A cidade e seus caminhos de memórias: um convite feito poesia
Luciano Capistrano
Professor de História – Escola Estadual Myriam Coeli
Mestrando – Profhistória /UFRN
Gosto de caminhar por ruas e becos de Natal, fico encantado ao dialogar sobre as questões relacionadas ao Patrimônio Cultural. Sempre que posso realizo “caminhadas históricas”, nestes momentos faço das minhas inquietações um convite, para os participantes destas “andanças”, compreenderem a ocupação do solo natalense e a formação deste lugar com todas as suas idas e vindas, da construção do Forte dos Reis Magos, passando pelos trilhos entre tabuas da antiga ponte de ferro, ao som dos hidroaviões, e, as sirenes do blecaute da cidade que foi Trampolim da Vitória, enfim, o convite é para mergulhar nos riacho das águas, nem sempre claras, da história da urbe de Câmara Cascudo.
Um convite feito poesia:
Natal
de peixe boi à fortaleza
não existe mistério
tudo todo mundo sabe
neste pequeno espaço
deste perímetro urbano
não há segredo no rosto da cidade
todo dia a Estrela Dalva lumia
no peito desta gente multicor
um velho sentimento índio
que não seja traidor
tudo todo mundo sabe
sob a lua ou sob o sol desta cidade
um velho sentimento índio
resistindo pela eternidade
(João da Rua – O Canto do Colonizado Contra o Entregador)
A poesia é o ponto inicial de nossas caminhadas, são os poetas e os cronistas, ao lado de memorialistas, fotógrafos, os retalhos sobre o qual os historiadores como as magnificas costureiras, vão ponto a ponto, retalho a retalho, costurando a evolução urbana da urbe. A Praça André de Albuquerque com sua Coluna aos Mártires da Revolução de 1817, Padre Miguelinho e André de Albuquerque, no entorno, a Igreja de Nossa Senhora da Apresentação, o Memorial Câmara Cascudo, o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, a Pinacoteca do Estado, a Praça Sete de Setembro, e, as ausências com seus significados, como por exemplo, a Galeria de Artes, construída durante a administração do Prefeito Djalma Maranhão e derrubada nas administrações advindas depois do golpe militar civil de 1964.
Praça André de Albuquerque - Foto Luciano Capistrano
Este texto, curto, feito em um domingo de agosto, tem apenas o objetivo de fazer um convite para conhecermos nossa história urbana, a cidade cresceu nos rastros das aeronaves norte-americanas. Natal avançou para além das Quintas e é essa cidade que se descortina por ruas e becos, onde mulheres e homens desceram e subiram a ladeira do cemitério do Alecrim, passaram pelo relógio da Praça Gentil Ferreira e seguiram, expandiram o olhar sobre o Rio Potengi e ocuparam a região de Igapó, criando novos lugares de morada, até a construção dos diversos conjuntos habitacionais dando uma feitura que oscila entre uma ocupação ordena e desordenada.
Finalizo, o texto, mas deixo o recado: a cidade e seus caminhos de memórias: um convite feito poesia.
Procuro
- nem sei se existe –
um luminoso lugar.
Não quero esta margem esquerda e triste.
Quero as luzes
do outro lado do rio.
Escuro,
até onde aviste
o ansioso olhar.
Não quero esta margem direita e triste.
Quero as sombras
do outro lado do rio.
(Paulo de Tarso Correia de Melo – Margens: Igapó – Cais Tavares de Lyra)
Caminhos pela história - Foto Luciano Capistrano
Nenhum comentário:
Postar um comentário