Natal perdeu ou ganhou a Segunda Guerra Mundial?
Luciano
Capistrano
Professor
de História: Escola Estadual Myriam Coeli
Mestrando:
Profhistória/UFRN
Como professor de história, sempre
me questionei sobre Natal e a Segunda Mundial. Como era a cidade? Quais os
impactos causados nos arrabaldes da cidade provinciana? Uma urbe transformada
em Trampolim da Vitória, cenário da aviação mundial. Qual cidade surgiu depois
do encontro dos Presidentes Roosevelt e Vargas na Rampa? Sobre essas
consequências dos tempos de guerra para a urbe o historiador da província,
Câmara Cascudo nos deixa umas pistas em sua História da Cidade do Natal:
À primeira vista, Natal apresentava-se com nítidas características de cidadezinha provinciana de vida modesta e pacata. Tinha pracinha com indispensável coreto em frente à matriz da santa padroeira, no caso, Nossa Senhora da Apresentação, venerada em novembro, com festa que dura nove dias, sendo encerrada com a tradicional procissão dos fiéis presidida pelo bispo diocesano Dom Marcolino Esmeraldo Dantas, muito respeitado e querido no seio do seu rebanho. A vida na cidade corria sossegada sem os atropelos da cidade grande. Durante o dia, todos se preocupavam com seus fazeres cotidianos. À noite, pegando a brisa suave do alísio, punham-se cadeiras nas calçadas para uma boa conversa até a hora do sono reparador. O cinema era uma opção alternativa para os amantes da arte cênica, enquanto os aficionados dos desportos se dividiam entre as tardes de futebol, praticado no campo da Liga, atual Juvenal Lamartine e animadas manhãs de regatas e competições de natação no Rio Potengi [...] (SIQUEIRA, Cleantho Homem de. Guerreiros Potiguares: O Rio Grande do Norte na Segunda Guerra Mundial. Natal: EDUFRN, 2007, p. 101).
Este grito a ecoar nas ruas da
cidade, em esquinas, casarões e casebres anuncia o fim da guerra, vitória das
nações democráticas contra o nazifascismo, motivo de alegria e festa em todos
os cantos de Natal. A rendição da Alemanha representou a volta, para usar um
termo do tempo presente, “ao novo normal” do mundo. Mas, os gritos de “Berlim,
caiu, viva!”, não tem o mesmo significado para todos os moradores da cidade das
dunas, banhada pelo atlântico e cortada pelo rio Potengi. Para muitos, o rio
das Quintas, o rio Doce, o riacho do Baldo, a ladeira do cemitério, continuaria
a ser lugar de idas e vindas, com feixes de lenhas na cabeça ou trouxas de
roupas, depois de um dia de serviço. A vida era indiferente a queda de Berlim.
Que Berlim era esse?
Se é verdade que para parte da
população as noticias do fim do conflito foi algo indiferente, para todos os
efeitos do fim do conflito mundial não tardou a ser sentido. A elite, política
e econômica, natalense não preparou a cidade para o fim da guerra e a desmobilização
de milhares de militares norte-americanos. A Base Norte Americana, construída
em solo potiguar, responsável pelo envio de tropas e suprimentos dos EUA,
principalmente para os militares/combatentes no norte da África, foi entregue
as autoridades brasileiras, a mobilização dos militares desativada. Natal
Trampolim da Vitória tinha agora novas demandas herdadas do período das noites
de bleck-out.
A narrativa de modernização do
espaço urbano como resultado dos esforços de guerra e o crescimento econômico é
uma questão a ser questionada, nem todos os habitantes da cidade alcançaram os “louros”
dos tempos do Trampolim da Vitória. A historiadora Flávia de Sá Pedreira, nos apresenta
o depoimento do Senhor Francisco de França Filho:
O Rio Grande do Norte palco
importante durante a Segunda Guerra Mundial não foi inserida nos projetos de
industrialização do governo Vargas. A região sudeste foi a contemplada com um
processo de industrialização, cabendo ao Nordeste o papel, no máximo, de
produtor de matéria prima.
Natal viveu um crescimento econômico
entre cortado com grave crise socioeconômica, motivo de uma ocupação
desordenada da cidade com efeitos ainda sentidos na cidade do tempo presente. A
Professora Giovana Paiva de Oliveira é bem clara sobre a situação da urbe
diante dos impactos da guerra:
A indústria do turismo cultural,
segmento econômico, que poderia ser uma alavanca de geração de empregos e
rendas, ao longo das diversas administrações do pós guerra não recebeu os cuidados
necessários. A cidade conhecida em todo o mundo da aviação, e, a qual sediou a
maior base norte-americana fora do solo dos EUA ainda engatinha na promoção de
um roteiro turístico sobre a participação de Natal no contexto da Segunda Guerra
mundial.
Nestes tempos de eleições municipais,
deixo minha inquietação: Natal perdeu ou ganhou a
Segunda Guerra Mundial?
Foto feita a partir da balaustrada da avenida Getúlio Vargas.
Parabéns, meu amigo! Ótima reflexão. Após saborear essa instigante leitura, acredito, com base na sua conclusão, que a guerra continua. Os combatentes inquietos e valentes são pessoas como você que lutam incansávelmente para que essa história traga resultados concretamente benéficos como a valorização do turismo para além das belezas naturais, pois nossa cultura e história é tão rica e bela quanto dunas e praias. Avante meu caro!!
ResponderExcluirObrigado meu amigo, sua leitura e comentário me deixam honrados. Gratidão, estamos juntos nessa jornada de Clio.
ExcluirMais uma pérola historica, parabéns.
ResponderExcluirObrigado meu amigo, vamos juntos nessa história.
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