domingo, 7 de março de 2021

Cine Nordeste – Para além de uma saudosa memória dos cinemas de rua

 Cine Nordeste – Para além de uma

saudosa memória dos cinemas de rua

 

“No escurinho do cinema

Chupando drops de anis

Longe de qualquer problema

Perto de um final feliz”.

No rádio ouço Rita Lee, “Flagra”. Talvez embalado pelo som da nostalgia, nestes tempos pandêmicos as emoções ficam mais latentes, a flor da pele. Fiquei a pensar sobre os “cinemas de ruas”, eu que gosto de andar por ruas e becos da urbe, me vi diante do antigo Cine Nordeste, na rua João Pessoa, nas proximidades da Praça Kennedy e Praça Padre João Maria, ali, passei várias tardes de domingo. Hoje o prédio, fechado, tem embaixo de sua marquise a “cama” dos desvalidos, dos muitas vezes invisíveis sociais. O Cinema Nordeste, empreendimento da Cireda, foi inaugurado em 20 de dezembro de 1958, um marco na história das salas de cinemas em Natal. O Cinema Nordeste, foi o primeiro a ter um sistema de ar condicionado. Durante muitos anos a Sorveteria Oásis, vizinho ao cine, era o “point” pós filmes. Hoje a edificação guarda para as gerações das décadas de 1950 á 1980, memórias afetivas das exibições na grande tela aos “flagras” quando as luzes acendiam. Tempo, tempo, tempo... Hoje não encontramos os “cinemas de ruas”, mas antigos problemas sociais pulsam. Anchieta Fernandes, em seu clássico “Écran Natalense”, reproduz uma nota publicada no jornal A República, assinada por R. X.: “... os mendigos importunavam as pessoas que ali vão tomar um refrigerante, um sorvete ou outra coisa e, isso recomenda mal a direção da sorveteria e a própria Cidade.” Cine Nordeste – Para além de uma saudosa memória dos cinemas de rua, antigos problemas a desafiar a urbe do tempo presente.

 (Referência: CAPISTRANO, Luciano Fábio Dantas. Divagações: memória, fotografia e história. Natal: Sebo Vermelho, 2019; FERNANDES, Anchieta. Écran Natalense: Capítulos da história do cinema em Natal. Natal: Sebo Vermelho, 2007).

Projeto: Das ruas às redes: Quinta da história.

(Foto e texto: Professor Luciano Capistrano)

   Prédio do Antigo Cinema Nordeste - Foto Luciano Capistrano/2021

segunda-feira, 1 de março de 2021

Do alto da Torre: Um Memorial dos Potiguara, por que não?

 Do alto da Torre:

Um Memorial dos Potiguara, por que não?

 

O que guardamos da presença dos povos originários? Ao caminhar pela urbe onde encontramos vestígios dos Potiguara? A um silenciamento sobre os povos Potiguara, para além do patrono da sede da Prefeitura, Palacio Felipe Camarão, a cidade cresceu, urbanizou seus espaços, construiu monumentos de “padra e cal” e os lugares dos aldeamentos ficaram embaixo do tapete de uma vergonha não dita em sermos herdeiros dos primeiros habitantes da Capitania do Rio Grande. A conquista dos ibéricos não ocorreu de forma pacifica. Aqui foi cenário de conflitos violentos, entre portugueses e nativos. “Do aprisionamento dos Potiguara durante a conquista entre 1597 e 1598, [...] Em apenas uma aldeia nas proximidades do Forte, os soldados ‘... mataram mais de quatrocentos potiguares e cativaram oitenta...’”. (LOPES, 2003, p.63). Sobre a localização do último aldeamento Potiguara nos informa o Professor Olavo de Medeiros Filho: “...na Aldeia Velha, o Outeiro do Minhoto, à margem esquerda do Potengi ...” Este local é hoje o Alto da Torre, localizado no bairro Salinas. Uma região repleta de raízes históricas, cortadas por gamboas, com seus mangues e olheiros a brotar água da terra. Tem na região da antiga aldeia de Felipe Camarão e Clara Camarão, uma iniciativa importante para o turismo cultural a “Gamboa do Jaguaribe”. E o que mais poderia ser realizado em memória dos Potiguara? Cadê o orgulho de ser descendente dos nativos? Se desmanchou no ar, o “Tal orgulho tão decantado foi substituído pelo total e mais terrífico e destrutivo dos silêncios: o do esquecimento. Recusa-se, assim, a memória de antepassados heroicos e dignos de lembrança, culto, respeito e veneração.” (SPENCER, 2010, p.232).  Do alto da Torre: um Memorial dos Potiguara, por que não?

(Referência: LOPES, Fátima Martins. Índios, colonos e missionários na Capitania do Rio Grande do Norte. Mossoró: Fundação Vingt-um Rosado; IHGRN, 2003; MEDEIROS FILHO, Olavo de. Aconteceu na Capitania do Rio Grande. Natal: Dept. Estadual de Imprensa, 1997; SPENCER, Walner Barros. Ecos do silêncio. Natal: Sebo Vermelho, 2010).

Projeto: Das ruas às redes: Quinta da história.

(Foto e texto: Professor Luciano Capistrano)

    Foto: Luciano Capistrano - Ao longe o Alto da Torre.

A esperança se vestiu de cinza.

  A esperança se vestiu de cinza.               Aqui faço um recorte de algumas leituras que de alguma forma dialogam sobre os efeitos noc...