "conversa na calçada", os velhos "cantões", deram lugar a casas gradeadas ou condomínios tipo "presídios". Vivemos em cidades sitiadas, parece que estamos em um estado sem lei!
Estado Sem Lei
Mortes nas esquinas
Medo gerador de ódio
Crias
Humanidade desumana.
Em tempos violentos
Fazer "justiça" com as próprias mãos
Homens "bons"
De almas impuras
Pura
Insanidade coletiva
Virais nas redes sociais
Show midiático
Nus
Fraternidade cristã desnuda.
(Luciano Capistrano)
As cenas de horrores vistas no presídio de Alcaçuz e Caicó, no Rio Grande do Norte, são apenas pontas do iceberg, é amigo velho, vivemos os horrores de uma guerra diária, todos os dias recebemos notícias de vítimas da violência, números assustadores. Famílias e mais famílias vítimas de assaltos, e, até com perdas de vidas. O Estado, a continuar nessa "pegada", vai perder a batalha.
Em entrevista a Tribuna do Norte, o coordenador do Observatório da Violência do Rio Grande do Norte, Ivênio Hermes, apresentou um dado muito preocupante, "nos primeiros 19 dias de 2017, houve aumento de 43,8% nos homicídios". Ao pautar essa informação em dados fornecidos pelos diversos órgãos responsáveis pela segurança e saúde em nosso estado o especialista põe o dedo na ferida. A questão da violência extrapola os muros do sistema carcerário.
Sobre o descontrole do sistema carcerário potiguar, diz o especialista, Ivênio Hermes, a Tribuna do Norte:
"Tivemos uma rebelião em Alcaçuz onde um pavilhão foi destruído e o Estado não investiu na tomada do controle, deixando os criminosos que ali viviam ditassem as regras de seu aprisionamento. [...] durante a instalação de bloqueadores de celular, o crime organizado deu mostras de seu poder submetendo a sociedade a ataques com queima de ônibus [...]
Ivênio Hermes, sentencia ainda, o governo não realizou um trabalho integrado de inteligência do Estado no combate à criminalidade, capaz de desmantelar os braços do crime organizado que liga as facções presas nos presídios com o mundo fora das "grades". Resultado, hoje, o sistema de segurança se ver numa ação de gerenciador de crises. É, preciso avançar na execução de políticas de segurança preventiva.
Amigo velho, é preciso avançar, ir além.
O Estado tem de ocupar a cidade, não basta tanques de guerra nas ruas, faz necessário, iluminação pública, quadras de esportes, praças, escolas, postos de saúde, habitação, saneamento, enfim, uma série de ações que construa uma verdadeira cidadania. Lembremos do alerta de Darcy Ribeiro, se não investirmos em escolas, não sobrará recursos para tantos e tantos presídios.
Cidades sitiadas
Cidades sitiadas o perigo anda ao lado,
viver com medo de ir e vir,
no caminho da padaria uma morte anunciada,
pedras, cracks, tráfico, sistema em rota de colisão.
Lugares de medo, uma simples caminhada
encontra um algoz, uma bala, um corpo
no asfalto, vidas interrompidas.
Cidades sitiadas, erguem se muralhas
cercas elétricas, falam nas esquinas
bandido bom é bandido morto,
se alvoroçam grupos de extermínio,
ilusões de dores que sangram vidas,
cidadãos encurralados procurando saídas.
50. 000 mortes violentas, país descendo a vala,
palavras sem poesias, cruas, como cruel é a vida,
reverter os números de tanta brutalidade,
justiça eficiente, ágil; polícia inteligente, equipada.
Cidades sitiadas, cidadãos indignados gritam:
- Paz, paz, queremos paz, queremos
construir uma cultura de paz, utopia?
(Luciano Capistrano)
Construir uma cultura de paz é possível sim, basta uma vontade política dos agentes públicos e de toda a sociedade, ou, viveremos com nossas cidades ocupadas pelo tráfico.
Que bom seria se as cidades respirassem culturas, nos bairros, nas praças, nas esquinas, esporte e cultura de mãos dadas com educação de qualidade, assim, estaríamos construindo um mundo novo para nossos filhos e netos. Agora o contrário, a continuar neste Estado sem lei, estaremos fadados ao fracasso enquanto civilização, viveremos na barbárie.
Finalizo, me solidarizando aos agentes penitenciários e aos policiais militares e civis, homens e mulheres destemidos que combatem na linha de frente este estado paralelo das facções criminosas. Amigo velho, já trabalhei como agente educacional na Fundac, com adolescentes em conflitos com a lei, e, posso lhe garantir, depois de um plantão saímos "consumidos" emocionalmente e fisicamente, fico aqui a imaginar o policial ou agente penitenciário, que depois de um tenso plantão, ainda, fazem "bicos" para terem uma vida mais digna. E, ainda, existe um tal de auxílio moradia para juízes, pobres juízes, Brasil mostra tua cara!!!
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