segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Eu e a fotografia: uma confissão

Eu e a fotografia: uma confissão
Luciano Capistrano
Professor de História: Escola Estadual Myriam Coeli
Mestrando Profhistória / UFRN

         A fotografia entrou na minha vida através de minha esposa Beth, que chamo carinhosamente de nega. Neste Setembro Amarelo, faço um curto relato de minha história com a fotografia, e, faço isso por dois motivos. Primeiro escrever me ajuda a enfrentar os dilemas da vida e, o segundo motivo, reside em acreditar na partilha de vivências, quem sabe este diálogo não permita a outros refazerem caminhos. Bom, vamos a história.
           O ano era 2015, a vida não podia ter sido tão generosa comigo, pai de dois Joãos, casado com uma nega maravilhosa, chefe do Setor de Educação do Parque da Cidade, Professor de História, minha paixão, da Escola Estadual Myriam Coeli, e, para completar este cenário de felicidade, fui aprovado no Mestrado Acadêmico de História da UFRN, um antigo sonho. Tudo perfeito.
       Mas a vida amigo velho, tem curvas sinuosas. Durante meu percurso no fabuloso ano de 2015 fui me deixando levar por uma onda de sentimentos não bem compreendidos, dias se passaram e eu como que embalado pelo samba, “... ia deixando a vida me levar…” Não percebia que um fosso de sombrias criaturas se abria diante de mim, não conseguia ver que já estava caminhando por um solo pantanoso. . .


DEPRESSÃO 

Às vezes 
É uma dor 
Silenciosa 
Sem ser dor 
Chega 
Invisível 
Aconchega-se 
No corpo, na alma 
Traiçoeira 
Abraça o coração 
E a mente 
Que não mente 
Exprime-se em um mar 
De vazios 
De um querer viver 
Impertinente 
Simplesmente feliz! 
(Luciano Capistrano) 

            Nada justificava os dias de tristezas, as insónias, a falta de vontade… Sim, vivi um período de dores silenciosas, do tipo que chega e não sabemos por que e nem como chegaram. Nestes dias de tormentas, vivi meu porto seguro…

Para sempre amar 
(para a nega)

Amar para sempre amar 
Em dias de sombras 
Amar, amar sem dúvidas 
Ou amar com todas as dúvidas! 
Amar para sempre amar 
Em dias de luzes 
Amar, amar ao ritmo do vento 
Para sempre... 
Amar, amar ao perfume das rosas 
Amar, para sempre 
Amar, por toda a minha vida... 
Para sempre amar. 
(Luciano Capistrano) 

             E foi esse porto seguro, a nega, que me fez segurar os dias cinzas.
          Foi nestes dias confusos que encontrei a fotografia, um presente dado a mim por minha nega. Ela tinha sido presenteada por uma máquina fotográfica, e lá estava ela toda empolgada com o mundo da fotografia, e sempre me falando com um brilho nos olhos dos clicks. Foi então, assim, me conquistando, através das alegrias da nega, que o ato de fotografar passou a fazer parte do meu viver. Deste momento em diante, minha vida era: um olhar, um celular, uns clicks!
       Acredito que fui salvo do abismo da depressão pelo mundo mágico dos clicks, faço deste curto artigo, “ Eu e a fotografia: uma confissão”, uma advertência, neste que é o mês dedicado a prevenção do suicídio, não se deixe levar por um abismo sem fim. Respeite seus sentimentos, o corpo, a alma, dá sinais, alguns silenciosos sangram, nos corroem por dentro, o que devemos fazer? Respeitar, repito, as dores silenciosas, e falar, dizer o que senti, jogar para fora o que nos maltrata nas entranhas da alma, e, procurar ajuda, ninguém é o super homem. Se necessário um apoio psicológico/médico.
         Finalizo com uma foto que fiz para lembrar o Setembro Amarelo:

Foto: Luciano Capistrano - Setembro Amarelo - Viver Vale Mais!

sábado, 21 de setembro de 2019

Livros de memórias: um doce percurso sobre a urbe.

