segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

A Cidade e o Rio: Nas margens, gente!

 A Cidade e o Rio: Nas margens, gente!

 

Natal tem suas raízes no leito do rio Potengi, o rio da cidade a banhar as margens e alimentar seus moradores. O Rio Grande para os portugueses, o Potengi, para os comedores de camarão, primeiros habitantes do solo natalense, o povo potiguara. Ao olhar o rio sob a ponte de Igapó nos vem imagens de séculos de uma expansão urbana, traços de ruas e avenidas abertas ao longo do tempo, desenhando a Natal para além das Quintas. A história é uma colcha de retalho sempre a se remendar numa busca constante em preencher lacunas. Existem vazios de relatos dos que ficaram as margens dessa expansão da urbe. A urbe deixou o rio escondido, cresceu de costas para o Potengi de forma ingrata em muitos momentos jogou a própria sorte as populações em situação de pobreza. O historiador Raimundo Arrais faz de sua escrita um chamamento a reflexão: “[...] por todos os lados ficaram as lacunas: ignoramos, para nos restringirmos a um único exemplo, dos mais eloquentes, com o que sonhavam os pobres da cidade de Natal. E eles eram muitos, e em alguns momentos chegavam em grandes vagas, desprovidos de tudo, situados bem abaixo da pobreza mediana da cidade [...]. Os “invisíveis” da urbe são os esquecidos nos planos de urbanização. O viver na cidade tem significados diferentes. Assim a cidade tem sentidos diversos para seus habitantes. Yi-Fu Tuan nos convida a pensar sobre estes sentidos: “[...] o espaço e o tempo coexistem, entremesclam-se e cada um deles é definido de acordo com a experiência pessoal. Toda atividade gera uma estrutura espácio-temporal espacial, porém raramente essa estrutura aparece na consciência. Acontecimentos como ir ao trabalho, planejar uma visita, admirar uma paisagem, ouvir notícias sobe amigos que moram em outra cidade, são coisas tão frequentes na vida diária para justificar um pensamento reflexivo [...].” Pensar sobre nossa existência na urbe é o desafio quase impossível para quem tem de remar contra a maré dos dessabores de uma sociedade não inclusiva. A Cidade e o Rio: Nas margens, gente, é um convite para pensarmos a ocupação urbana de Natal “para além das Quintas”.

(Referência: ARRAIS, Raimundo (Org.) A terra, os homens e os sonhos. A cidade de Natal no início do século XX. Natal: Sebo Vermelho, 2017; CAPISTRANO, Luciano Fábio Dantas. Divagações: memória, fotografia e história. Natal: Sebo Vermelho, 2019; TUAN, Yi-Fu. Espaços e lugar: a perspectiva da experiência. Londrina: EDUEL, 2013).

Projeto: Das ruas às redes: Quinta da história.

(Foto e texto: Professor Luciano Capistrano)


    A cidade... nas margens os ribeirinhos. Foto: Luciano Capistrano

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A esperança se vestiu de cinza.

  A esperança se vestiu de cinza.               Aqui faço um recorte de algumas leituras que de alguma forma dialogam sobre os efeitos noc...