domingo, 17 de novembro de 2019

Antes do pôr do sol... lembremos das vitimas de Tchernóbil.


Antes do pôr do sol... lembremos das vitimas de Tchernóbil.
Luciano Capistrano
Professor de História: Escola Estadual Myriam Coeli
Mestrando: Profhistória/UFRN

            Em uma das aulas com a turma do 1º C, o aluno Ricardo me interpelou sobre uma série que ele estava assistindo, "Chernobyl", eu desconhecia a série, então iniciamos uma conversa sobre o desastre nuclear acontecido na região da Bielorrússia, em 26 de abril de 1986. Um tema instigante. Essa conversa me fez relembrar das noticias transmitidas pelos canais de comunicação a época do desastre. Uma tragédia distante do meu “mundo”, mas me lembro das conversas com papai sobre o noticiário.
            Morador do Conjunto Santa Catarina, na década de 1980, minha preocupação era com o ônibus, minha condução diária para a Livraria Independência, meu primeiro emprego. Lembro-me de sair todos os dias pendurado na porta até o Alecrim, apesar das recomendações de mamãe para não fazer isso. Era quase impossível pegar um ônibus sem ter de “arriscar” a vida. Eram com emoção as viagens realizadas diariamente, entre Santa Catarina / Alecrim.
            Bom feito este parênteses, vamos ao tema deste artigo, o desastre nuclear de Tchernóbil. Para além das cenas descritas por Ricardo e depois conferidas por mim, na série dirigida por Craig Mazin, faço, aqui, uma inquietação em voz alta: Antes do pôr do sol... lembremos das vitimas de Tchernóbil.

    Foto: Luciano Capistrano - O Pôr do Sol!
Vi-me compelido a pensar sobre o dia 26 de abril de 1986, noticiado pelo Jornal Nacional no dia seguinte, quando diante da TV comentei com papai sobre o ocorrido. De fato, me preocupei com a possibilidade da contaminação, pensei na hora: vamos todos, eu, papai, mamãe e meus irmãos para o Capim, meu refúgio, assim pensava, claro uma segurança imaginária que trago desde os tempos de criança da Vila Mauricio.
            Provocado então por meu aluno Ricardo, procurei ler sobre o tema, foi nessa busca que encontrei na Livraria Leitura o livro, “Vozes de tchernóbil: a história oral do desastre nuclear”, da jornalista Svetlana Aleksiévitch. Encontrei o livro no dia 16/11/2019, ainda estou lendo, e, a cada página, a cada parágrafo, os olhos marejam, as lagrimas insistem em cair. Faço essa escrita para partilhar das minhas  inquietações, não me alongarei no texto, mas pretendo continuar em outro momento a tratar desse assunto. Por enquanto vou pisando devagar os caminhos espinhosos abertos por Aleksiévitch:

No entanto, a cidade ficou lotada de veículos militares, todas as estradas foram fechadas. Havia soldados por toda parte. Os trens regionais e expressos pararam de circular. As ruas eram lavadas com uma espécie de pó branco... Fiquei assustada: como iria, no dia seguinte, à aldeia comprar leite fresco? Ninguém falava em radiação, só os militares circulavam com máscaras respiratórias... As pessoas compravam os seus pães, saquinhos com doces e pastéis nos balcões... A vida cotidiana prosseguia. Só que... as ruas eram lavadas com uma espécie de pó... ( ALEKSIÉTCH, Svetlana.  Vozes de Tchernóbil: a história oral do desastre nuclear. São Paulo: Companhia das Letras, 2019, p. 18-19).

                Neste relato já fica claro o caráter obscuro que envolveu toda a situação desencadeada com a explosão do reator nuclear, me refiro a falta de clareza nas informações, as autoridades da ex União Soviética, simplesmente esconderam o real perigo da população das áreas atingidas pela radiação atômica. O ar, a terra e tudo que habitava a região foram condenados a própria sorte. Os monstros invisíveis liberados logo depois com as explosões, estavam nos lares, nas hortas, nas ruas, por toda a parte.
            As primeiras vitimas foram os bombeiros e os funcionários da usina.  Finalizo, com outro fragmento do livro citado, encerro para continuar a leitura e convido minha cara leitora, meu caro leitor, para continuarmos a refletirmos sobre o papel que deveria ter sido desempenhado pelas Instituições Governamentais de Moscou nos primeiros instantes informando as pessoas dos reais motivos de tantos militares estarem nas ruas e o porque da evacuação, anunciada dias depois da explosão. Talvez relato como este não existissem:

Pelo aspecto, parecia um bebê saudável. Bracinhos, perninhas... Mas tinha cirrose. No fígado havia 28 roentgen, e uma lesão congênita no coração. Depois de quatro horas, me disseram que ela tinha morrido. E me falaram de novo: ‘Nós não vamos te dar o corpo dela’. ‘Como não vão me dar o corpo?! Sou eu que não o darei a vocês! Vocês querem tomar minha filha para a ciência, pois eu odeio a sua ciência! Odeio! A sua ciência já levou o meu marido e agora quer mais...  Não darei! Eu mesma a enterrarei. Ao lado dele...’ [Passa a falar em sussurros.] ( ALEKSIÉTCH, Svetlana.  Vozes de Tchernóbil: a história oral do desastre nuclear. São Paulo: Companhia das Letras, 2019, p. 34).

            Volto a leitura. Façamos das nossas inquietações, sempre, um dialogo democrático.


sábado, 9 de novembro de 2019

09 de novembro de 1989: Grande dia


09 de novembro de 1989: Grande dia
Luciano Capistrano
Professor de História: Escola Estadual Myriam Coeli
Mestrando: Profhistória/UFRN

            Na noite do dia 09 de novembro de 1989, eu estava com papai assistindo ao Jornal Nacional.  Morávamos no Conjunto Santa Catarina, Rua Hidrolândia, quando testemunhamos à alegria do povo alemão diante do Muro de Berlim, rostos estampando um misto de choro e riso, era a representação do sentimento da liberdade do reencontro. O Muro estava indo ao chão e com ele a Berlim separada estava sendo a golpe de “picaretas” e mãos, finalmente, voltando a ser una.
            Naquela noite caia o símbolo da Guerra Fria!
            O Muro de Berlim não significou apenas a divisão de uma cidade. Construído em agosto de 1961, simbolizou a divisão do mundo: De um lado o “mundo”  Capitalista e do outro o “mundo” Socialista. Eram duas “Alemanha”, a República Federal da Alemanha e a República Democrática Alemã.  Famílias, amigos, uma nação de um dia para o outro foi separada. Quase três décadas de segregação. Era aproximadamente 70 km com grades metálicas, torres de observação, arames eletrificados e soldados armados com ordem expressa para atirar em todos que ousassem ultrapassar a barreira imposta.  
No link abaixo a queda do Muro de Berlim, em uma reportagem, memória,  da TV Globo:


https://www.youtube.com/watch?v=GYXBrlVkBuI&feature=share&fbclid=IwAR0sf7nNI_87qg23bAkbsG-SNOZn8fUBKAADrS1nqrI6zqmr_CokloMpGxQ


             E  e a banda SCORPIANS celebra com, THE WALL 1990:

https://www.youtube.com/watch?v=O9HtbTZuO_g&list=PLKjNPhOA2KhpR89WLeUMP6CAmD8y39LrB

            O dia 09 de novembro de 1989 deve ser celebrado por todo o mundo democrático, a sociedade alemã, da parte oriental e ocidental, disseram não a opressão das liberdades. O modelo autoritário faliu. O socialismo e seus instrumentos do stalinismo aliado a grave crise econômica já não conseguia “manter” a ordem nos países do leste europeu. Ventos da glasnot e perestroika, impulsionados por Gorbachev, na antiga União Soviética, varriam os países socialistas da Europa. O mundo exigia democracia.
            A crise dos países socialistas ganhou um simbolo, a queda do Muro de Berlim, como reflexo  da crise  “[dos] últimos anos da União Soviética  [...] uma catástrofe em câmara lenta”, disse o historiador Eric Hobsbawm, em  Era dos Extremos. Como cantaram os Titãs, "... a gente não quer só comida..." e para além das construções dos mitos, a década de 1980 representou o inicio de uma nova ordem, talvez os dias presentes tenham muito do sentimento vivido no leste europeu dos anos 1980.
            Fato é naquela noite, alemães, se abraçaram e gritaram “grande dia”.

terça-feira, 5 de novembro de 2019

Fotografia, cidade, história, caminhada histórica... inquietações!



