terça-feira, 4 de julho de 2017

São João, eu só sei que é bom demais!!

São João, eu só sei que é bom demais!!
Luciano Capistrano
Especialista em História e Cultura Afro-brasileira e Africana/UFRN
Pós-graduando em Educação Ambiental / Instituto Kennedy
Professor: Escola Estadual Myriam Coeli
Historiador: SEMURB/Parque da Cidade Dom Nivaldo Monte

"Na noite de São João
folga o povo a seu contento;
mocinhas morrendo estão
de arranjarem casamento." 
(MELO, Veríssimo de. Superstições de São João. Natal: Sebo Vermelho, 2002, p.3)

Com essa quadra do cancioneiro ibérico, chamo a atenção para os festejos juninos, tão tradicionais no Nordeste brasileiro. Originário das festas pagãs, trazidos pelos portugueses ao sopro dos ventos a fazer navegar as caravelas, aqui aportando o encontro dos povos nativos e os negros africanos, fez surgir uma das maiores festividades do Brasil com a cara do povo brasileiro.
Celebrar a colheita, a fertilidade da terra, este foi o mote  de origem  das Festas Juninas. No mundo católico abraçou os festejos e o transformou em uma celebração a São João Batista, o primo de Jesus, responsável pelo batismo do povo cristão.
No Brasil, as festas joaninas foram denominadas da juninas, em referência a São João Batista. 
A região nordestina, castigada pela seca, característica em que o homem e a mulher sertaneja, aprenderam a conviver e ser forte, de geração em geração adquiriu a firmeza do mandacaru. A celebração a terra e a fertilidade, com o advento do período de chuvas, cresceu no Nordeste a tradição do São João.
Um mês dedicado aos três santos: dia 13 Santo Antônio, dia 24 São João e dia 29 a São Pedro. 
O tempo, as transformações socioculturais, fizeram dessa festa tão nordestina, tão interiorana, amigo velho não diria perder as 'raízes", eu diria, para usar o jargão das quadrilhas, a tradição foi aos poucos estilizada.
Os Arraiais, hoje escaços, eram erguidos em toda a cidade, ruas se enfeitavam, o colorido de balões e bandeirinhas dava o tom da tradição, aquele cheiro do interior, da fazenda , do sitio, invade a cidade. Como aponta a professora Luciana Chianca:

Nas ruas, as animações recriavam o ambiente dos "bosques" e "sítios", através de uma decoração bem características. Um artigo d'A República de 26 de junho de 1900 conta que "em todas as ruas apareceram as tradicionais fogueiras, os bosques e outros motivos de decoração." (CHIANCA, Luciana. A festa do interior: São João, migração e nostalgia em Natal no século XX. Natal: EDUFRN, 2006, p.33)


   Foto: Luciano Capistrano - A rua se vestiu de São João.

Barracas, balões, bandeirinhas coloridas, enfim, ruas vestidas de São João, este era o clima da cidade em noites juninas, infelizmente, amigo velho, os tempos são outros e as ruas, raras exceções, deixaram de ter seus arraiais. A violência, a falta de segurança em nossa ruas, contribuiu e muito para essa situação de ruas vazias. Claro que existem outros fatores, mas, sem duvidas a violência é o principal motivo da diminuição de arraial de ruas.
Os tempos são outros, na Natal do passado o mês de junho, era repleto de festejos, fogueiras, quadrilhas, tradicionais - as estilizadas são releituras recentes -, podia-se vivenciar o São João em todos os cantos da cidade.
As famílias reuniam-se nas calçadas, acendia-se fogueiras, os festejos era um momento de confraternização. Octavio Pinto, em suas reminiscências, descreve as noites de São João da cidade do início do século XX:

Na véspera papai já havia comprado o sortimento de fogos: traques de chumbo e de velha (estouro), pistolas, busca-pés, rojões, estrelinhas [...] balões que subiam para o céu [...] E começava a se soltar os fogos [...] Depois todos que estavam na calçada e no jardim iam para a sala participar da ceia de canjica, bolo de milho, cuscus, pamonha, licor de genipapo, doce de mangaba, etc. ( PINTO, Octavio. Reminiscências. Rio de Janeiro:Edição do autor, 1979, p.48)

A urbe, cresceu para além das Quintas e com ela novos desafios, agora como no passado o mês dos festejos juninos continua a provocar na cidade um reencontro com as tradições, como ficar indiferente a ouvir a sanfona e a voz marcante de Luiz Gonzaga e não olhar para o céu?

Olha pro céu 
(Luiz Gonzaga)

Olha pro céu, meu amor
Vê como ele está lindo
Olha pra quele balão multicor
Como no céu vai sumindo

Foi numa noite, igual a esta
Que tu me deste o coração
O céu estava, assim em festa
Pois era noite de São João

Havia balões no ar
Xóte, baião no salão
E no terreiro

O teu olhar, que incendiou
Meu coração!

Bem meu amigo velho, apenas de uma coisa eu tenho certeza: São João, eu só sei que é bom demais!!

Viva São João - Foto: Luciano Capistrano


Arraiá da Escola Sesc - Foto: Luciano Capistrano

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A esperança se vestiu de cinza.

  A esperança se vestiu de cinza.               Aqui faço um recorte de algumas leituras que de alguma forma dialogam sobre os efeitos noc...