domingo, 27 de fevereiro de 2022

A esperança se vestiu de cinza.

 

A esperança se vestiu de cinza.

            Aqui faço um recorte de algumas leituras que de alguma forma dialogam sobre os efeitos nocivos dos tempos de guerras para a humanidade. Os últimos dias fomos bombardeados com narrativas que buscam justificar as ações guerreiras envolvendo a Rússia e a Ucrânia. Um xadrez da geopolítica difícil de compreender. As nações europeias, os Estados Unidos, organizados na OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), de um lado e a Rússia do outro, puxaram demais o cordão do equilíbrio entre as nações. Hoje vivemos os horrores de uma guerra a provocar perdas de vidas inocentes em nome de interesses nada inocentes por partes das lideranças destes países. Como no Diário de Anne Frank, nos vimos num momento de tristezas onde a esperança se vestiu de cinza.

 

Querida Kitty:

Não posso fazer coisa nenhuma sem pensar naquela gente que partiu. Se rio despreocupadamente, me acho injusta por estar alegre. Mas vou chorar todo o dia? Não, não posso[...] Mas agora preocupa-me problemas sérios. Reconheci, por exemplo, isto, o papai, embora seja tão querido, não pode substituir todo o meu mundo de outrora.( O Diário de Anne Frank).

 

As guerras se alimentam do imaginário nacionalista, sempre foi assim, são em nome dos interesses ditos nacionais que se mobilizam soldados e o fazem marchar para o cenário de atrocidades. Como cantou os legionários: “Existe alguém que está contando com você / Pra lutar em seu lugar já que nessa guerra /Não é ele quem vai morrer.” Neste sentido penso ser a guerra a derrota da política, erro esse, fincado nas narrativas embaladas por um discurso ultranacionalista que sempre “cria” inimigos imaginados para justificar a pais e mães, que receber seus filhos em um caixão com abandeira do seu país ao som do hino nacional é algo a se ter orgulho.

            Dos riscos de uma humanidade que não aprendeu nada.

 

Enquanto os humanos souberem como enriquecer urânio e plutônio, sua sobrevivência depende de saberem dar preferência à prevenção de uma guerra nuclear em detrimento dos interesses de qualquer nação em particular. Nacionalistas fervorosos que gritam “Nosso país em primeiro lugar!” deveriam se perguntar se seu país é capaz de, sozinho, sem um robusto sistema de cooperação internacional, proteger o mundo – ou a si mesmo – da destruição nuclear. (HARARI, Yuval Noah. 21 lições para o século 21. São Paulo: Companhia das Letras, 2019, p. 150).

 

            Finalizo lembrando o 28 de abril de 1986 quando uma grande explosão ocorreu na Usina Nuclear de Tchernóbio, na Ucrânia, sob um regime avesso as liberdades de informação, este desastre transformou-se em um dos maiores já registrados em uma usina nuclear. A negativa oficial das autoridades sobre a verdade dos fatos provocou muito mais vítimas.

Nessa época, a imagem que eu tinha da central nuclear era totalmente idílica. N escola e no instituto nos ensinavam que eram fantásticas ‘fabricas que produziam energia tirada do nada’, onde trabalhavam pessoas de jalecos brancos eu apertavam botões. [...] Tchernóbil explodiu contra o fundo de um total despreparo da consciência e absoluta fé na técnica. Não tínhamos nenhuma informação. Havia montanhas de papéis com o carimbo ‘ultrassecreto’: ‘Declara-se que são secretos os dados do acidente’; Declara-se que são secretos os resultados de tratamentos médicos’; Declara-se que são secretos os índices de afecção radiativa do pessoal que interveio na liquidação’. (ALEKSIÉVITCH, Svetlana. Vozes de Tchernóbil. São Paulo: Companhia das Letra, 2019, p.257).

    Foto: Luciano Capistrano

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

E a Segunda Guerra Mundial? Duas datas para o natalense não esquecer: 28 de janeiro de 1943 e 27 de janeiro de 1945.

E a Segunda Guerra Mundial?

Duas datas para o natalense não esquecer: 28 de janeiro de 1943 e 27 de janeiro de 1945.

 

Neste curto, artigo faço referência as duas datas, a liberdade dos campos de concentração nazista e o acordo assinado pelos governos, brasileiro e norte-americano. O 28 de janeiro de 1943, marcou o célebre encontro do Potengi. O Presidente Getúlio Vargas e Presidente Franklin Roosevelt firmaram o acordo de cooperação militar que abriu as portas do território potiguar para a instalação da Base Aérea Norte-americana no esforço de guerra como ponto de apoio para a travessia das tropas e suprimentos aos combates que se travavam no continente africano e europeu. E o 27 de janeiro de 1945, celebra-se o dia da liberdade. Era o fim do pesadelo de milhares de sobreviventes de Auschwitz. O 27 de janeiro é o Dia Mundial em Memória das Vítimas do Holocausto.

