segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

27 DE JANEIRO, DIA DA MEMÓRIA: Auschwitz a face humana do ódio



Luciano Capistrano
Professor de História: Escola Estadual Myriam Coeli
Mestrando: Mestrado Profissional Em Ensino de História / UFRN

            Está grávida, moça bonita? A pergunta ecoou a mais de 70 anos, no campo de concentração nazista de Auschwitz, seu emissor: o dr. Josef Mengele. A máquina do genocídio estava em pleno funcionamento, ao poder das armas e em bases de simulacros científicos, milhares de assassinatos foram realizados em um dos episódios mais cruéis da história Contemporânea. O mundo civilizado foi incapaz de impedir o crescimento de uma ideologia defensora da supremacia racial, a ideia da super raça pura ariana conquistou as mentes e os corações de um mundo fragilizado por crises econômicas e sociais onde as Instituições da democracia “clássica” já não era capaz de impedir a conquista do poder das visões totalitárias. O Holocausto foi vestido de ciência, tradição, bons costumes...

Holocausto

Humanidade, desumanidade,
caos, nazismo, mente ariana,
tensão, Budapeste, Cracóvia,
guetos, exclusão, gritos,
frio, lágrimas, tempos sombrios,
perversidade, Adolf Hitler,
Dachau, Drancy, Mein Kampf,
campos de concentração,
lugares de memórias, traumas,
esqueletos, valas, corpos, gás,
Trenblinka, Auschwistz, extermínio,
vozes ecoam no tempo,
sobreviventes.
(Luciano Capistrano)

            Você está grávida, moça bonita? Nessa frase cabe o desespero de centenas de milhares de Judeus, Ciganos, Homossexuais... todos os denominados inferiores por parte dos germânicos e seus aliados contaminados pela ideologia nazista. Uma rede de “fabricas” de matar gente foi construída ao longo de seis ou sete anos da ascensão de Adolf Hitler na Alemanha dos anos de 1930. Os gestores da máquina genocida andavam engomados, senhores e senhoras dos bons costumes:

O dr. Mengele, cabelo castanho arrumado com gel, impecavelmente vestido num uniforme esverdeado feito sob medida, com divisas reluzentes e caveiras prateadas na gola, segurava um par de luvas de pelica claras com punhos largos, que batia nas mãos enquanto caminhava em frente às prisioneiras para inspecioná-las – mais especificamente para perguntar se elas estavam grávidas. (HOLDEN, Wendy. Os bebês de Auschwitz. São Paulo: Publifolha, 2017 p.17)

            O Anjo da Morte, Josef Mengele, é a representação de toda uma onda que tomou conta de diversos setores da sociedade mundial, principalmente alemã, nas décadas de 1920/1930/1940. Homens e mulheres da ciência, da religião, da política, da economia, das forças armadas, enfim, de todos os espectros sociais injetados pela força de uma mentalidade de ódio ao outro. Auschwitz foi a face humana do ódio
            Neste dia 27 de janeiro, dedicado a memória faz necessário lembrar que estes homens, Hitler, Mengele e outros lideres do nazismo usaram o discurso dos salvadores da pátria fundados em ideias moralistas de uma sociedade “pura de pecados”. E a verdade deu lugar a mentira, os simulacros científicos ganharam formas no que hoje pode ser identificado como as “teorias da conspiração, das fake News”. O Historiador Timothy Snyder cita Victor Klemperer sobre os riscos das inverdades:

O último modo é a exploração indevida da fé. Isso envolve tipos de afirmações autodivinizantes que o presidente fez ao dizer “Só eu posso resolver isso” ou “Eu sou a voz de vocês”. Quando o sentimento fé se desloca dessa maneira do céu à terra, não sobra espaço para as pequenas verdades de nosso discernimento e experiências individuais. O que aterrorizava Klemperer era a maneira como essa transição parecia definitiva. Depois que a verdade se tornava oracular, em vez de factual, as evidências eram irrelevantes. No fim da guerra, um trabalhador declarou a Klemperer que “compreender é inútil, é preciso ter fé. Eu acredito no Funher”. (SNYDER, Timothy. Sobre a tirania: vinte lições do século XX para o presente. São Paulo: Companhia das Letras, 2017, p.66).

            27 DE JANEIRO, DIA DA MEMÓRIA: Auschwitz a face humana do ódio, este é uma das minhas inquietações sobre a história do tempo presente. Façamos sempre, o bom dialogo democrático.

