Minhas Inquietações em voz alta:
Os sebos, a Segunda Guerra Mundial e Natal.
Luciano Capistrano
Professor de História
Mestrando – Profhistória/UFRN
Já faz um longo tempo que tenho a mania de andar pelos sebos da cidade, uma semana sem visitar os sebos é uma semana meio que perdida. Essa boa mania herdei do meu pai, Benjamin Capistrano Filho. Papai um leitor voraz, um amante dos livros sem nenhum pudor, me ensinou a seguir os caminhos dos ácaros em estantes empoeiradas. Neste universo dos livros usados fui ao encontro de vozes que dizem da humanidade e da desumanidade. Faço essa introdução para conclamar o leitor a se deixar cair no fosso das belas profundezas, belas e inquietantes, de saberes prontos a explodir em nós as mais fantásticas das experiências: a viagem por entre parágrafos!
Vozes inquietantes povoam os sebos.
Nessas minhas andanças, Balalaika, Sebo Vermelho, Cata-Livros, Sebo Rio Branco... enfim, fui de grão em grão, ou, de livro em livro, formando minha biblioteca, pequena, mas muito amada. Sou grato a papai e aos sebistas por possibilitar essa minha aventura neste universo encantado. Espaço democrático e de um aprendizado único, muitas vezes fico em silêncio a ouvir os frequentadores, e, de orelhas abertas escuto das coisas corriqueiras do cotidiano até as lições sobre os grandes nomes da literatura. Momentos únicos.
Mas me movo a escrever, me atrevo, sim a escrita não é fácil, sempre saí meio enviesada, meio provocativa, agora, sempre fui como uma onda do bem querer. Sim, o desejo é partilhar minhas inquietações em voz alta e, então, encontro no ofício de escrever essa possibilidade de expor o que penso, o que me causa inquietação. Sigamos.
Tenho uma prateleira dedicada a Natal e a Segunda Guerra, um tema que muito me interessa. Um dos maiores eventos que Natal já sediou, a construção e o funcionamento da Base Aérea Norte-americana. Entre os livros, comprados nos sebos, destaco aqui três: “Os americanos em Natal”, “Natal, USAM”, de Lenine Pinto e o livro de Cleantho Homem de Siqueira, “Guerreiros Potiguares”, faço uma referência a essas obras para externar minha angústia, explico adiante.
Sempre me inquietou o fato de Natal, a Cidade Trampolim da Vitória, como ficou conhecida durante a Segunda Guerra Mundial não ter um roteiro cultural específico sobre os tempos da guerra e o solo Potiguar com suas marcas desse período. Nos perdemos em algum momento com o turismo de sol e mar e esquecemos da participação da capital norte-rio-grandense no cenário da guerra e da aviação mundial. Existem esperança com a construção, espero finita, do Memorial da Aviação, na Antiga Rampa, uma obra que se arrasta há alguns anos.
Costumo, sempre, realizar “Circuitos Históricos”, por ruas e becos e a cada esquina me deparo com vestígios desse grande acontecimento que foi a instalação de uma base americana, basta olhar a cidade de Parnamirim para testemunhar o tamanho da importância desse momento para o crescimento da urbe e, inclusive, entender o desmembramento da região suburbana, hoje uma das maiores cidade do Rio Grande do Norte.
Trago essa questão por compreender ser necessário assumirmos de vez nosso Patrimônio Cultural e isso passa necessariamente por uma mudança de políticas públicas. Sinais já se ver ao longe, quando erguem um espaço dedicado a essa história, quando instituições ligadas ao empresariado desenvolve projetos na perspectiva de elaborar roteiros turísticos com a temática da Segunda Guerra Mundial e aviação. É preciso avançar. Nestes últimos anos a produção historiográfica tem aberto novas veredas sobre Natal e a Segunda Guerra Mundial, são novos olhares sobre o tema, o que nos renova a esperança perdida.
Finalizo este artigo, com uma foto do monumento em homenagem ao Mestre Luiz da Câmara Cascudo, o alvissareiro da urbe. Disse Cascudo: “Errariam menos os homens se lessem mais a história”.
👏👏👏👏👏
ResponderExcluirParabéns pelas palavras e reflexões. Concordo com vc é preciso penser o nosso turismo, cultura e memória para além do sol e do mar...
Obrigado pelo seu comentário. Exatamente, pensar o turismo para além do mar!!
ExcluirParabéns pelo belo texto. O turismo natalense é tratado de forma amadora, o roteiro dedicado à segunda guerra deveria já deveria ter sido adotado ontem. Os caras ficam apostando nos tais vôos charters, que transportam, apenas, peões europeus sedentos por sexo. O mês de dezembro com seus encantos, também deveria, ser um período a ser promovido na atividade turística potiguar.
ResponderExcluirObrigado amigo pelo comentário, sempre pertinente nas observações. Valeu
ExcluirComo morador do centro histórico que sou, me entristece sempre que saio de casa e me deparo com ruínas de casas antigas.O abandono dói, principalmente pra quem viveu a infância e adolescência por estas ruas...
ResponderExcluirVerdade amigo, a Educação Patrimonial, na minha opinião é a melhor ferramenta para se criar políticas publicas de preservação de nossa memória urbana
ExcluirVolto a insistir na ideia de um passeio ciclístico cultural pela ribeira e centro histórico, todo primeiro domingo de cada mês, denominado " Pedalando pela nossa história". Moradores do bairro, turistas e convidados seriam todos bem vindos, como uma nova forma de estimular nossa história e revitalizar a ribeira e o centro. Fica a dica.
ResponderExcluirVamos sim, uma boa ideia. Neste mês de dezembro, lançaremos o roteiro, aguarde. Um abraço
ExcluirGrande Luciano Capistrano, tá demorando pra esse homem ser secretario de cultura desse município! É preciso reavivar e preservar a memória da nossa tao amada Natal. Só se ama aquilo que se conhece. Conheçamos a nossa história, conhecamos a nossa Natal e a amaremos ainda mais!
ResponderExcluirKKKK, grande amigo, não cacife para ser secretario, mas fico no fazer historiográfico dando meus pitacos
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