segunda-feira, 14 de junho de 2021

Memórias, fotografias e cinemas... divagações.

         Caminhar no bairro do Alecrim, o bairro da feira e do um comercio popular pujante da cidade de Natal, sempre é ir ao encontro de novos encantos. A Praça Gentil Ferreira, cenário de grandes eventos artísticos/políticos, com o Relógio marcador do tempo, provavelmente é um dos lugares que mais representa simbolicamente o antigo “Cais do Sertão”. 

        O alecrim guarda em cada avenida numerada, em cada esquina, memórias da urbe. Os vendedores a nos convidar a entrar nas lojas, diversas, como diverso é o comércio, e, os camelôs a disputar espaços nas ruas e calçadas, fazem do bairro uma espécie de caldeirão socioeconômico. Ao olhar o retrovisor do tempo, me delicio com fotografias e testemunhos orais, de registros do Alecrim dos cinemas de ruas. A avenida 2, nas mediações do Relógio ao Banco do Brasil, na década de 1950/1960, era palco, nas tardes de domingo, do encontro de jovens amantes do cinema e das revistas em quadrinhos, sedentos pela “Sétima Arte”, se encontravam no “Palácio Encantado do Alecrim”, o Cine São Luiz, como nos informa o pesquisador Anchieta Fernandes em seu clássico “Ecran natalense”, publicado pelo Sebo Vermelho em 1992. O cinema São Luiz encerrou suas atividades em 7 de março de 1974, em seu lugar foi instalado uma agência do Banco do Brasil. 

      Foto: Emerenciano Jaeci Galvão – Cine São Luiz – acervo IBGE

        Hoje nos encanta vê antigas fotografias, graças a fotógrafos como Jaecy , registros de um tempo não mais presente. É assim a memória: Vivemos as mais variadas coisas, lembramos algumas, esquecemos tantas outras, refletimos, na maioria das vezes, a partir do lembrado sobre o vivido, sem necessariamente controlar o que queremos ou devemos lembrar sobre ele. Muitas vivências deixamos de lado e apagamos, por mecanismos conscientes e inconscientes [...] Uma música, uma foto, um texto, alegrias ou traumas inusitados podem nos fazer lembrar. A essa operação, contínua e inevitável, de alternância entre lembranças e esquecimentos, chamamos de memória. Somos constituídos – nossos valores, comportamentos e ações – pela nossa memória. Se podemos aprender a partir de tantas vivências, esse aprendizado como experiência se faz por meio da memória. (FERNANDES, Rui Aniceto Nascimento [et al.].  História e patrimônio: Rio Bonito. Rio de Janeiro: Mauad X : Faperj, 2014, p.8).

Das ruas às redes: Quinta da história

Gestores do Centro Histórico de Natal

Natal Nostálgica

@luciano_capistrano

A cidade: feitura de usos e abusos.

 

        A cidade é um conjunto de épocas expressas nas fachadas de suas edificações e traçado de suas ruas.  O transeunte no seu “corre-corre” diário a labutar pelo pão de cada dia não percebe os significados e as transformações ocorridas no espaço público. O ônibus lotado, o trânsito caótico, a insegurança...os espaços moldados ao longo do tempo guardam “movimentos” de interesses no redesenho da urbe. Assim pensa o historiador Wesley Garcia: 

A cidade, a partir dos usos diferenciados dos seus espaços, vai se constituindo, não apenas em termos da sua morfologia, de sua materialidade, da construção de moradias em determinadas áreas, por exemplo, mas também dos significados e dos valores atribuídos aos seus diferentes territórios. Assim, a cidade vai se reproduzindo de forma desigual, contraditória, como produto apropriado diferentemente pelos diversos sujeitos e grupos sociais. (SILVA, Wesley Garcia Ribeiro. Cartografia dos tempos urbanos: representações, cultura e poder na Cidade do Natal – década de 1960 -. Natal: EDUFRN, 2011, p.86). 

   Vista do alto: Igreja Presbiteriana e sede da Prefitura de Natal - Foto: Luciano Capistrano


        Do alto, a Igreja Presbiteriana e a sede da Prefeitura de Natal, edificações do século XIX e XX, respectivamente, construídas com finalidades distintas, ainda a manter suas funções originais, são representações de poderes religiosos e políticos, simbolicamente, podemos inferir, são fazedores do espaço urbano. A cidade de Natal tem em sua feitura territorial o “retrato” das disputas dos diversos segmentos da sociedade. O Professor Pedro de Lima, faz uma referencia ao Plano Polidrelli como exemplo do desejo da elite em segregar: 

[...] o Plano Polidrelli superaria o antigo desenho irregular originário da cidade colonial, onde as classes sociais conviviam, praticamente, no mesmo espaço ou guardando uma certa contiguidade [...] serviria como um refúgio, onde as classes dominantes poderiam se proteger do contato com as péssimas condições ambientais e das epidemias que, então, grassavam pela cidade. (LIMA, Pedro de. Arquitetura no Rio Grande do Norte: uma introdução. Natal: Cooperativa Cultural Universitária, 2002, p.71).

         A urbe vista de cima encanta ao tempo que provoca reflexões sobre sua feitura de usos e abusos.

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A esperança se vestiu de cinza.

  A esperança se vestiu de cinza.               Aqui faço um recorte de algumas leituras que de alguma forma dialogam sobre os efeitos noc...