Livros de memórias: um doce percurso sobre a urbe.
Luciano Capistrano
Professor de História
Mestrando Profhistória / UFRN

      Fiquei sabendo de Décadas, livro de Clementino Câmara, ouvindo umas conversas no Sebo Vermelho. Sim sempre gostei dos “sons” que ecoam nos sebos, muita informação encontra-se nas rodas de bate papo. São os cantões, as cocadas, de antigamente, e, foi então em um desses lugares mágicos que ouvi pela primeira vez o nome de Clementino Câmara. Desde aquele momento passei a “cata” o livro Décadas, curioso em conhecer a trajetória das memórias do Professor de diversas gerações da capital potiguar.
      De idas e vindas, por entre poeiras e ácaros, encontrei o livro. Logo nas primeiras páginas, o autor faz uma deliciosa advertência sobre sua escrita:

Mas este livro não é apenas de uma recordação de nossa vida; ludâmbulo de nova espécie, fizemos este passeio aos tempos que se foram - desde aqueles em que o “boi calemba” e os “congos”, para obter permissão de brincar, dançavam primeiro em frente á chefatura de polícia, na rua da Conceição, bem perto do Palácio do Governo; em que se fazia a fogueira de São João na Rua Grande, hoje Praça André de Albuquerque; em que as “Lapinhas” do Antônio Elias e José Lucas, e os Fandangos de Chico Bilro constituíam nota do dia [...]. (CÂMARA, Clementino. Décadas. Ntal: EDFURN, 2018, p.9)

      Radiante eu estava diante de um livro de memórias com doce percurso sobre uma urbe que não existe mais, uma urbe do passado. Tratava-se de uma Natal que conheceu o fim de um século, o século XIX e um amanhecer de um novo século, o século XX. O interessante nessa trajetória inicial, é o cenário urbano fazer parte integrante da narrativa “autobiográfica”. Confesso me atrai as memórias, gosto de fazer, este passeio, este caminhar pelas ruas da cidade através dos memorialistas.
      Clementino Câmara através de suas memórias afetivas nos apresenta uma Natal do passado, uma cidade memória. A cidade que desce a ladeira, e chega na Ribeira, no Cais da Tavares de Lira, e entra nas terras do sítio pertencente ao “Bom Jesus das Dores”, é uma Natal a ser explorada nas páginas de Décadas. A cada informação de sua vida, um pouco da urbe se apresenta, como pro exemplo no seu encontro com os primeiros evangélicos da cidade: 

Numa terça-feira de maio de 1901, entrei na igreja do Bom Jesus, onde se rezavam os terços do mesmo mês. Depois fui pela atual rua Frei Miguelinho e vi num salão uma reunião de diversas pessoas. Cantava-se. Aproximei-me e fiquei com outros curiosos no “sereno”. Diante do auditório, tendo a iluminar-lhe a loira cabeça um candeeiro a querosene, encontrava-se João Ferreira Nobre com a Bíblia aberta, pregando.(CÂMARA, Clementino. Décadas. Ntal: EDFURN, 2018, p.74)

        Estes dois fragmentos são bem ilustrativos das minhas inquietações dessa “cidade” despida por cronistas/memorialistas. Busco neste universo de memórias, tecer os retalhos das lembranças narradas, na formatação de Natal. Tenho em minha estante um lugar especial para o memorialistas da urbe, são vozes prontas para narrar a cidade. Me delicio neste diálogo, eu e os memorialistas “habitantes de minha biblioteca”, para lembrar o professor Américo de Oliveira. Um desses habitantes é Lair Tinôco e seu “Tempo de Saudade”.

