segunda-feira, 14 de junho de 2021

A cidade: feitura de usos e abusos.

 

        A cidade é um conjunto de épocas expressas nas fachadas de suas edificações e traçado de suas ruas.  O transeunte no seu “corre-corre” diário a labutar pelo pão de cada dia não percebe os significados e as transformações ocorridas no espaço público. O ônibus lotado, o trânsito caótico, a insegurança...os espaços moldados ao longo do tempo guardam “movimentos” de interesses no redesenho da urbe. Assim pensa o historiador Wesley Garcia: 

A cidade, a partir dos usos diferenciados dos seus espaços, vai se constituindo, não apenas em termos da sua morfologia, de sua materialidade, da construção de moradias em determinadas áreas, por exemplo, mas também dos significados e dos valores atribuídos aos seus diferentes territórios. Assim, a cidade vai se reproduzindo de forma desigual, contraditória, como produto apropriado diferentemente pelos diversos sujeitos e grupos sociais. (SILVA, Wesley Garcia Ribeiro. Cartografia dos tempos urbanos: representações, cultura e poder na Cidade do Natal – década de 1960 -. Natal: EDUFRN, 2011, p.86). 

   Vista do alto: Igreja Presbiteriana e sede da Prefitura de Natal - Foto: Luciano Capistrano


        Do alto, a Igreja Presbiteriana e a sede da Prefeitura de Natal, edificações do século XIX e XX, respectivamente, construídas com finalidades distintas, ainda a manter suas funções originais, são representações de poderes religiosos e políticos, simbolicamente, podemos inferir, são fazedores do espaço urbano. A cidade de Natal tem em sua feitura territorial o “retrato” das disputas dos diversos segmentos da sociedade. O Professor Pedro de Lima, faz uma referencia ao Plano Polidrelli como exemplo do desejo da elite em segregar: 

[...] o Plano Polidrelli superaria o antigo desenho irregular originário da cidade colonial, onde as classes sociais conviviam, praticamente, no mesmo espaço ou guardando uma certa contiguidade [...] serviria como um refúgio, onde as classes dominantes poderiam se proteger do contato com as péssimas condições ambientais e das epidemias que, então, grassavam pela cidade. (LIMA, Pedro de. Arquitetura no Rio Grande do Norte: uma introdução. Natal: Cooperativa Cultural Universitária, 2002, p.71).

         A urbe vista de cima encanta ao tempo que provoca reflexões sobre sua feitura de usos e abusos.

Das ruas às redes: Quinta da História
Gestores do Centro Histórico
Natal Nostálgica
@luciano_capistrano

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