Luciano Capistrano
Professor de História: Escola Estadual Myriam
Coeli
Mestrando: Mestrado Profissional Em Ensino de
História / UFRN
Está
grávida, moça bonita? A pergunta ecoou a mais de 70 anos, no campo de
concentração nazista de Auschwitz, seu emissor: o dr. Josef Mengele. A máquina
do genocídio estava em pleno funcionamento, ao poder das armas e em bases de
simulacros científicos, milhares de assassinatos foram realizados em um dos
episódios mais cruéis da história Contemporânea. O mundo civilizado foi incapaz
de impedir o crescimento de uma ideologia defensora da supremacia racial, a
ideia da super raça pura ariana conquistou as mentes e os corações de um mundo
fragilizado por crises econômicas e sociais onde as Instituições da democracia “clássica”
já não era capaz de impedir a conquista do poder das visões totalitárias. O
Holocausto foi vestido de ciência, tradição, bons costumes...
Holocausto
Humanidade, desumanidade,
caos, nazismo, mente ariana,
tensão, Budapeste, Cracóvia,
guetos, exclusão, gritos,
frio, lágrimas, tempos sombrios,
perversidade, Adolf Hitler,
Dachau, Drancy, Mein Kampf,
campos de concentração,
lugares de memórias, traumas,
esqueletos, valas, corpos, gás,
Trenblinka, Auschwistz, extermínio,
vozes ecoam no tempo,
sobreviventes.
(Luciano Capistrano)
Você
está grávida, moça bonita? Nessa frase cabe o desespero de centenas de milhares
de Judeus, Ciganos, Homossexuais... todos os denominados inferiores por parte
dos germânicos e seus aliados contaminados pela ideologia nazista. Uma rede de “fabricas”
de matar gente foi construída ao longo de seis ou sete anos da ascensão de
Adolf Hitler na Alemanha dos anos de 1930. Os gestores da máquina genocida
andavam engomados, senhores e senhoras dos bons costumes:
O dr. Mengele, cabelo castanho arrumado com
gel, impecavelmente vestido num uniforme esverdeado feito sob medida, com
divisas reluzentes e caveiras prateadas na gola, segurava um par de luvas de
pelica claras com punhos largos, que batia nas mãos enquanto caminhava em
frente às prisioneiras para inspecioná-las – mais especificamente para
perguntar se elas estavam grávidas. (HOLDEN, Wendy. Os bebês de Auschwitz. São
Paulo: Publifolha, 2017 p.17)
O
Anjo da Morte, Josef Mengele, é a representação de toda uma onda que tomou
conta de diversos setores da sociedade mundial, principalmente alemã, nas
décadas de 1920/1930/1940. Homens e mulheres da ciência, da religião, da política,
da economia, das forças armadas, enfim, de todos os espectros sociais injetados
pela força de uma mentalidade de ódio ao outro. Auschwitz foi a face humana do
ódio
Neste
dia 27 de janeiro, dedicado a memória faz necessário lembrar que estes homens, Hitler,
Mengele e outros lideres do nazismo usaram o discurso dos salvadores da pátria fundados
em ideias moralistas de uma sociedade “pura de pecados”. E a verdade deu lugar
a mentira, os simulacros científicos ganharam formas no que hoje pode ser
identificado como as “teorias da conspiração, das fake News”. O Historiador
Timothy Snyder cita Victor Klemperer sobre os riscos das inverdades:
O último modo é a exploração indevida da fé.
Isso envolve tipos de afirmações autodivinizantes que o presidente fez ao dizer
“Só eu posso resolver isso” ou “Eu sou a voz de vocês”. Quando o sentimento fé
se desloca dessa maneira do céu à terra, não sobra espaço para as pequenas
verdades de nosso discernimento e experiências individuais. O que aterrorizava
Klemperer era a maneira como essa transição parecia definitiva. Depois que a
verdade se tornava oracular, em vez de factual, as evidências eram irrelevantes.
No fim da guerra, um trabalhador declarou a Klemperer que “compreender é
inútil, é preciso ter fé. Eu acredito no Funher”. (SNYDER, Timothy. Sobre a
tirania: vinte lições do século XX para o presente. São Paulo: Companhia das
Letras, 2017, p.66).
27
DE JANEIRO, DIA DA MEMÓRIA: Auschwitz a face humana do ódio, este é uma das
minhas inquietações sobre a história do tempo presente. Façamos sempre, o bom
dialogo democrático.
Foto: Luciano Capistrano - 27 de janeiro, dia da Memória.