            Gosto de ler sobre os tempos tenebrosos da Segunda Guerra Mundial, sou daqueles que acredita ser importante “lembrar para não repetir” os fatos, ou melhor, não repetir a “onda” nazifascista que varreu a Europa, a partir da Alemanha, levando a humanidade a conhecer os terríveis campos de concentração nazista e suas máquinas de matar vidas. O dia 27 de janeiro de 1945 marca o fim do campo do campo de concentração de Auschwitz-Birkenau. Campo dos horrores, um dos mais terríveis centros de extermínio construído pelos nazistas. O Exército Vermelho, da antiga União Soviética, libertou os sobreviventes.

            Das leituras guardo fragmentos sobre este período das ficções aos relatos reais, o cenário de terror:

[...] Atraídos pelo cheiro, enxames de moscas e mosquitos invadiam o recinto e atacavam com voracidade os corpos emaciados, espalhando mais doenças e torturando as mulheres, que já gemiam de dor e desconforto, com seus incessantes zumbidos e picadas [...]. (MIDWOOD, Ellie. A violinista de Auschwitz: quando não há mais sentido para viver, lute pelo amor...São Paulo: Princípios, 2021, p. 11).

 

[...] Em novembro de 1940, todos os judeus que estavam em Varsóvia foram reunidos e levados para o gueto. Quem tentasse escapar era morto. Por trás dos muros de três metros de altura, protegidos por cercas de arame, centenas de milhares de prisioneiros conviviam esmagados numa área de apenas 2,09 quilômetros quadrados [...]. (HOLDEN, Wendy. Os bebês de Auschwitz. São Paulo: Mediafashion, 2017, p.60. – Coleção Folha de São Paulo).

             As angústias descritas nas narrativas ficcionais baseadas em histórias reais nos é impactante, são dores a escorrer o tempo. As cores cinzas das chaminés de Auschwitz, não apagaram as memórias das milhares de vidas ceifadas. Faz necessário lembrar e fazer ser lembrado estes fatos para, repito, que não se esqueça, para que não se repitam. E a cidade de Natal tem um papel a ser lembrado nesse contexto de lutas contra as cores do fascismo. Não podemos esquecer Parnamirim, a cidade Trampolim da Vitória. Sim os potiguares também participaram do esforço das forças da liberdade democrática contra as tiranias nazifascistas.

 Foto: Hart Preston - Life - Do Grande Hotel o fotógrafo ver os militares na avenida Duque de Caxias passando o cruzamento da Tavares de Lyra / Ribeira - década de 1940.


domingo, 26 de dezembro de 2021

Em 2022 desejo um tsunami de democracia!

 

Em 2022 desejo um tsunami de democracia!

 

“Agosto de 1939: o mundo entra em pânico. Nas embaixadas e cancelarias nos palácios presidenciais e ministeriais, portas são batidas diante da guerra iminente. O acordo de Munique foi ratificado no ano anterior, sem que a tensão entre as nações diminuísse de maneira duradoura. Após invadir a Áustria e o território dos Sudetos, Hitler ameaça a Polônia. Em 23 de agosto, para espanto geral, ele assina um pacto de não agressão com Moscou”.(FRANK, Dan. Paris ocupada: os aventureiros da arte moderna (1940-1944). Porto Alegre: L&PM Editores, 2017, p. 11).

 

            São tempos estranhos, estes que vivemos, quando pensamos na história e observamos o avanço do nazismo sobre as nações. O totalitarismo ganhou o espaço da democracia. A década de 1930 testemunhou o crescimento e fortalecimento do obscurantismo nos quatro cantos da terra. Uma invasão bélica, o caso polonês, apenas coroou o imaginário de milhares de adeptos do nazismo liderado por Adolf Hitler e companhia. A lógica do totalitarismo provocou uma onda a devastar, como um tsunami, os governos democráticos.

            Atualmente essa onda totalitária lança seus tentáculos nos diversos grupos sociais, em uma verdadeira explosão de ódio contra os ideais democráticos/humanistas. Faz necessário ficarmos em alerta. Diante das ameaças a democracia, não podemos tergiversar. Não se negocia princípios democráticos. Neste sentido surfar nas ondas totalitárias é contribuir para a construção de novas “câmaras de gás”. O historiador norte-americano Timothy Snyder, sentencia:

Se os advogados tivessem seguido a norma que proibia execuções sem julgamento, se os médicos tivessem obedecido à regra que proíbe cirurgias sem consentimento, se os executivos tivessem endossado a proibição da escravidão e os burocratas tivessem se recusado a processar a documentação que envolvia os assassinatos, o regime nazista teria enfrentado muito mais dificuldades para dar cabo das atrocidades pelas quais é lembrado. (SNYDER, Timothy. Sobre a tirania: vinte lições do século XX para o presente. São Paulo: Companhia das Letras, 2017, p. 39).