[...] Todas as tardes, o meu avô, Dodô, como eu e minha irmã o chamávamos, pegava na minha mão e me levava para olhar a enchente do potengi. As águas barrentas lambiam os degraus de pedra do pequeno cais e até espraiavam-se pelo calçamento regular da Av. Tavares de Lira [...] Na volta sempre dávamos uma entradinha na Rua Chile. Lá ficava a “Dispensa Natalense”, o melhor armazém de cosmétiveis da nossa cidade naqueles idos. (TINÕCO, Lair. Tempo de Saudade. Natal: Fundação José Augusto, 1992, p. 73-74)

         São os livros de memórias: um doce percurso sobre a urbe, este é o convite deste curto artigo. Deixo para você leitora e leitor este convite, se joguem neste mundo das memórias e pise no chão de uma Natal, cidade memória.





sábado, 14 de setembro de 2019

Olhos da Cidade… uma inquietação em voz alta.

Olhos da Cidade… uma inquietação em voz alta.
Luciano Capistrano
Professor de História: Escola Estadual Myriam Coeli
Mestrando: Profhistória/UFRN

Foto: Luciano Capistrano - Um olhar, uns clicks... uma cidade se descortina!

           Sempre que olho essa paisagem, da foto acima, fico encantado com a beleza de nossa orla. É preciso pensar o desenvolvimento da urbe, agora sigamos os conselhos do mestre Câmara Cascudo em sua crônica "Olhos da Cidade", em um determinado trecho diz o Historiador da Cidade do Natal: "... Quem irá lembrar-se do direito de alguém ter diante dos olhos uma paisagem ridente ou um muro banal? [...] Diga-se que o Miradouro não é um direito oferecido ao turista, ao viajante, ao estrangeiro, mas ao homem da cidade, ao morador, ao habitante, o elemento diário e comum. Possa esse direito afirmar-se ao lado do patrimônio natural da cultura, como um facto visível e próprio da cidade moderna." ( Diário de Natal, 5 de janeiro de 1947) 
             O Historiador Câmara Cascudo não está sozinho nessa preocupação com, a cidade e sua paisagem natural, alguns anos antes o Educador Henrique Castriciano, faz um alerta sobre o crescimento urbanos da cidade, a ocupação dos espaços e o direito de “OLHAR”, que deve ser de todos os cidadão independente das condições econômicas e sociais das pessoas. Neste sentido se refere a descida da avenida Câmara Cascudo, a antiga Junqueira Aires o fundador da Escola Doméstica: 

A paysagem que serve de moldura à cidade é, no seu conjunto de uma grande belleza melancolica. Perto da barra, vê-se a fortaleza dos Reis Magos, com suas muralhas históricas e o seu perfil saudosamente vetusto; mais proximo do porto, à esquerda, dunas cobertas de hervas entanguidas; o Morcego, hoje povoado de graciosas vivendas e toucado de vegetação nos bons tempos da mocidade de Lourival; o morro de Areia Preta; pequenas choças de pescadores; as casas que se confundem à medida que nos aproximamamos do caés [...] Mas é da terra que se descortinam belissimos fragmentos de natureza nortista; por exemplo, o panorama admiravel que se vê da egreja do Rosario. D’ahi as luminosas manhãs de verão, contempl-se o rio, muito azul, apenas levemente ondeiado, deslisando como atravez de um sonho mystico, entre a moldura dos mangues immoveis. (A Republica, 05/07/1907)

