terça-feira, 5 de novembro de 2019

Fotografia, cidade, história, caminhada histórica... inquietações!



Fotografia, cidade, história, caminhada histórica... inquietações!
Luciano Capistrano
Professor de História – Escola Estadual Myriam Coeli
Mestrando – Profhistória/UFRN

    Foto: Luciano Capistrano – Monumento em homenagem a Câmara  Cascudo

Fiz essa foto durante a 7ª Caminhada Histórica de Natal (2018), promovida pela Viva Entretenimento. Bela iniciativa que tem a coordenação técnica do historiador Alexandre Rocha. Bem voltemos a foto, gosto desse click, e, sempre lembro do texto de Câmara Cascudo, extraído do livro História da Cidade do Natal:

“Do cimo da Torre da História, o alvissareiro anuncia a passagem, na linha do horizonte, dos velhos e passados navios que estão no fundo do mar. Sonhos, amores, lutas, ambições, delírios, mortes, tudo quanto segue na alma do Homem, sempre com ele viveu, como a sombra ao corpo, muda e teimosa testemunha de sua passagem, reaparece e vive a vida emprestada pela recordação. Gente do Norte e do Sul. As bandeiras sobem, contando, de dia e de noite, como os navios passaram, chegaram e partiram para sempre.” (Luís da Câmara Cascudo – História da Cidade do Natal).

            A fotografia tem sido uma das minhas paixões, sempre faço fotos das ruas e becos da cidade, talvez tomado pelo desejo, muito ambicioso de minha parte,  de fazer parte do grupo do “alvissareiro”, como apontou Cascudo, aquele com a função de anunciar “... a passagem, na linha do horizonte, dos velhos e passados navios...” O certo é, de uma alegria imensa, caminhar por “clicks” a registrar a paisagem da urbe em um dialogo entre os poetas, cronistas, memorialistas e historiadores a descortinar os “... passados navios que estão no fundo do mar...” Como no canto de João da Rua:
Natal
de peixe boi à fortaleza
não existe mistério
tudo todo mundo sabe
neste pequeno espaço
deste perímetro urbano
não há segredo no rosto da cidade.

Todo dia a estrela Dalva lumia
no peito desta gente multicor
um velho sentimento índio
que não seja traidor
tudo todo mundo sabe
sob a lua ou sob o sol desta cidade
um velho sentimento índio
resistindo pela eternidade.
( O Canto o colonizador contra o entregador – João da Rua )
            A cidade surge na escrita, são as narrativas dos fazedores da urbe, neste sentido gosto dos poetas, sigo os pares de João da Rua para compreender e desvendar os caminhos e descaminhos de  uma Natal existente na memória e nos seus símbolos erguidos ao longo do tempo. As praças e seus elementos são narrativas da cidade a dizer de seus habitantes. A foto da Praça André de Albuquerque apresenta no centro o Monumento erguido em 1917 em celebração aos potiguares Padre Miguelinho e André de Albuquerque mártires da Revolução de 1817.
            
     Foto: Luciano Capistrano – Monumento em homenagem aos Potiguares  Mártires de 1817.
           
    Foto: Luciano Capistrano – Relógio do Alecrim

           O imaginário faz parte construtiva do espaço urbano,  a identidade do ser local diz muito das representações imaginadas, sejam a paisagem natural ou a paisagem construída. Um exemplo, pode ser o Morro do Careca, símbolo da cidade de Natal ou o Relógio do Alecrim, pontos referenciais para  se localizar no espaço urbano, todos pertencentes as narrativas da urbe. O historiador José D’Assunção Barros chama a atenção para o imaginário do cidadão na feitura da cidade, neste sentido: “para além de sua representação através da imaginação dos mestres urbanistas e de intelectuais de diversos matrizes, a cidade deve ser examinada, adicionalmente, na perspectiva de sua construção na imaginação do próprio cidadão comum.” ( BARROS, José D’Assunção. Cidade e História. Petrópolis: Editora Vozes, 2012, p. 94)
A Caminhada Histórica de Natal é uma iniciativa importante na relação da cidade seus habitantes e o Patrimônio Cultural, ao andar por ruas e becos o cidadão inicia, digamos, um processo de reconhecimento de sua identidade, neste sentido, a Educação Patrimonial tem a digital bem nítida neste tipo de evento. Gosto de realizar feito um “andarilho da história”, em eventos criados nas redes sociais, a partir do Grupo Gestores do Centro Histórico, do Facebook, e vejo na Caminhada Histórica de Natal, sua 8ª edição, que será realizada no dia 30 de novembro, mais um instrumento para que se faça conhecida à história de Natal.
 
     Foto: Luciano Capistrano – 7ª Caminhada Histórica de Natal/2018.

            Este “Fotografia, cidade, história, caminhada histórica... inquietações!” é um convite para pensarmos a urbe, o seu Patrimônio Cultural e participarmos da 8ª Caminhada Histórica de Natal. Pensar políticas de preservação faz necessário, principalmente nestes tempos de revisão do Plano Diretor, façamos sempre de nossas inquietações um dialogo democrático.

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