            Esse é nosso papel de ficamos atentos aos ataques contra as instituições democráticas. O nosso tempo é um tempo de risco. Tempos que nos fazem lembrar o “Admirável mundo novo”.

- O ensino pelo sono chegou a ser proibido na Inglaterra. Havia uma coisa chamada liberalismo. O Parlamento, se é que os senhores sabem o que era isso, votou uma lei contra ele. Conservaram-se as atas das sessões. Discursos sobre liberdade do indivíduo. A liberdade de ser ineficiente e infeliz. A liberdade de ser um parafuso redondo num buraco quadrado. (HUXLEY, Aldous. Admirável mundo novo. São Paulo: Globo, 2020, p. 69).

            Aqui, apenas uma inquietação em busca de uma onda de resistência democrática no ano que se avizinha. Venha 2022, venha e traga um tsunami de DEMOCRACIA.

Professor Luciano Capistrano



sexta-feira, 8 de outubro de 2021

JANELA PARA O AMANHÃ (Aluízio Alves)


JANELA PARA O AMANHÃ (Aluízio Alves)
Este é um excelente documentário a dizer da cidade de Natal e das relações de poderes. 
Valeu muito para refletirmos sobre a formação do estado brasileiro!

segunda-feira, 14 de junho de 2021

Memórias, fotografias e cinemas... divagações.

         Caminhar no bairro do Alecrim, o bairro da feira e do um comercio popular pujante da cidade de Natal, sempre é ir ao encontro de novos encantos. A Praça Gentil Ferreira, cenário de grandes eventos artísticos/políticos, com o Relógio marcador do tempo, provavelmente é um dos lugares que mais representa simbolicamente o antigo “Cais do Sertão”. 

        O alecrim guarda em cada avenida numerada, em cada esquina, memórias da urbe. Os vendedores a nos convidar a entrar nas lojas, diversas, como diverso é o comércio, e, os camelôs a disputar espaços nas ruas e calçadas, fazem do bairro uma espécie de caldeirão socioeconômico. Ao olhar o retrovisor do tempo, me delicio com fotografias e testemunhos orais, de registros do Alecrim dos cinemas de ruas. A avenida 2, nas mediações do Relógio ao Banco do Brasil, na década de 1950/1960, era palco, nas tardes de domingo, do encontro de jovens amantes do cinema e das revistas em quadrinhos, sedentos pela “Sétima Arte”, se encontravam no “Palácio Encantado do Alecrim”, o Cine São Luiz, como nos informa o pesquisador Anchieta Fernandes em seu clássico “Ecran natalense”, publicado pelo Sebo Vermelho em 1992. O cinema São Luiz encerrou suas atividades em 7 de março de 1974, em seu lugar foi instalado uma agência do Banco do Brasil. 

      Foto: Emerenciano Jaeci Galvão – Cine São Luiz – acervo IBGE

        Hoje nos encanta vê antigas fotografias, graças a fotógrafos como Jaecy , registros de um tempo não mais presente. É assim a memória: Vivemos as mais variadas coisas, lembramos algumas, esquecemos tantas outras, refletimos, na maioria das vezes, a partir do lembrado sobre o vivido, sem necessariamente controlar o que queremos ou devemos lembrar sobre ele. Muitas vivências deixamos de lado e apagamos, por mecanismos conscientes e inconscientes [...] Uma música, uma foto, um texto, alegrias ou traumas inusitados podem nos fazer lembrar. A essa operação, contínua e inevitável, de alternância entre lembranças e esquecimentos, chamamos de memória. Somos constituídos – nossos valores, comportamentos e ações – pela nossa memória. Se podemos aprender a partir de tantas vivências, esse aprendizado como experiência se faz por meio da memória. (FERNANDES, Rui Aniceto Nascimento [et al.].  História e patrimônio: Rio Bonito. Rio de Janeiro: Mauad X : Faperj, 2014, p.8).

Das ruas às redes: Quinta da história

Gestores do Centro Histórico de Natal

Natal Nostálgica

@luciano_capistrano

A cidade: feitura de usos e abusos.