              Claro que a urbe cresceu para além das Quintas, subiu e desceu ladeiras, construiu novos lugares de morada e comércio, ergue-se ao longo do tempo uma urbe, ordenada e desordenada. São os “embates” dos fazedores da cidade. Sempre que caminho com grupos de estudantes, por ruas e becos de nossa cidade, costumo dizer que a cidade é feita em camadas, e cada camada representa um determinado momento. Nem sempre são momentos pacíficos, quase sempre são resultados de confrontos de projetos de cidade. A urbe não é o lugar da neutralidade, são os diversos os projetos da “cidade que queremos”, costumo também citar a luta que resultou na Via Costeira e no Parque das Dunas. Um confronto que rendeu bons frutos, assim penso.
            Bem retorno a Cascudo e Castriciano, uma crônica de 1947, uma outra crônica de 1907, nas duas algo em comum o olhar dos dois intelectuais sobre o “progresso” a desenhar uma nova cidade. Uma urbe surge sinuosa, cheia de dúvidas em um tempo das incertezas modernizadoras. 
            Os olhos da cidade requer uma reflexão sobre o direito à cidade. Um projeto de cidade pautado em qual caminho: “...uma paisagem ridente ou um muro banal?...” Eis o dilema que vem de longe, a cada geração as questões se renovam. Seja hoje, quando a instalação de uma faixa de pedestre, na avenida Salgado Filho, causa um acirrado debate, seja, nos anos de 1910, quando a legislação municipal busca normatizar o serviço de “Balaeiro” determinando o lugar deste profissional nas ruas da cidade.
             O Historiador da Cidade de Natal, Luís da Câmara Cascudo, nomeado pelo Prefeito Sylvio Pedroza, em sua obra “História da Cidade do Natal”, publicada sob encomenda do Executivo Municipal e publicada logo depois da Segunda Guerra Mundial, feita ainda sobre os impactos da guerra em nossa cidade, principalmente com a instalação em nosso solo de uma base aérea norte americana, assim se refere a especulação imobiliária que avançava no bairro do Alecrim: 

[...] O que chamamos, com suficiência e pedantismo, problemas, são apenas soluções sabidas e retardadas pela falta de finanças ou vontades positivas., Os problemas surgirão, vertiginosos e horrendos, quando o Alecrim deixar de ser uma esperança para bairro residencial e enriquecer intermediários e donos de lotes. Será um capítulo sinistro registrar o desaparecimento útil da terra para uso financeiro de uma classe melancolicamente míope além das fronteiras dos escritórios. (CASCUDO, Luís da Câmara. História da Cidade do Natal. Natal: EDUFRN, 2010, p.31-32).

            A cidade que queremos é o mote dos diálogos e debates dos quais temos de nos fazer presentes, pensar a urbe, como foi objeto de preocupações de Henrique Castriciano e Câmara Cascudo. Façamos o debate. Este curto artigo, “Olhos da Cidade… uma inquietação em voz alta”, é apenas uma conclamação ao diálogo fraterno e sempre pautado nos trilhos da democracia!

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Setembro Amarelo para além do calendário: uma inquietação em voz alta.

Setembro Amarelo para além do calendário: uma inquietação em voz alta. 
Luciano Capistrano 
Professor de História / Escola Estadual Myriam Coeli 
Mestrando do Profhistória / UFRN 


          Durante o ano letivo de 2018 a equipe pedagógica da Escola Estadual Myriam Coeli, apresentou um projeto de intervenção na escola sobre o tema da “automutilação”, a partir de algumas situações ocorridas entre os alunos foi constatado a relevância da temática. Ao final do primeiro semestre, daquele ano letivo, apresentei nos três turnos, uma intervenção cênica, denominada: Felicidade? Se trata de uma espécie de monólogo no qual abordo em cena a questão da depressão e a automutilação. 
       A ideia é inquietar o público a partir dessa questão da felicidade tão angustiante entre nós. Ao fazer a apresentação percebi ser importante mergulhar neste universo da depressão, tantas vezes silenciada ou simplesmente ignorada por parte da família, amigos, profissionais da educação e até da saúde, enfim, um problema que atinge uma parcela considerável de nossos adolescentes. 
        Desde então, venho, sempre que possível realizando “aulas – espetáculos” em escolas de Natal, como uma maneira de trazer para a Comunidade Escolar, essa questão da depressão juvenil como um problema a ser enfrentado por todos, família, escola, amigos e toda a comunidade. Tem sido uma experiência bem gratificante, daí, usar este espaço para partilhar um pouco das minhas inquietações sobre a temática do suicídio. 
       O Setembro Amarelo não pode ser apenas uma data no calendário, tem de significar uma reflexão de toda a sociedade sobre políticas públicas de prevenção do suicídio, é neste sentido que faço essa escrita. O suicídio é um problema de saúde pública e como tal deve ser enfrentado. 