Fotografia, cidade, história, caminhada histórica... inquietações!
Luciano Capistrano
Professor de História – Escola Estadual Myriam Coeli
Mestrando – Profhistória/UFRN

    Foto: Luciano Capistrano – Monumento em homenagem a Câmara  Cascudo

Fiz essa foto durante a 7ª Caminhada Histórica de Natal (2018), promovida pela Viva Entretenimento. Bela iniciativa que tem a coordenação técnica do historiador Alexandre Rocha. Bem voltemos a foto, gosto desse click, e, sempre lembro do texto de Câmara Cascudo, extraído do livro História da Cidade do Natal:

“Do cimo da Torre da História, o alvissareiro anuncia a passagem, na linha do horizonte, dos velhos e passados navios que estão no fundo do mar. Sonhos, amores, lutas, ambições, delírios, mortes, tudo quanto segue na alma do Homem, sempre com ele viveu, como a sombra ao corpo, muda e teimosa testemunha de sua passagem, reaparece e vive a vida emprestada pela recordação. Gente do Norte e do Sul. As bandeiras sobem, contando, de dia e de noite, como os navios passaram, chegaram e partiram para sempre.” (Luís da Câmara Cascudo – História da Cidade do Natal).

            A fotografia tem sido uma das minhas paixões, sempre faço fotos das ruas e becos da cidade, talvez tomado pelo desejo, muito ambicioso de minha parte,  de fazer parte do grupo do “alvissareiro”, como apontou Cascudo, aquele com a função de anunciar “... a passagem, na linha do horizonte, dos velhos e passados navios...” O certo é, de uma alegria imensa, caminhar por “clicks” a registrar a paisagem da urbe em um dialogo entre os poetas, cronistas, memorialistas e historiadores a descortinar os “... passados navios que estão no fundo do mar...” Como no canto de João da Rua:
Natal
de peixe boi à fortaleza
não existe mistério
tudo todo mundo sabe
neste pequeno espaço
deste perímetro urbano
não há segredo no rosto da cidade.

Todo dia a estrela Dalva lumia
no peito desta gente multicor
um velho sentimento índio
que não seja traidor
tudo todo mundo sabe
sob a lua ou sob o sol desta cidade
um velho sentimento índio
resistindo pela eternidade.
( O Canto o colonizador contra o entregador – João da Rua )
            A cidade surge na escrita, são as narrativas dos fazedores da urbe, neste sentido gosto dos poetas, sigo os pares de João da Rua para compreender e desvendar os caminhos e descaminhos de  uma Natal existente na memória e nos seus símbolos erguidos ao longo do tempo. As praças e seus elementos são narrativas da cidade a dizer de seus habitantes. A foto da Praça André de Albuquerque apresenta no centro o Monumento erguido em 1917 em celebração aos potiguares Padre Miguelinho e André de Albuquerque mártires da Revolução de 1817.
            
     Foto: Luciano Capistrano – Monumento em homenagem aos Potiguares  Mártires de 1817.
           
    Foto: Luciano Capistrano – Relógio do Alecrim

           O imaginário faz parte construtiva do espaço urbano,  a identidade do ser local diz muito das representações imaginadas, sejam a paisagem natural ou a paisagem construída. Um exemplo, pode ser o Morro do Careca, símbolo da cidade de Natal ou o Relógio do Alecrim, pontos referenciais para  se localizar no espaço urbano, todos pertencentes as narrativas da urbe. O historiador José D’Assunção Barros chama a atenção para o imaginário do cidadão na feitura da cidade, neste sentido: “para além de sua representação através da imaginação dos mestres urbanistas e de intelectuais de diversos matrizes, a cidade deve ser examinada, adicionalmente, na perspectiva de sua construção na imaginação do próprio cidadão comum.” ( BARROS, José D’Assunção. Cidade e História. Petrópolis: Editora Vozes, 2012, p. 94)
A Caminhada Histórica de Natal é uma iniciativa importante na relação da cidade seus habitantes e o Patrimônio Cultural, ao andar por ruas e becos o cidadão inicia, digamos, um processo de reconhecimento de sua identidade, neste sentido, a Educação Patrimonial tem a digital bem nítida neste tipo de evento. Gosto de realizar feito um “andarilho da história”, em eventos criados nas redes sociais, a partir do Grupo Gestores do Centro Histórico, do Facebook, e vejo na Caminhada Histórica de Natal, sua 8ª edição, que será realizada no dia 30 de novembro, mais um instrumento para que se faça conhecida à história de Natal.
 
