Luciano
Capistrano
Professor
de História – Escola Estadual Myriam Coeli
Mestrando
– Profhistória/UFRN
No
dia 27 de janeiro de 1945, há 75 anos, o exército soviético libertava os
últimos prisioneiros do campo de concentração nazista. O terrível Auschwitz
era, enfim, dominado pelas forças da ex-União Soviética. A nação governada por
Joseph Stalin, triunfara ao lado das nações capitalistas na grande luta contra
o “Império do Mal” comandado por Adolf Hitler. O mundo foi impactado com a
verdade: Os nazistas alemães tinham construído um “complexo da morte”. Os
campos de concentração representavam a engrenagem do genocídio. A fumaça das chaminés e o cheiro da morte
compunham o cenário de terror criado por cabeças do mal como a do médico Josef
Mengele.
75
anos depois faz necessário lembrar de Auschwitz e do sofrimento vivido por
milhares de seres humanos “selecionados” por essa onda nazifascista que tomou
conta das mentes e corações de tantas e tantos outros seres humanos na Alemanha
dos anos de 1930/1940. Lembrar para não
esquecer, lembrar para que não se repita. A questão da informação é fundamental
nessa eterna vigilância a ser cultivada contra os regimes totalitários, pois
são muitos os relatos de quem viveu os tempos sombrios do nazismo e demoraram a
acreditar nos fatos reais, como diz Priska:
As promessas dos nazistas de aniquilar os
judeus em massa sempre pareceram devaneios, nos quais era impossível acreditar,
mas ao saber das câmaras de gás e começar a respirar o cheiro nauseabundo de
carne humana queimada e cabelo chamuscado, Priska não teve dúvida de que
prisioneiras estavam dizendo a verdade. A fumaça dos mortos envolvia a todos
como uma mortalha. ‘No dia a dia, foi ficando cada vez mais evidente o que
aconteceria com as mulheres e os filhos de quem estivesse grávida’, contou. ‘ A
lógica me convenceu de que o índice de sobrevivência naquele inferno era muito baixo’. (HOLDEN, Wendy. Os bebês de Auschwitz.
São Paulo: Edição Folha de São Paulo, p. 148).
Uma
das minhas inquietações de sempre, confesso, como um governo desse porte de
autoritarismo, com essa face tão cruel conseguiu chegar ao poder? São muitas as
respostas, este artigo é curto para responder, fico então com uma das
possibilidades: o apoio de profissionais, homens e mulheres formados em
diversos ofícios que deixaram de lado os preceitos éticos de suas profissões
para embarcarem neste mundo de terror e ódio contra a humanidade. O
historiador, norte-americano, Timothy Snyder nos provoca a pensar neste sentido
da cooperação, vejamos:
Se os advogados tivessem seguido a norma
que proibia execuções sem julgamento, se os médicos tivessem obedecido à regra
que proíbe cirurgias sem consentimento, se os executivos tivessem endossado a
proibição da escravidão e se os burocratas tivessem se recusado a processar a
documentação que envolvia assassinatos, o regime nazista teria enfrentado muito
mais dificuldades para dar cabo das atrocidades pelas quais é lembrado.(SNYDER,
Timothy. Tirania. São Paulo: Companhia das Letras, 2017, p.39)
A
“quebra” dos ensinamentos e preceitos éticos das diversas profissões foram
engolidos por essa onda nazista que se abateu em diversos países e se
materializou de forma mais concreta no projeto de domínio e expansão
imperialista na Alemanha de Hitler. O resultado disso conhecemos. Fiquemos
atentos, a onda não foi dissipada, ainda persiste, inclusive entre nós,
brasileiros.
Antes
de finalizar este escrito, faço a seguir uma referência rápida mas necessária a
um acontecimento ocorrido nos anos de 1980. Iniciei este texto fazendo uma
referencia ao exercito da ex-União Soviética, e, sua importante vitória contra
as forças militares alemãs, ao libertar os últimos presos de Auschwitz. Pois
bem, a ex-União das Republicas Socialistas, também deixaram uma herança de regime
autoritário, assim, trago o relato sobre o acidente nuclear de Tchernóbio,
Em
28 de abril de 1986 uma grande explosão ocorreu na Usina Nuclear de Tchernóbio,
na Ucrânia, sob um regime avesso as liberdades de informação, este desastre
transformou-se em um dos maiores já registrados em uma usina nuclear. A negativa
oficial das autoridades sobre a verdade dos fatos provocou muito mais vítimas.
Nessa época, a imagem que eu tinha da central
nuclear era totalmente idílica. N escola e no instituto nos ensinavam que eram
fantásticas ‘fabricas que produziam energia tirada do nada’, onde trabalhavam
pessoas de jalecos brancos eu apertavam botões. [...] Tchernóbil explodiu contra
o fundo de um total despreparo da consciência e absoluta fé na técnica. Não tínhamos
nenhuma informação. Havia montanhas de papéis com o carimbo ‘ultrassecreto’: ‘Declara-se
que são secretos os dados do acidente’; Declara-se que são secretos os
resultados de tratamentos médicos’; Declara-se que são secretos os índices de
afecção radiativa do pessoal que interveio na liquidação’. (ALEKSIÉVITCH,
Svetlana. Vozes de Tchernóbil. São Paulo: Companhia das Letra, 2019, p.257)
As
Tiranias se fundamentam em simulacros de sociedades livres, pensemos. Foi
assim, aqui , no Brasil, do Estado Novo (1937), foi assim, aqui, no Brasil do Golpe
Militar/Civil (1964). Este é minhas inquietações: Tiranias e o ódio a liberdade
de informação.
Escolares - Foto: Luciano Capistrano.
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