segunda-feira, 1 de março de 2021

Do alto da Torre: Um Memorial dos Potiguara, por que não?

 Do alto da Torre:

Um Memorial dos Potiguara, por que não?

 

O que guardamos da presença dos povos originários? Ao caminhar pela urbe onde encontramos vestígios dos Potiguara? A um silenciamento sobre os povos Potiguara, para além do patrono da sede da Prefeitura, Palacio Felipe Camarão, a cidade cresceu, urbanizou seus espaços, construiu monumentos de “padra e cal” e os lugares dos aldeamentos ficaram embaixo do tapete de uma vergonha não dita em sermos herdeiros dos primeiros habitantes da Capitania do Rio Grande. A conquista dos ibéricos não ocorreu de forma pacifica. Aqui foi cenário de conflitos violentos, entre portugueses e nativos. “Do aprisionamento dos Potiguara durante a conquista entre 1597 e 1598, [...] Em apenas uma aldeia nas proximidades do Forte, os soldados ‘... mataram mais de quatrocentos potiguares e cativaram oitenta...’”. (LOPES, 2003, p.63). Sobre a localização do último aldeamento Potiguara nos informa o Professor Olavo de Medeiros Filho: “...na Aldeia Velha, o Outeiro do Minhoto, à margem esquerda do Potengi ...” Este local é hoje o Alto da Torre, localizado no bairro Salinas. Uma região repleta de raízes históricas, cortadas por gamboas, com seus mangues e olheiros a brotar água da terra. Tem na região da antiga aldeia de Felipe Camarão e Clara Camarão, uma iniciativa importante para o turismo cultural a “Gamboa do Jaguaribe”. E o que mais poderia ser realizado em memória dos Potiguara? Cadê o orgulho de ser descendente dos nativos? Se desmanchou no ar, o “Tal orgulho tão decantado foi substituído pelo total e mais terrífico e destrutivo dos silêncios: o do esquecimento. Recusa-se, assim, a memória de antepassados heroicos e dignos de lembrança, culto, respeito e veneração.” (SPENCER, 2010, p.232).  Do alto da Torre: um Memorial dos Potiguara, por que não?

(Referência: LOPES, Fátima Martins. Índios, colonos e missionários na Capitania do Rio Grande do Norte. Mossoró: Fundação Vingt-um Rosado; IHGRN, 2003; MEDEIROS FILHO, Olavo de. Aconteceu na Capitania do Rio Grande. Natal: Dept. Estadual de Imprensa, 1997; SPENCER, Walner Barros. Ecos do silêncio. Natal: Sebo Vermelho, 2010).

Projeto: Das ruas às redes: Quinta da história.

(Foto e texto: Professor Luciano Capistrano)

    Foto: Luciano Capistrano - Ao longe o Alto da Torre.

2 comentários:

  1. Há um completo silenciamento da nossa história, professor. É como se os povos originários e os sequestrados da África não fizessem parte do nosso passado.

    ResponderExcluir
  2. Infelizmente Patrick, a violência colonizadora tece fios de silenciamentos no tempo. Sigamos, refletindo e nos inquietando com essa narrativa. Obrigado pelo comentário e leitura.

    ResponderExcluir

A esperança se vestiu de cinza.

  A esperança se vestiu de cinza.               Aqui faço um recorte de algumas leituras que de alguma forma dialogam sobre os efeitos noc...