 

        A cidade é um conjunto de épocas expressas nas fachadas de suas edificações e traçado de suas ruas.  O transeunte no seu “corre-corre” diário a labutar pelo pão de cada dia não percebe os significados e as transformações ocorridas no espaço público. O ônibus lotado, o trânsito caótico, a insegurança...os espaços moldados ao longo do tempo guardam “movimentos” de interesses no redesenho da urbe. Assim pensa o historiador Wesley Garcia: 

A cidade, a partir dos usos diferenciados dos seus espaços, vai se constituindo, não apenas em termos da sua morfologia, de sua materialidade, da construção de moradias em determinadas áreas, por exemplo, mas também dos significados e dos valores atribuídos aos seus diferentes territórios. Assim, a cidade vai se reproduzindo de forma desigual, contraditória, como produto apropriado diferentemente pelos diversos sujeitos e grupos sociais. (SILVA, Wesley Garcia Ribeiro. Cartografia dos tempos urbanos: representações, cultura e poder na Cidade do Natal – década de 1960 -. Natal: EDUFRN, 2011, p.86). 

   Vista do alto: Igreja Presbiteriana e sede da Prefitura de Natal - Foto: Luciano Capistrano


        Do alto, a Igreja Presbiteriana e a sede da Prefeitura de Natal, edificações do século XIX e XX, respectivamente, construídas com finalidades distintas, ainda a manter suas funções originais, são representações de poderes religiosos e políticos, simbolicamente, podemos inferir, são fazedores do espaço urbano. A cidade de Natal tem em sua feitura territorial o “retrato” das disputas dos diversos segmentos da sociedade. O Professor Pedro de Lima, faz uma referencia ao Plano Polidrelli como exemplo do desejo da elite em segregar: 

[...] o Plano Polidrelli superaria o antigo desenho irregular originário da cidade colonial, onde as classes sociais conviviam, praticamente, no mesmo espaço ou guardando uma certa contiguidade [...] serviria como um refúgio, onde as classes dominantes poderiam se proteger do contato com as péssimas condições ambientais e das epidemias que, então, grassavam pela cidade. (LIMA, Pedro de. Arquitetura no Rio Grande do Norte: uma introdução. Natal: Cooperativa Cultural Universitária, 2002, p.71).

         A urbe vista de cima encanta ao tempo que provoca reflexões sobre sua feitura de usos e abusos.

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domingo, 7 de março de 2021

Cine Nordeste – Para além de uma saudosa memória dos cinemas de rua

 Cine Nordeste – Para além de uma

saudosa memória dos cinemas de rua

 

“No escurinho do cinema

Chupando drops de anis

Longe de qualquer problema

Perto de um final feliz”.

No rádio ouço Rita Lee, “Flagra”. Talvez embalado pelo som da nostalgia, nestes tempos pandêmicos as emoções ficam mais latentes, a flor da pele. Fiquei a pensar sobre os “cinemas de ruas”, eu que gosto de andar por ruas e becos da urbe, me vi diante do antigo Cine Nordeste, na rua João Pessoa, nas proximidades da Praça Kennedy e Praça Padre João Maria, ali, passei várias tardes de domingo. Hoje o prédio, fechado, tem embaixo de sua marquise a “cama” dos desvalidos, dos muitas vezes invisíveis sociais. O Cinema Nordeste, empreendimento da Cireda, foi inaugurado em 20 de dezembro de 1958, um marco na história das salas de cinemas em Natal. O Cinema Nordeste, foi o primeiro a ter um sistema de ar condicionado. Durante muitos anos a Sorveteria Oásis, vizinho ao cine, era o “point” pós filmes. Hoje a edificação guarda para as gerações das décadas de 1950 á 1980, memórias afetivas das exibições na grande tela aos “flagras” quando as luzes acendiam. Tempo, tempo, tempo... Hoje não encontramos os “cinemas de ruas”, mas antigos problemas sociais pulsam. Anchieta Fernandes, em seu clássico “Écran Natalense”, reproduz uma nota publicada no jornal A República, assinada por R. X.: “... os mendigos importunavam as pessoas que ali vão tomar um refrigerante, um sorvete ou outra coisa e, isso recomenda mal a direção da sorveteria e a própria Cidade.” Cine Nordeste – Para além de uma saudosa memória dos cinemas de rua, antigos problemas a desafiar a urbe do tempo presente.

 (Referência: CAPISTRANO, Luciano Fábio Dantas. Divagações: memória, fotografia e história. Natal: Sebo Vermelho, 2019; FERNANDES, Anchieta. Écran Natalense: Capítulos da história do cinema em Natal. Natal: Sebo Vermelho, 2007).

Projeto: Das ruas às redes: Quinta da história.

(Foto e texto: Professor Luciano Capistrano)

   Prédio do Antigo Cinema Nordeste - Foto Luciano Capistrano/2021

A esperança se vestiu de cinza.

  A esperança se vestiu de cinza.               Aqui faço um recorte de algumas leituras que de alguma forma dialogam sobre os efeitos noc...