Sobre uma cidade de letras e artes… mas é sobretudo: liberdade.
Luciano Capistrano
Professor de História: Escola Estadual Myriam Coeli
Mestrando: Profhistória/UFRN
Meu pai um leitor voraz, me conta histórias de uma Natal da época da administração do Prefeito Djalma Maranhão. Diz papai das Praças de Cultura e das Feiras de Livros, realizações de uma gestão com o olhar e ações voltadas para a disseminação das artes entre a população de Natal. Eram todos os recantos da urbe inseridos nestes projetos de cultura. Desde sempre me encantou a ocupação dos espaços públicos com estes tipos de ações, as Praças de Cultura, então, eram lugares encantados, encontros de gente com a cultura identidade do povo Potiguar.
Nestes tempos de campanha eleitoral, onde escolheremos os ocupantes do Palácio Frei Miguelinho e o ocupante do Palácio Felipe Camarão, precisamos fazer essas inquietações em voz alta, dialogadas, sobre os caminhos da urbe. A cidade que queremos tem de ser ditas nas ruas, nas esquinas, nos lugares de trabalho, nas áreas de lazer, nas praças… enfim, em nossas conversas o tema das escolhas da composição do legislativo municipal e do chefe do executivo municipal, faz necessário. Num exercício democrático: pensar os rumos da urbe para além do período eleitoral.
Ao fazer esse caminhar nas escritas das memórias, me encontro com “Imagens do Tempo”, de Edgar Barbosa. Em sua escrita, o jornalista de Ceará-Mirim, com toda intensidade humanística de seus textos, nos permite uma viagem ao tempo das Feiras de Cultura, das Praças, dos Folguedos populares, da Galeria de Arte… das alegrias de um tempo estampado nas conversas com papai e seus amigo/clientes do Sebo Cata-Livros da rua da Conceição.
Edgar Barbosa nos convida ao ano de 1957, um convite a reflexão sobre o significado das Feira de Livros, patrocinadas pela Prefeitura, um convite para nos inquietarmos diante dos obscuros regimes totalitários. Sobre uma cidade de letras e artes, mas é sobretudo: liberdade. Assim:
O poder de duvidar não é menor que a faculdade de crer – e pela capacidade de um povo sentir isso é que se deve estimar seu patrimônio de liberdade. Quanto mais livros cheguem às mãos do povo – permiti-me, afinal, essa tirada à Castro Alves – mais valorizado se torna o esforço do pensamento, mais audaciosa sua vocação crítica, mais viril seu animo de encarar o perigo e sofrer a adversidade.
[…]
Por tudo isso, esta feira inicia um capitulo inteiramente novo da história de Natal: o da popularização do livro no ambiente de rua […] imaginando as próximas Feiras de Livros de Natal, neste mesmo Grande Ponto que hoje recebe, como fortaleza do pensamento livre, sua bandeira e sua artilharia. (BARBOSA, Edgar. Imagens do tempo. Natal: Imprensa Universitária, 1966, p. 94-95).
O tempo passou, sobre aquele dezembro de 1957, da primeira Feira de Livros de Natal caiu a escuridão totalitária, e, o Prefeito das Praças de Cultura, desceu as escadarias do Palácio Felipe Camarão preso. Era um “mar de chumbo” a interromper as ações realizadas por Djalma Maranhão, assim descreveu o fatídico 2 de abril de 1964, o professor Moacir de Góes:
[…] Entre soldados do Exército, Djalma Maranhão, descia as escadarias da Prefeitura. Corri à janela e vi o meu Prefeito sendo embarcado num Jeep militar, Gravado no Jeep o selo que indicava a doação do veículo ao Exército pela “Aliança para o Progresso”. Terrivelmente simbólico e revelador”.(GÓES, Moacir de. Sem paisagem: memórias da prisão. Natal: Sebo Vermelho, 2004, p.37).
A Natal das Feiras “livres” de Livros, pousem nas memórias da cidade banhada pelo rio Potengi, e, seja uma recordação da importância de se pensar projetos de inclusão cultural, fiquemos com a lembrança fotográfica, tão simbólica, da Galeria de Arte, erguida na Praça André de Albuquerque e destruída tempos depois, talvez na vã intenção de apagar da memória de Natal vestígios dos tempos do Prefeito Djalma Maranhão. Lembrar é preciso!
Fonte: Galeria de Arte - Praça André de Albuquerque - Acervo DHNET.