quinta-feira, 4 de maio de 2017

Qual é a cidade que queremos?
Qual é a Política Municipal de Preservação de nossa memória? 
Luciano Capistrano
Professor da Escola Estadual Myriam Coeli
Historiador do Parque da Cidade

Memórias:
preservadas/esquecidas

Abandono de memórias esquecidas
Desejo de restaurar histórias da urbe inexistente
Cidade respirando identidades mortas.
Paisagens silenciosas dizem muito de 
Trajetórias de “gentes”, aflições, conflitos de “eus”,
Marcas construídas por gerações inteiras,
Erguidas, demolidas, ao longo do tempo.
Preservar significados cheios de testemunhos
Ver o cotidiano ser construído nas esquinas
Entre alegrias, tristezas, construções oportunas/oportunistas
Erguem muros de exclusões
Em vias contrarias nascem utopias
Erguem pontes de inclusão,
Caminha a urbe deixando pegadas
Preservadas ou esquecidas!!
(Luciano Capistrano)

        Em minhas andanças pelos sebos da cidade, encontrei com meu amigo Lisboa, do sebo Lisboa, localizado no mercado de Petrópolis, um “GUIA DA CIDADE DO NATAL”, uma edição de 1958/1959, organizada por J. A. Negromonte e Etelino Vera Cruz. Uma boa surpresa, sempre é bom, entre as pilhas de livros, poeiras, e ácaros, nos depararmos com estes achados.
Neste Guia da Cidade do Natal, duas informações me chamaram atenção, pois, me fez lembrar dos nossos descasos com os vestígios de nossa memória. A publicação indica a existência de algumas placas comemorativas de personagens e feitos de nosso passado. Uma das informações sobre as placas traz a seguinte citação:

“Daqui partiram a 14 de janeiro em ‘RAID’ pedestre, Natal – Rio – São Paulo, os escoteiros andantes, J. A. Pessoa, Humberto L. da Câmara, Henrique D. Borges, Agnaldo Vasconcelos e Antonio G. da Silva. Homenagem do Centro Operário Natalense, pelos associados do Rio Grande do Norte. 2/8 Rio 1923 – 2/9 São Paulo”.

Os escoteiros andantes, hoje, nomes de ruas, representam um grande feito realizado na década de 1920, foram 8 meses de uma jornada por estradas, matas, territórios ainda a ser desbravados. Vale lembrar, em uma época onde não havia o auxílio do GPS, era preciso conhecer as técnicas de localização, “ler o céu”, as estrelas e, assim, os andantes chegaram a São Paulo. Importante registro do movimento escoteiro, próximo anos celebra-se o centenário escotismo em solo Potiguar.
Infelizmente a placa, antes exposta na avenida Rio Branco, em uma loja de eletrodomésticos, numa edificação onde funcionou o Natal Clube, esquina com a Praça Kennedy, desapareceu, desejo que esteja salva em algum deposito público ou privado e volta a ser colocada num lugar público para conhecimento de todos deste grande feito.
Outra placa, diz o Guia da Cidade do Natal:

 “Nesta casa faleceu a poetisa AUTA DE SOUZA, em 7/2/1901”. A placa não existe mais, a casa cedeu seu lugar a um estacionamento, enfim, memórias ... apenas memórias.

Amigo velho, gosto de andar por sebos, o universo dos livros empoeirados me fascina, herdei este vicio, bom vicio, de papai, bem, trago este relato, para refletirmos sobre nossa política de preservação da memória, a urbe avança, o tempo não para, já cantava Cazuza, então, faz necessário termos uma política efetiva de preservação de nossos espaços de memórias. 
O exemplo das duas placas, são apenas ilustrativos da ausência de uma ação eficaz do Poder público e da sociedade na defesa do nosso patrimônio histórico, não basta as Leis de Preservação, é preciso ir além, com uma ação de educação patrimonial, o fortalecimento dos órgãos responsáveis em desenvolver políticas preservacionistas, como também, o fortalecimento da fiscalização e analises de projetos que impliquem nas áreas de interesses históricos.
Em Natal existem os seguintes órgãos: o IPHAN, a Fundação José Augusto, a FUNCART e a Semurb, este último, na reforma administrativa do município, teve o Setor de Patrimônio Histórico, extinto, na minha opinião um equívoco.
Em referência ao Patrimônio Histórico, nestes tempos em que se fala em desenvolvimento econômico, com a possível derrubada do Teatro Sandoval Wanderley para em seu lugar ser erguido um Centro Comercial, precisamos dialogar com os membros da Câmara Municipal e do Palácio Felipe Camarão sobre um Plano Municipal de Preservação do nosso Patrimônio, antes que virem pó, e, sejam apenas memórias! Fica, assim, a questão: 
Qual é a cidade que queremos? Qual é a Política Municipal de Preservação de nossa memória?
Foto: Lucileide Góes - 03/11/2015 - Circuito Histórico sobre Natal em 1935

Foto: Dagmar/Ecotur -  03/11/2015 - Circuito Histórico Sobre Natal em 1935

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A esperança se vestiu de cinza.

  A esperança se vestiu de cinza.               Aqui faço um recorte de algumas leituras que de alguma forma dialogam sobre os efeitos noc...