domingo, 15 de dezembro de 2019

Forte dos Reis Magos: minhas inquietações em voz alta.



Luciano Capistrano
Professor de História – Escola Estadual Myriam Coeli
Mestrando – Profhistória/UFRN

           
            “Breve Notícia Sobre a Província do Rio Grande do Norte”, o ano 1877, obra de Manoel Ferreira Nobre, considerado o primeiro historiador do Rio Grande do Norte. Nas palavras de Manoel Rodrigues de Melo, “[...] acusado de queimar incenso à tradição, mas quando é posto em confronto com os mais modernos [...] verifica-se que o pai da história norte-rio-grandense não cede seu lugar aos novos nem aos velhos [...]”. (MELO In NOBRE, Manoel Ferreira. Breve notícía sobre a província do Rio Grande do Nortre. Natal: Sebo Vermelho,  2011, p.10).
            Início este artigo na companhia de Manoel Ferreira Nobre, por desejar provocar inquietações sobre a mais antiga edificação erguida em Natal. Me refiro, claro, ao Forte dos Reis Magos. E ao fazer essa referencia ao historiador Ferreira Nobre, objetivo trazer ao publico leitor a importância de se fazer conhecido nosso Patrimônio Cultural, e, nada mais adequado, do que dá o ponta pé inicial, nestes dias que se aproxima mais um aniversário de Natal, 420 anos em 25 de dezembro de 2019, refletir sobre políticas de preservação desse patrimônio.
            Segundo Ferreira Nobre:

A celebridade desta fortaleza, pelo drama sangrento que nela se representou quando foi retomada dos holandeses, junta-se a ser a parte escolhida para a prisão do índio Jaguarari, e a do poderoso atleta da liberdade Coronel André de Albuquerque Maranhão, que ali morreu a 25 de abril de 1817, banhado em seu próprio sangue, como um verdadeiro apóstolo da causa que esposara. (NOBRE, Manoel Ferreira. Breve notícía sobre a província do Rio Grande do Nortre. Natal: Sebo Vermelho,  2011, p.25)

            O Forte dos Reis Magos é o lugar do início da ocupação portuguesa nestas terras natalenses, este fato por se só já indica a dimensão da importância histórica deste monumento para a cidade de Natal. E esse é o mote que pretendo seguir nessas linhas escritas ao sabor da saudade. Uma saudade que vem do adolescente, filho do funcionário da Fundação José Augusto, Benjamin Capistrano Filho. Nos finais dos anos de 1970 papai trabalhava na lojinha do Forte. Eu filho do funcionário me alegrava nas tardes em que papai me levava para o trabalho.
            Abro aqui um parênteses, apenas para dizer, de como era bom receber os visitantes e conversar com eles sobre a história de nosso forte, lembro bem de um casal de norte-americanos, falando um português carregado de sotaque, simpáticos, me fiz de guia e fui com eles por todos os cantos daquele lugar de mágicas histórias, era meu mundo encantado. Bem me tornei professor de história e um frequentador assíduo do Forte dos Reis Magos.
            Hoje me inquieta o fato do seu fechamento, alguns irão dizer necessário porque está em obras de restauração, sim, sim concordo são obras necessárias e urgentes que há muito tempo deveriam ter ocorrido. Bom, mas a questão é muito mais do que o tempo, a demora em se concretizar esse projeto de restauro de nosso mais visitado Patrimônio Cultural, sim, o Forte dos Reis Magos é o Monumento mais visitado da cidade de Natal. O tempo, a demora na reabertura é um problema a ser enfrentado por todos os ógãos responsáveis pelas politicas de preservação do patrimônio cultural e do turismo.
            Suas linhas arquitetônicas tem a marca dos padres engenheiros jesuítas, foi o padre Gaspar de Samperes, pertencente a Companhia de Jesus, antes de clérigo foi militar, adequando seus conhecimentos de estratégia de guerra com a engenharia será o responsável pelas linhas e formas do Forte dos Reis Magos, o polígono estrelado. Construção de 1598, sua planta erguida em taipa foi no ano de 1628 transformada numa das mais belas arquiteturas de guerra construída em terras brasileiras. O engenheiro-mor Francisco Frias de Mesquita, foi o responsável pela substituição da taipa por pedras.
            O Historiador Hélio Galvão, em seu clássico História da Fortaleza da Barra do Rio Grande, nos chama a atenção para o fato de existir uma relação, digamos, de importância histórica entre o Forte e a Base Aérea de Parnamirim.

