domingo, 11 de março de 2018

Fraternidade e superação da violência, Em Cristo somos todos irmãos (Mt 23,8): Uma reflexão sobre a Campanha da Fraternidade 2018


Fraternidade e superação da violência, Em Cristo somos todos irmãos (Mt 23,8):
Uma reflexão sobre a Campanha da Fraternidade 2018.
Luciano Capistrano
Professor: Escola Estadual Myriam Coeli
Historiador: Parque da Cidade

              A Igreja Católica todos os anos no período da Quaresma, realiza a CAMPANHA DA FRATERNIDADE, nascida em Natal na década de 1960, sobre a coordenação de Dom Eugênio de Araújo Sales. Natal, provinciana, inaugura um grande projeto de evangelização da Igreja Católica, no início o apoio efetivo das “Cáritas Brasileiras”, em uma ação com objetivos de intervir nas atividades sociais das paróquias, além de arrecadar fundos para os projetos sociais, teve desde a origem a finalidade de divulgar o evangelho nas diversas comunidades do Rio Grande do Norte, logo o ideal da Campanha ganhou outros estados nordestinos, para tanto contou com a ajuda financeiras de bispos norte-americanos. Abro, aqui, um parêntese para lembrar meu amigo velho, vivíamos o período da chamada “Guerra Fria”, mundo polarizado entre EUA e a antiga União Soviética, neste sentido a Igreja de certo modo concorre com os sindicatos rurais nas áreas de influência do campo.
         Claro que para além das questões políticas ideológicas, floresceu dentro do clero nordestino e se espalhou por todo o território brasileiro, o desejo de fazer do evangelho algo “vivo”, neste sentido a Campanha da Fraternidade ganha as diversas arquidioceses e no dia 26 de dezembro de 1963, sob os ventos soprados do Concilio Vaticano II, é lançado a nível nacional a Campanha da Fraternidade para se efetiva na Quaresma de 1964, da cidade provinciana para o Brasil. Desde de 1970 que a abertura da Campanha da Fraternidade recebe uma mensagem especial do Papa, assim, o movimento Natal da década de 1960, transcende as fronteiras regionais e se transforma num dos mais significativos momentos da Igreja Católica, agora sob as diretrizes da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
      Nestes anos a Campanha tem como tom as questões sociais, fazendo da evangelização um movimento de libertação/reflexão das condições vividas por todos os segmentos sociais, sempre com temáticas instigantes/provocadoras a partir das questões sociais.
       “Fraternidade e superação da violência, tendo como lema Em Cristo somos todos irmãos (Mt 23,8)”. Este é o lema da Campanha da Fraternidade – 2018, importante e inquietante temática, ao trazer para as paróquias e as diversas comunidades cristãs a proposta de dialogar e refletir sobre a violência faz-se, deste modo, uma contribuição para superar tão grave chaga da sociedade brasileira.
       Os números assustam, conforme o Atlas da Violência 2017, a partir dos dados de homicídios ocorridos no Brasil, entre 2005 e 2015, registrados no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, em 2015 alcançamos a triste marca dos 59.080 homicídios.
        Como pensar em paz diante de um triste dado estatístico? 59.080, este foi o número de mortes violentas acontecidas no Brasil em 2015. Uma estatística que traduz uma sociedade violenta e violentada. Vivemos uma silenciosa guerra, silenciosa porque muitos de nós não enxergamos o risco em nossos lares, vivemos a ilusão de quem diz: “aconteceu com o vizinho, que triste.” Meu caro amigo, minha querida amiga, leitores, ninguém está a salvo neste estado de guerra.

Luto
(às famílias vítimas da violência)

Corpos,
Dores,
Dor,
Fatídico,
Sinistro,
Vidas interrompidas.

Família,
Partida,
Luto,
Dor,
Dores,
País da ingenuidade perdida.
(Luciano Capistrano)

          Acredito ser fundamental caminhar em duas vias, o combate efetivo, repressivo, para desbaratar as ações das quadrilhas, principalmente as organizações criminosas ligadas ao tráfico de drogas. Para além das ações repressivas, tem de ser ocupadas as ruas e praças dos diversos bairros com projetos culturais, esportivos, projetos de inclusão de crianças e jovens, numa rede de proteção contra a criminalidade. Não temos como esperar mais, é urgente uma ação por uma sociedade pacifica.
          As praças, raras exceções, são espaços vazios, sem uma presença real do poder público, quando as lâmpadas não estão queimadas é o mato, o lixo, o abandono. Claro que muito dos aspectos de abandono das praças é fruto da ação da própria comunidade. Então que o poder público estimule, através de projetos, a participação da comunidade na conservação das praças, das ruas, como lugares de todas e todos.
A onda de violência crescente em nossas cidades, provoca nas pessoas de bem o desejo, na minha opinião “ingênuo”, da volta do “mão branca”, como o mágico capaz de acabar com a violência. Minha formação humanista/cristã, não me permite apoiar esquadrões da morte, grupos de extermínio. Sou contrário a essa ideia, acredito ser o Estado o responsável sobre o monopólio das armas, do policiamento, da aplicação da Lei.
Nada fora da Lei.
           As comunidades não podem conhecer apenas a força das armas, do cassetete, é preciso avançar nas ações preventivas, ruas iluminadas, atividades culturais e esportivas, deste modo ocupando as praças e as ruas com o bem.
      Nesta perspectiva, a Campanha da Fraternidade é um chamamento, a princípio aos cristãos, mas estendido a todas e todos, homens e mulheres de bem, é preciso fazer o enfrentamento da violência de modo rígido, agora de tal modo que seja eficaz, construindo uma rede pela paz, nas pequenas e grandes cidades. Termino, este curto artigo, me permitam, deixando a oração da Campanha da Fraternidade 2018, e , convidando os cristãos e não cristãos para um dialogo fraternos, sobre os caminhos e descaminhos, das ações a médio e longo prazo para construirmos um outro mundo, um mundo de paz.

Deus e Pai, nós vos louvamos
pelo vosso infinito amor e vos
agradecemos por ter enviado Jesus,
o Filho amado, nosso irmão. Ele
veio trazer paz e fraternidade à
terra e, cheio de ternura e compaixão,
sempre viveu relações repletas de perdão
e misericórdia. Derrama sobre nós
o Espírito Santo, para que, com o coração
convertido, acolhamos o projeto de
Jesus e sejamos construtores de uma
sociedade justa e sem violência,
para que, no mundo inteiro, cresça o
vosso Reino de liberdade, verdade e de paz. Amém.
(Oração da Campanha da Fraternidade - 2018)








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