DEPRESSÃO 

Às vezes 
É uma dor 
Silenciosa 
Sem ser dor 
Chega 
Invisível 
Aconchega-se 
No corpo, na alma 
Traiçoeira 
Abraça o coração 
E a mente 
Que não mente 
Exprime-se em um mar 
De vazios 
De um querer viver 
Impertinente 
Simplesmente feliz! 
(Luciano Capistrano) 


         A depressão é uma das portas de entrada no labirinto escuro das dores da “alma”, aquelas que chegam devagar e quando nos damos conta já estamos abraçados pelo Minotauro. O suicídio tem como uma das suas principais causas a depressão. Vejamos um pouco sobre os caminhos sinuosos do suicídio.
      Um dado estarrecedor: A taxa de suicídio a cada 100 mil habitantes aumentou 7% no Brasil, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), ainda segundo a OMS, o Brasil segue na contra-mão das outras nações. A taxa mundial de suicídio caiu 9,8%, estes dados fazem parte do levantamento realizado nos anos de 2010 e 2016. Enquanto ocorreu um recuo nos casos de suicídio a nível mundial, aqui, foi identificado um aumento.
         É preciso levar para as escolas e comunidades, essa temática, o silêncio tem de ser rompido. Neste sentido a família, os profissionais do ensino, tem de ficarem atentos a alguns sinais. Frases como: “Vou desaparecer”; “Vou deixar vocês em paz”; Eu queria poder dormir e nunca mais acordar”; “ É inútil tentar fazer algo para mudar, eu sou quero me matar”...são sinais de alertas que não podem ser desprezados, faz necessário um olhar mais próximo do “outro”.
           Claro que estes comportamentos verbalizados não devem ser considerados isoladamente mas no entanto não pode achar que é simples chantagens emocionais ou “frescuras” de adolescentes.
           O isolamento associado a pensamentos suicidas é um grito de socorro!
          E quando se pede ajuda a postura de quem estar do lado é a do respeito. É preciso respeitar a dores do outro, levar a sério o sofrimento dito por alguém, este é o princípio do ato de ajudar, do início da prevenção ao suicídio.

Eu respeito a sua DOR

A dor… machuca
A dor… abre feridas
Invisíveis aos outros…

Eu respeito a sua DOR

A dor… caminha em abismos
A dor… provoca pensamentos suicidas!
Transforma indivíduo em homicida… de si mesmo!

A dor…
Eu RESPEITO a sua DOR
Apenas… não deixe sua DOR ditar o ponto final
Faça da sua DOR, uma vírgula, em sua VIDA!!
(Luciano Capistrano)

          Respeitar a dores, eis o início da conversa. Finalizo deixando o número e o site o CVV, mas antes lembre-se, se alguém lhe pedir ajuda:
          Encontre um momento e um lugar calma para ouvir;
          Incentive a pessoa a procurar um profissional habilitado;
         Fique em contato com a pessoa, acompanhe o andamento do seu estado.
         E se não tiver o que dizer, simplesmente abrace.
       Façamos do Setembro Amarelo para além do calendário: uma inquietação em voz alta. 
Centro de Valorização da Vida - CVV: www.cvv.org.br ou ligue 188.

    Foto: Junior Palhares - Cena da palestra espetáculo FELICIDADE?

domingo, 8 de setembro de 2019

Minhas Inquietações em voz alta: Os sebos, a Segunda Guerra Mundial e Natal.


Minhas Inquietações em voz alta: 
Os sebos, a Segunda Guerra Mundial e Natal. 