                          Foto: Luciano Capistrano - 27 de janeiro, dia da Memória.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Tiranias e o ódio a liberdade de informação



Luciano Capistrano
Professor de História – Escola Estadual Myriam Coeli
Mestrando – Profhistória/UFRN


            No dia 27 de janeiro de 1945, há 75 anos, o exército soviético libertava os últimos prisioneiros do campo de concentração nazista. O terrível Auschwitz era, enfim, dominado pelas forças da ex-União Soviética. A nação governada por Joseph Stalin, triunfara ao lado das nações capitalistas na grande luta contra o “Império do Mal” comandado por Adolf Hitler. O mundo foi impactado com a verdade: Os nazistas alemães tinham construído um “complexo da morte”. Os campos de concentração representavam a engrenagem do genocídio.  A fumaça das chaminés e o cheiro da morte compunham o cenário de terror criado por cabeças do mal como a do médico Josef Mengele.
            75 anos depois faz necessário lembrar de Auschwitz e do sofrimento vivido por milhares de seres humanos “selecionados” por essa onda nazifascista que tomou conta das mentes e corações de tantas e tantos outros seres humanos na Alemanha dos anos de 1930/1940.  Lembrar para não esquecer, lembrar para que não se repita. A questão da informação é fundamental nessa eterna vigilância a ser cultivada contra os regimes totalitários, pois são muitos os relatos de quem viveu os tempos sombrios do nazismo e demoraram a acreditar nos fatos reais, como diz Priska:

As promessas dos nazistas de aniquilar os judeus em massa sempre pareceram devaneios, nos quais era impossível acreditar, mas ao saber das câmaras de gás e começar a respirar o cheiro nauseabundo de carne humana queimada e cabelo chamuscado, Priska não teve dúvida de que prisioneiras estavam dizendo a verdade. A fumaça dos mortos envolvia a todos como uma mortalha. ‘No dia a dia, foi ficando cada vez mais evidente o que aconteceria com as mulheres e os filhos de quem estivesse grávida’, contou. ‘ A lógica me convenceu de que o índice de sobrevivência naquele inferno era  muito baixo’. (HOLDEN, Wendy. Os bebês de Auschwitz. São Paulo: Edição Folha de São Paulo, p. 148).

            Uma das minhas inquietações de sempre, confesso, como um governo desse porte de autoritarismo, com essa face tão cruel conseguiu chegar ao poder? São muitas as respostas, este artigo é curto para responder, fico então com uma das possibilidades: o apoio de profissionais, homens e mulheres formados em diversos ofícios que deixaram de lado os preceitos éticos de suas profissões para embarcarem neste mundo de terror e ódio contra a humanidade. O historiador, norte-americano, Timothy Snyder nos provoca a pensar neste sentido da cooperação, vejamos:

Se os advogados tivessem seguido a norma que proibia execuções sem julgamento, se os médicos tivessem obedecido à regra que proíbe cirurgias sem consentimento, se os executivos tivessem endossado a proibição da escravidão e se os burocratas tivessem se recusado a processar a documentação que envolvia assassinatos, o regime nazista teria enfrentado muito mais dificuldades para dar cabo das atrocidades pelas quais é lembrado.(SNYDER, Timothy. Tirania. São Paulo: Companhia das Letras, 2017, p.39)

            A “quebra” dos ensinamentos e preceitos éticos das diversas profissões foram engolidos por essa onda nazista que se abateu em diversos países e se materializou de forma mais concreta no projeto de domínio e expansão imperialista na Alemanha de Hitler. O resultado disso conhecemos. Fiquemos atentos, a onda não foi dissipada, ainda persiste, inclusive entre nós, brasileiros.
            Antes de finalizar este escrito, faço a seguir uma referência rápida mas necessária a um acontecimento ocorrido nos anos de 1980. Iniciei este texto fazendo uma referencia ao exercito da ex-União Soviética, e, sua importante vitória contra as forças militares alemãs, ao libertar os últimos presos de Auschwitz. Pois bem, a ex-União das Republicas Socialistas, também deixaram uma herança de regime autoritário, assim, trago o relato sobre o acidente nuclear de Tchernóbio,
            Em 28 de abril de 1986 uma grande explosão ocorreu na Usina Nuclear de Tchernóbio, na Ucrânia, sob um regime avesso as liberdades de informação, este desastre transformou-se em um dos maiores já registrados em uma usina nuclear. A negativa oficial das autoridades sobre a verdade dos fatos provocou muito mais vítimas.

Nessa época, a imagem que eu tinha da central nuclear era totalmente idílica. N escola e no instituto nos ensinavam que eram fantásticas ‘fabricas que produziam energia tirada do nada’, onde trabalhavam pessoas de jalecos brancos eu apertavam botões. [...] Tchernóbil explodiu contra o fundo de um total despreparo da consciência e absoluta fé na técnica. Não tínhamos nenhuma informação. Havia montanhas de papéis com o carimbo ‘ultrassecreto’: ‘Declara-se que são secretos os dados do acidente’; Declara-se que são secretos os resultados de tratamentos médicos’; Declara-se que são secretos os índices de afecção radiativa do pessoal que interveio na liquidação’. (ALEKSIÉVITCH, Svetlana. Vozes de Tchernóbil. São Paulo: Companhia das Letra, 2019, p.257)

            As Tiranias se fundamentam em simulacros de sociedades livres, pensemos. Foi assim, aqui , no Brasil, do Estado Novo (1937), foi assim, aqui, no Brasil do Golpe Militar/Civil (1964). Este é minhas inquietações: Tiranias e o ódio a liberdade de informação.

    Escolares - Foto: Luciano Capistrano.

           

A esperança se vestiu de cinza.

  A esperança se vestiu de cinza.               Aqui faço um recorte de algumas leituras que de alguma forma dialogam sobre os efeitos noc...