Olhos da Cidade… uma inquietação em voz alta.
Luciano Capistrano
Luciano Capistrano
Professor de História: Escola Estadual Myriam Coeli
Mestrando: Profhistória/UFRN
Foto: Luciano Capistrano - Um olhar, uns clicks... uma cidade se descortina!
Sempre que olho essa paisagem, da foto acima, fico encantado com a beleza de nossa orla. É preciso pensar o desenvolvimento da urbe, agora sigamos os conselhos do mestre Câmara Cascudo em sua crônica "Olhos da Cidade", em um determinado trecho diz o Historiador da Cidade do Natal: "... Quem irá lembrar-se do direito de alguém ter diante dos olhos uma paisagem ridente ou um muro banal? [...] Diga-se que o Miradouro não é um direito oferecido ao turista, ao viajante, ao estrangeiro, mas ao homem da cidade, ao morador, ao habitante, o elemento diário e comum. Possa esse direito afirmar-se ao lado do patrimônio natural da cultura, como um facto visível e próprio da cidade moderna." ( Diário de Natal, 5 de janeiro de 1947)
O Historiador Câmara Cascudo não está sozinho nessa preocupação com, a cidade e sua paisagem natural, alguns anos antes o Educador Henrique Castriciano, faz um alerta sobre o crescimento urbanos da cidade, a ocupação dos espaços e o direito de “OLHAR”, que deve ser de todos os cidadão independente das condições econômicas e sociais das pessoas. Neste sentido se refere a descida da avenida Câmara Cascudo, a antiga Junqueira Aires o fundador da Escola Doméstica:
A paysagem que serve de moldura à cidade é, no seu conjunto de uma grande belleza melancolica. Perto da barra, vê-se a fortaleza dos Reis Magos, com suas muralhas históricas e o seu perfil saudosamente vetusto; mais proximo do porto, à esquerda, dunas cobertas de hervas entanguidas; o Morcego, hoje povoado de graciosas vivendas e toucado de vegetação nos bons tempos da mocidade de Lourival; o morro de Areia Preta; pequenas choças de pescadores; as casas que se confundem à medida que nos aproximamamos do caés [...] Mas é da terra que se descortinam belissimos fragmentos de natureza nortista; por exemplo, o panorama admiravel que se vê da egreja do Rosario. D’ahi as luminosas manhãs de verão, contempl-se o rio, muito azul, apenas levemente ondeiado, deslisando como atravez de um sonho mystico, entre a moldura dos mangues immoveis. (A Republica, 05/07/1907)
Claro que a urbe cresceu para além das Quintas, subiu e desceu ladeiras, construiu novos lugares de morada e comércio, ergue-se ao longo do tempo uma urbe, ordenada e desordenada. São os “embates” dos fazedores da cidade. Sempre que caminho com grupos de estudantes, por ruas e becos de nossa cidade, costumo dizer que a cidade é feita em camadas, e cada camada representa um determinado momento. Nem sempre são momentos pacíficos, quase sempre são resultados de confrontos de projetos de cidade. A urbe não é o lugar da neutralidade, são os diversos os projetos da “cidade que queremos”, costumo também citar a luta que resultou na Via Costeira e no Parque das Dunas. Um confronto que rendeu bons frutos, assim penso.
Bem retorno a Cascudo e Castriciano, uma crônica de 1947, uma outra crônica de 1907, nas duas algo em comum o olhar dos dois intelectuais sobre o “progresso” a desenhar uma nova cidade. Uma urbe surge sinuosa, cheia de dúvidas em um tempo das incertezas modernizadoras.
Os olhos da cidade requer uma reflexão sobre o direito à cidade. Um projeto de cidade pautado em qual caminho: “...uma paisagem ridente ou um muro banal?...” Eis o dilema que vem de longe, a cada geração as questões se renovam. Seja hoje, quando a instalação de uma faixa de pedestre, na avenida Salgado Filho, causa um acirrado debate, seja, nos anos de 1910, quando a legislação municipal busca normatizar o serviço de “Balaeiro” determinando o lugar deste profissional nas ruas da cidade.
O Historiador da Cidade de Natal, Luís da Câmara Cascudo, nomeado pelo Prefeito Sylvio Pedroza, em sua obra “História da Cidade do Natal”, publicada sob encomenda do Executivo Municipal e publicada logo depois da Segunda Guerra Mundial, feita ainda sobre os impactos da guerra em nossa cidade, principalmente com a instalação em nosso solo de uma base aérea norte americana, assim se refere a especulação imobiliária que avançava no bairro do Alecrim:
[...] O que chamamos, com suficiência e pedantismo, problemas, são apenas soluções sabidas e retardadas pela falta de finanças ou vontades positivas., Os problemas surgirão, vertiginosos e horrendos, quando o Alecrim deixar de ser uma esperança para bairro residencial e enriquecer intermediários e donos de lotes. Será um capítulo sinistro registrar o desaparecimento útil da terra para uso financeiro de uma classe melancolicamente míope além das fronteiras dos escritórios. (CASCUDO, Luís da Câmara. História da Cidade do Natal. Natal: EDUFRN, 2010, p.31-32).
A cidade que queremos é o mote dos diálogos e debates dos quais temos de nos fazer presentes, pensar a urbe, como foi objeto de preocupações de Henrique Castriciano e Câmara Cascudo. Façamos o debate. Este curto artigo, “Olhos da Cidade… uma inquietação em voz alta”, é apenas uma conclamação ao diálogo fraterno e sempre pautado nos trilhos da democracia!
Caro amigo, as suas preocupações pro cedem, os vendilhões do templo entregarão às nossas paisagens por trinta moedas quaisquer. Esse prefeito que parece um promoter, de tanta festa que faz, está feito um carcará à espreita de um burrego. Aliás, a nossa experiência com vices têm sido lamentável, vide Michel Temer...
ResponderExcluirVerdade amigo1
ExcluirLUCIANO, permita-me a leitura de trechos desse seu comentário no nosso programa "Sem Amarras", na 97.9 FM, das 18 às 19 horas, onde debatemos o Plano Diretor. Excelente seu artigo
ResponderExcluirObrigado
ExcluirPode fazer a leitura Antonio Melo. fique a vontade!
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirParabéns amigo professor e historiador! Seu artigo é ultra oportuno e enriquecedor. Mostra, inclusive, que a angústia e luta para tentar proteger as belíssimas paisagens de Natal e, especialmente, dos melhores mirantes públicos, já eram presentes muitas décadas atrás.
ResponderExcluirJá perdemos os melhores Mirantes da Avenida Deodoro e da Praça André de Albuquerque. Mais recentemente e sem alarde, perdemos o lindo Por-do-sol no platô do Centro de Turismo. Agora, a destruição da vez, apoiado por quem tem a obrigação de zelar, é a ainda intacta Plataforma de Mirantes da Praia do Meio, na Getúlio Vargas. Ainda podemos evitar o desastre patrimonial. Manter a lei que define a Zona Especial Turística 3, que protege as paisagens públicas locais ao limitar o gabarito máximo da verticalização na orla e vizinhança. Sugiro, para ampliar a valorização e a defesa, que transformemos uma das vias da Getúlio Vargas, os Mirantes formais e a área do Reservatório 01 de água em um parque urbano linear, com foco principal em esportes de aventura e lazer contemplativo. Projeto Parque dos Mirantes Públicos da Praia do Meio. A luta companheiro.
Obrigado pela leitura Professor Milton, muito importante e pertinente suas reflexões, estamos juntos!
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