     Foto: Luciano Capistrano – 7ª Caminhada Histórica de Natal/2018.

            Este “Fotografia, cidade, história, caminhada histórica... inquietações!” é um convite para pensarmos a urbe, o seu Patrimônio Cultural e participarmos da 8ª Caminhada Histórica de Natal. Pensar políticas de preservação faz necessário, principalmente nestes tempos de revisão do Plano Diretor, façamos sempre de nossas inquietações um dialogo democrático.

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Democracia, este é o caminho... minhas inquietações!


Democracia, este é o caminho... minhas inquietações!
Luciano Capistrano
Professor de História – Escola Estadual Myriam Coeli
Mestrando – Profhistória/UFRN

“... O povo, iludido, lamentavelmente trocou tudo isso por voto ...” (31 de março de 2010, discurso do, então, Deputado Federal Jair Bolsonaro no plenário da Câmara para exaltar os feitos da ditadura militar civil/1964)

            Ao longo dos anos tenho, cada vez de forma mais radical, me posicionado a favor da democracia, costumo inclusive dizer em voz alta: a saída para crise política e econômica é uma Overdose de Democracia. Não existe outro caminho. As soluções totalitárias são abismos de cores fascistas. Início este curto artigo, com um fragmento retirado do discurso do Presidente Jair Bolsonaro, na época Deputado Federal, feito durante uma audiência publica para relembrar o Golpe Militar/Civil de 1964.
            Infelizmente persiste essa narrativa enaltecendo o autoritarismo implantado no Brasil na década de 1960, quando o governo de João Goulart, democraticamente eleito foi derrubado por um movimento golpista articulado por parte dos militares e diversos setores da sociedade civil aliados aos EUA. O contexto da Guerra Fria foi o pano de fundo dessa interrupção da democracia brasileira.
            Penso nos riscos de uma sociedade quando os valores de respeitos à liberdade de expressão e critica são ameaçados ao ponto dos “inimigos invisíveis” serem parte da justificativa para  a evocação de instrumentos de repressão política, por isso, meu caro amigo, minha cara amiga, precisamos evocar sempre os valores da democracia quando vozes teimam em enaltecer o submundo dos porões da ditadura. Falas como a do Presidente Jair Bolsonaro, na época Deputado Federal, em entrevista à rádio Jovem Pan: “... o erro da ditadura foi torturar e não matar...”, devem ser rechaçadas.
            Hoje os senhores bolsonaristas, seguem a narrativa do antes candidato e hoje Presidente da República. O caso mais recente foi do seu filho o Deputado Federal Eduardo Bolsonaro ao se referir as mobilizações ocorridas no Chile disse: “E a resposta, ela pode ser via um novo AI-5...” Não foi uma frase infeliz, dita sem “querer”, a relação do clã Bolsonaro com o lado radical dos golpistas de 1964 vem de longe. Ao citar aqui algumas falas do Presidente, saudosistas dos mecanismos de repressão política criados durante os denominados “anos de chumbo”, faço para reafirmar o risco de termos na Presidência alguém, mesmo eleito, repito, dentro de um regime democrático, que tem como ídolo o torturador Brilhante Ustra . Para não irmos muito longe, relembro da opinião de Jair Bolsonaro durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, afirmando que a ditadura deveria ter matado “... uns trinta mil...”.
            Finalizo essas minhas inquietações com a frase do Deputado Ulisses Guimarães ao Proclamar a Constituição de 1988: “O Estado autoritário prendeu e exilou. A sociedade, com Teotônio Vilela, pela anistia, libertou e repatriou. (Palmas.) A sociedade foi Rubens Paiva, não os facínoras que o mataram.”
           Prefiro  o barulho do povo nas ruas, do que o som sombrio dos tanques,  seja nas Jornadas de Junho de 2013, seja nas Manifestações contra o Corte dos recursos para as Instituições Federais de Ensino de 2019. Façamos, sempre, das nossas inquietações um diálogo democrático.

    Foto retirada do blogger Revolta do Busão - Jornadas de Junho/2013, vista parcial da BR 101 Natal

    Foto: Luciano Capistrano - Manifestação Em defesa da Educação / 2019 
           
           

A esperança se vestiu de cinza.

  A esperança se vestiu de cinza.               Aqui faço um recorte de algumas leituras que de alguma forma dialogam sobre os efeitos noc...