Luciano Capistrano 
Professor de História 
Mestrando – Profhistória/UFRN 


          Já faz um longo tempo que tenho a mania de andar pelos sebos da cidade, uma semana sem visitar os sebos é uma semana meio que perdida. Essa boa mania herdei do meu pai, Benjamin Capistrano Filho. Papai um leitor voraz, um amante dos livros sem nenhum pudor, me ensinou a seguir os caminhos dos ácaros em estantes empoeiradas. Neste universo dos livros usados fui ao encontro de vozes que dizem da humanidade e da desumanidade. Faço essa introdução para conclamar o leitor a se deixar cair no fosso das belas profundezas, belas e inquietantes, de saberes prontos a explodir em nós as mais fantásticas das experiências: a viagem por entre parágrafos! 
           Vozes inquietantes povoam os sebos. 
          Nessas minhas andanças, Balalaika, Sebo Vermelho, Cata-Livros, Sebo Rio Branco... enfim, fui de grão em grão, ou, de livro em livro, formando minha biblioteca, pequena, mas muito amada. Sou grato a papai e aos sebistas por possibilitar essa minha aventura neste universo encantado. Espaço democrático e de um aprendizado único, muitas vezes fico em silêncio a ouvir os frequentadores, e, de orelhas abertas escuto das coisas corriqueiras do cotidiano até as lições sobre os grandes nomes da literatura. Momentos únicos. 
         Mas me movo a escrever, me atrevo, sim a escrita não é fácil, sempre saí meio enviesada, meio provocativa, agora, sempre fui como uma onda do bem querer. Sim, o desejo é partilhar minhas inquietações em voz alta e, então, encontro no ofício de escrever essa possibilidade de expor o que penso, o que me causa inquietação. Sigamos. 
        Tenho uma prateleira dedicada a Natal e a Segunda Guerra, um tema que muito me interessa. Um dos maiores eventos que Natal já sediou, a construção e o funcionamento da Base Aérea Norte-americana. Entre os livros, comprados nos sebos, destaco aqui três: “Os americanos em Natal”, “Natal, USAM”, de Lenine Pinto e o livro de Cleantho Homem de Siqueira, “Guerreiros Potiguares”, faço uma referência a essas obras para externar minha angústia, explico adiante. 
       Sempre me inquietou o fato de Natal, a Cidade Trampolim da Vitória, como ficou conhecida durante a Segunda Guerra Mundial não ter um roteiro cultural específico sobre os tempos da guerra e o solo Potiguar com suas marcas desse período. Nos perdemos em algum momento com o turismo de sol e mar e esquecemos da participação da capital norte-rio-grandense no cenário da guerra e da aviação mundial. Existem esperança com a construção, espero finita, do Memorial da Aviação, na Antiga Rampa, uma obra que se arrasta há alguns anos. 
       Costumo, sempre, realizar “Circuitos Históricos”, por ruas e becos e a cada esquina me deparo com vestígios desse grande acontecimento que foi a instalação de uma base americana, basta olhar a cidade de Parnamirim para testemunhar o tamanho da importância desse momento para o crescimento da urbe e, inclusive, entender o desmembramento da região suburbana, hoje uma das maiores cidade do Rio Grande do Norte. 
        Trago essa questão por compreender ser necessário assumirmos de vez nosso Patrimônio Cultural e isso passa necessariamente por uma mudança de políticas públicas. Sinais já se ver ao longe, quando erguem um espaço dedicado a essa história, quando instituições ligadas ao empresariado desenvolve projetos na perspectiva de elaborar roteiros turísticos com a temática da Segunda Guerra Mundial e aviação. É preciso avançar. Nestes últimos anos a produção historiográfica tem aberto novas veredas sobre Natal e a Segunda Guerra Mundial, são novos olhares sobre o tema, o que nos renova a esperança perdida. 
       Finalizo este artigo, com uma foto do monumento em homenagem ao Mestre Luiz da Câmara Cascudo, o alvissareiro da urbe. Disse Cascudo: “Errariam menos os homens se lessem mais a história”.

    Foto: Luciano Capistrano - Câmara Cascudo, o Alvissareiro da urbe.
               

A esperança se vestiu de cinza.

  A esperança se vestiu de cinza.               Aqui faço um recorte de algumas leituras que de alguma forma dialogam sobre os efeitos noc...