A
esperança se vestiu de cinza.
Querida
Kitty:
Não posso fazer coisa nenhuma sem pensar naquela gente que partiu. Se rio despreocupadamente, me acho injusta por estar alegre. Mas vou chorar todo o dia? Não, não posso[...] Mas agora preocupa-me problemas sérios. Reconheci, por exemplo, isto, o papai, embora seja tão querido, não pode substituir todo o meu mundo de outrora.( O Diário de Anne Frank).
As
guerras se alimentam do imaginário nacionalista, sempre foi assim, são em nome
dos interesses ditos nacionais que se mobilizam soldados e o fazem marchar para
o cenário de atrocidades. Como cantou os legionários: “Existe alguém que está
contando com você / Pra lutar em seu lugar já que nessa guerra /Não é ele quem
vai morrer.” Neste sentido penso ser a guerra a derrota da política, erro esse,
fincado nas narrativas embaladas por um discurso ultranacionalista que sempre “cria”
inimigos imaginados para justificar a pais e mães, que receber seus filhos em
um caixão com abandeira do seu país ao som do hino nacional é algo a se ter
orgulho.
Enquanto
os humanos souberem como enriquecer urânio e plutônio, sua sobrevivência
depende de saberem dar preferência à prevenção de uma guerra nuclear em
detrimento dos interesses de qualquer nação em particular. Nacionalistas
fervorosos que gritam “Nosso país em primeiro lugar!” deveriam se perguntar se
seu país é capaz de, sozinho, sem um robusto sistema de cooperação
internacional, proteger o mundo – ou a si mesmo – da destruição nuclear.
(HARARI, Yuval Noah. 21 lições para o século 21. São Paulo: Companhia das
Letras, 2019, p. 150).
Finalizo
lembrando o 28 de abril de 1986 quando uma grande explosão ocorreu na Usina
Nuclear de Tchernóbio, na Ucrânia, sob um regime avesso as liberdades de
informação, este desastre transformou-se em um dos maiores já registrados em
uma usina nuclear. A negativa oficial das autoridades sobre a verdade dos fatos
provocou muito mais vítimas.
Nessa época, a imagem que eu tinha da central nuclear era totalmente idílica. N escola e no instituto nos ensinavam que eram fantásticas ‘fabricas que produziam energia tirada do nada’, onde trabalhavam pessoas de jalecos brancos eu apertavam botões. [...] Tchernóbil explodiu contra o fundo de um total despreparo da consciência e absoluta fé na técnica. Não tínhamos nenhuma informação. Havia montanhas de papéis com o carimbo ‘ultrassecreto’: ‘Declara-se que são secretos os dados do acidente’; Declara-se que são secretos os resultados de tratamentos médicos’; Declara-se que são secretos os índices de afecção radiativa do pessoal que interveio na liquidação’. (ALEKSIÉVITCH, Svetlana. Vozes de Tchernóbil. São Paulo: Companhia das Letra, 2019, p.257).
Foto: Luciano Capistrano