A Fortaleza da Barra do Rio Grande representou a mesma função que viria a ser o Aeroporto de Parnamirim na Segunda Guerra Mundial. Como agora tem a Base de Foguetes de Barreira do Inferno, nos primórdios da navegação interespacial. Singular destino que a Geografia reservou a Natal. Ponto de apoio para a Conquista do Norte, integrando-o na comunidade nacional que se formava. Base para a travessia transoceânica, quando a navegação apenas se iniciava. A ligação Europa-América somente foi possível pela via Dakar-Natal, o famoso estreito de Dakar. (GALVÃO, Hélio. História da Fortaleza da Barra do Rio Grande. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura, 1979, p.57).

            Ao aproximar do fim desse “Forte dos Reis Magos: minhas inquietações em voz alta”, chamo a atenção do leitor para a valorização desse lugar de memória, e faço isso por entender, como muitos de nós, ser fundamental a preservação desse que é sem dúvidas o maior Monumento da presença Ibérica em solo Potiguar. Há aproximadamente 8 anos, o Forte vive sobre uma corrente de incerteza, apesar das “promessas” advindas dos financiamentos do "Pac das Cidades Históricas", e, agora do "Banco Mundial", percebemos uma ausência de diálogos entre o Governo Municipal, o Governo Estadual e a União. Urge uma ação para além dos limites fronteiriços de cada ente federativo.
         O IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), a Fundação José Augusto e a Fundação Capitania das Artes, precisam criar um grupo de crise, sim, crise, pois não basta dizer que os caminhos burocráticos dos financiamentos, as “pendengas” entre construtoras e órgão público, são os responsáveis por paralisias ou quebra de continuidades das obras de reparos, saídas criativas podem ser pensadas e executadas, com a finalidade de amenizar os prejuizos causados com a demora de conclusão da obra. Se o Projeto de Restauro tem previsão de conclusão apenas para 2020/2021, então, que se pense ações de urbanização do entorno, estamos perdendo receitas. Falando em geração de renda e emprego,  principalmente o segmento do turismo, toda uma rede de empreendedores, desde os barraqueiros até os hoteleiros da Via Costeira, todos perdem com essa situação.
Finalizo com essa bela foto do fotógrafo Luiz Dias, como um convite para nos inquietarmos e abraçarmos o Forte dos Reis Magos.
           

    Foto: Luiz Dias 



8 comentários:

  1. Reflexão bastante esclarecedora sobre a importância do forte. Infelizmente a burrice e a preguiça dos últimos gestores deixaram o nosso sítio mais importante entregue às traças.

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    1. Obrigado amigo, seus comentários e leitura são estímulos para continuar com as minhas inquietações.

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  2. Prezado amigo sou grato por utilizar minha foto mostrando a beleza do Astro Rei no final da Ponte Newton Navarro e o descaso do ponto turístico mais importante da cidade de Natal, que a sua inquietação provoque os responsáveis pela reforma o mais breve possível. Grande abraço. Luz e Paz a todos.

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    1. Gratidão amigo, sua foto é um "depoimento" vivo da beleza desse lugar de nossa cidade, a ponte, o pôr do sol, o Forte dos Reis Magos, um cenário lindo que não pode ficar abandonado, Forte abraço!!

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  3. Parabéns pelo belo texto. Amo esse nosso monumento, o qual já perdi o número de vezes q o visitei. É.muito doloroso o descaso do poder público com nossa História... Percebo q Natal é a capital nordestina com a menor quantidade de memórias históricas.

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    1. Obrigado Eliane, muito pertinete sua observação, realmente o nosso patrimônio histórico foi "excluido" das políticas de desenvolvimento.

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  4. Como natalense da gema, nascido na velha maternidade Januário Cicco, quero parabenizar o autor pelo alerta da necessidade de preservarmos nosso mais característico cartão postal de nossa linda cidade.
    Mesmo distante, em terras alencarinas, sou orgulhoso de ter nascido neste solo potiguar.

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    1. Muito legal seu comentário Marco, bem pertinente a observação sobre a importância de preservação do nosso partimônio histórico. Obrigado.

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