Patrimônio Cultural de Natal: um convite à preservação
Luciano Capistrano
Professor e Historiador
Uma cidade não se abre
Fácil, como um guarda-chuva,
A quem sequer não a tem.
Uma cidade é como a luva:
Sem o gesto e a medida
Exatos de quem a calça,
Jamais se entrega a alguém
Por mais força que se faça
Para tê-la ou possuí-la.
Pode tê-la, mais sem uso,
Simples adorno ocultando
A sua alma ao intruso...
(Romance da Cidade de Natal – Nei Leandro de Castro)
A cidade é um lugar de múltiplas identidades, andar por ruas e vielas é viver uma rica experiência do espaço urbano. Em meu ofício de historiador me encaminhei pelos caminhos sinuosos da cidade de Natal em busca de compreendê-la, entender sua expansão ao longo do tempo. A cidade, como diz a poesia de Nei Leandro de Castro “não se abre fácil”. Neste percurso, trilhei as veredas abertas por memorialistas, cronistas, poetas, fotógrafos, urbanistas, historiadores, enfim, por escritos sobre o espaço urbano.
O historiador José D’Assunção Barros, nos dá pistas para abrir as veredas da cidade de forma a nos apropriarmos de seus significados. Caminhar pelo espaço urbano é então um exercício do olhar edificações, praças, monumentos, ruas... gentes. A cidade é um texto aberto:
Uma última implicação da metáfora da cidade como texto ou como discurso é a de que o complexo discurso urbano aloja dentro de si diversos discursos de todas as ordens. A cidade também fala aos seus habitantes e aos seus visitantes através dos nomes próprios que ela abriga: dos nomes de ruas, de edifícios, de monumentos. O grande texto urbano aloja dentro de si textos menores, feitos de placas de ruas que evocam memórias e imaginários, de cartazes que são expostos nas avenidas para seduzir e informar, de sinais de trânsito que marcam ritmo da alternância entre a paisagem permitida e os interditos aos deslocamentos no espaço. A cidade é um grande texto que tece dentro de si uma miríade de outros textos, inclusive os das pequenas conversas produzidas nos encontros cotidianos. (BARROS, José D’Assunção. Cidade e História. Petrópolis: Vozes, 2012, p.45)
O Patrimônio Cultural é o percurso mais seguro para desvendar a cidade. Natal com seu acervo a céu aberto nos ensina sobre sua história, descer a ladeira da avenida Câmara Cascudo tem um sentido de sala de aula. São os sinais das intervenções realizadas na década de 1910, a balaustrada, as iluminarias, o bonde elétrico, as novas edificações, dando uma nova ressignificação ao espaço urbano. O relógio a marcar o tempo de quem descia ou subia a ladeira, sobre os olhares dos estudantes do Atheneu e as orações dos membros da Igreja Presbiteriana.
O tempo, implacável, segue o sinal da fábrica de tecido, lá no “pé da ladeira”, fronteira dos Xarias e Canguleiros, marcas de um passado guardado nas Actas Diurnas de uma cidade que cresceu para além das Quintas.
Neste emaranhado de histórias, se faz necessário o fazer pedagógico, a Educação Patrimonial é o instrumento a ser utilizado na perspectiva do cidadão ou visitante da urbe conhecer os traços urbanos e incorporar a identidade ou, melhor dizendo, se sentir pertencente a cidade. O sentimento de pertença, de identificação com uma praça ou um monumento, é o melhor instrumento de preservação.
A ideia deste texto é trazer ao diálogo as questões referentes as políticas de preservação do Patrimônio Cultural. A ausências das politicas ou as politicas existentes, este é o mote a ser enfrentado por historiadores, urbanistas, técnicos dos órgãos de preservação, IPHAN, Fundação José Augusto, Funcart (Secretaria Municipal de Cultura) e Semurb , e, claro a sociedade civil, partícipe, deste processo de construção de programas de Estado sobre a Preservação do Patrimônio Cultural.
O Pac das Cidades Históricas, as diversas legislações - nos três níveis da federação, União, Estado e Município -, são mecanismos de preservação importantes, mas, temos de pensar ações para além destes instrumentos. Finalizo aqui este, Patrimônio Cultural de Natal: um convite à preservação. Continuarei a fazer deste tema um labutar diário enquanto historiador.
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