sexta-feira, 1 de março de 2019

O homicídio tem cor


O homicídio tem cor
Luciano Capistrano
Professor e Historiador

"O réu não possui o estereótipo padrão de bandido, possui pele, olhos e cabelos claros, não estando sujeito a ser facilmente confundido". (Juíza Lissandra Reis Ceccon)

            A narrativa de uma democracia racial é muito frágil, quando nos deparamos com o cotidiano da sociedade brasileira, a realidade é outra, ainda guardamos “estereótipos” construídos ao longo do tempo, frutos de uma sociedade erguida nas dores da “diáspora negra”. Aqui, no Brasil, usando as palavras de Darcy Ribeiro, o português, colonizador, “criou uma engrenagem de moer gente”. Sentença certeira, o autor do “Povo Brasileiro”, foi muito preciso nessa sua afirmação, e, hoje constatamos o grande desafio, ainda posto, diante da sociedade brasileira, de varrer de uma vez por todas, as práticas preconceituosas, tão, infelizmente, arraigada em nosso país.
            A juíza Lissandra Reis, ao proferir em sua sentença a crença em “estereótipos” de criminosos, juntou-se, infelizmente, a tantas outras vozes que teimam em manter a narrativa da exclusão racial, lembrando as velhas teorias do médico/psiquiatra Cesare Lombroso, e das teorias eugênicas, tão nefastas para a sociedade humana, pois, propõem a superioridade das “raças”. Este tipo de visão, sabemos onde nos levou, aos “crematórios” nazistas.
            A sociedade brasileira tem de dizer em alto e bom tom: racistas, não passarão!


            Não, não é natural um gerente de um banco, a Caixa Econômica, diante de um homem, negro, dizer: “... não negociaria com esse tipo de gente...". O empresário Crispim Terral, foi humilhado, pelo único fato de se dirigir ao gerente e reclamar da demora, foram 4 horas esperando ser atendido, para completar o drama vivido, a sua filha de 15 anos o acompanhava neste infortúnio, inclusive presenciou o momento em que os policiais, acionados pelo gerente do banco imobilizaram  Crispim com um ‘mata-leão”.
            Ao olhar o Mapa da Violência, os dados nos inquieta, em 2016, por exemplo, a taxa de homicídios de negros foi duas vezes e meia superior à de não negros. Uma constatação provocadora, quando relacionada aos casos de preconceitos, como os descritos acima, meu caro leitor/leitora, não me resta duvidas: os números de homicídios têm cor. Ser jovem e negro é corre um risco de ser assassinado igual ao cidadão de El Salvador, um dos países mais violentos do mundo, onde a taxa de homicídio alcança 60 mortos por 100.000 habitantes.
            A poucos dias as redes sociais e suas uteis ou inúteis polemicas, foi “sacudida” com a presença de Maju Coutinho, na bancada do Jornal Nacional, de um lado defensores do pioneirismo, mulher negra em papel de destaque na televisão, e do outro lado, críticas algumas abertas outras veladas, contrarias ao pioneirismo deste momento. Este episódio apenas reforça a necessidade de termos mais mulheres e homens negros, desempenhando papel relevante, possibilitando uma visibilidade, antes negada, onde ao negro era apenas permitido o lugar de serviçal, as novelas são exemplos dessa “barreira” imposta aos de cor negra, basta uma pesquisa rápida na história da televisão brasileira para confirma essa situação.
            Enfim, façamos de nossas inquietações, sempre, um diálogo democrático.

A esperança se vestiu de cinza.

  A esperança se vestiu de cinza.               Aqui faço um recorte de algumas leituras que de alguma forma dialogam sobre os efeitos noc...