sexta-feira, 7 de abril de 2017

Um cemitério, muitas reflexões!

Um cemitério, muitas reflexões!
Luciano Capistrano
Professor: Escola Estadual Myriam Coeli
Historiador: Parque da Cidade

Um olhar sobre o cemitério do Alecrim

Entre ruas e vielas
Túmulos, jazigos
A dizerem das memórias
De uma urbe
Do passado

Uma cidade de vozes
A ecoar no tempo
Dores, amores, desejos
Na lapide
Datas, nomes, trilhos de uma história
De ritos íntimos
Ligados ou religados a uma cidade
A descortinar-se

No alto venceu dunas e testemunhou
O abrir de cortinas
Da cidade dos vivos
Nos diz a cidade dos mortos
Em confissões silenciosas
Surgem falas, gritos ensurdecedores
De uma cidade a pulsar
Expressões de desenhos/redesenhos
De uma urbe palco
De diferentes interesses
Mitigados em sete palmos de terras.
(Luciano Capistrano)
               
Se tem algo que gosto nessa vida, é andar por entre ruas e becos de nossa história, me deixa feliz, dialogar sobre nosso patrimônio cultural. Desde os primeiros anos de Semurb, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo de Natal, como historiador realizo “Circuitos Históricos”. Quando não estou com um grupo agendado via instituição, faço minhas “aulas de campo” nos momentos de folga.
Nestes dias, acredito por causa do dia de finados, me lembrei da “Caminhada” do dia 22 de maio de 2016, em uma manhã de sol, um grupo de pessoas interessadas em história, memória, patrimônio cultural e avidas por andar e dialogar sobre tudo isso, tendo o bairro do Alecrim como cenário, combinaram um café da manhã em frente a igreja São Pedro, ponto de partida para mais um “circuito histórico”, com o apoio e organização da Eco Tour, passamos uma agradável manhã revisitando, para alguns visitando pela primeira vez, os lugares de história do bairro do Alecrim.
Bem amigo velho, mas, essa motivação em compartilhar minhas impressões desta belíssima manhã de domingo, sim era um domingo, tem um motivo: CEMITÉRIO do ALECRIM.
Uma construção de 1856, marco importante na expansão urbana da cidade de Natal, na época o Cemitério do Alecrim, era o primeiro equipamento urbano erguido e administrado pelo Poder Público a subir o areal e chegar no alto, imponente tempos depois terá como vizinho o Lazareto da Piedade, onde hoje funciona uma unidade de saúde. O que chama atenção é o fato dos primeiros equipamentos a serem construído no hoje Alecrim, ser edificações “indesejadas”, ninguém queria ser vizinhos das mesmas.
O bom, de andar pelas ruas do cemitério, por entre os túmulos, é a memória da cidade respirada naquele lugar, além de dores, de saudades, encontramos vestígios de nossa história.
Um verdadeiro acervo a céu aberto, este é o cemitério do Alecrim. Tombado como Patrimônio Cultural de nossa cidade, em 2011, o lugar transpira saberes da construção socioeconômica da capital potiguar. Abro um parêntese, na verdade muito relevante, para nessas poucas linhas, chamar a atenção do leitor, do caráter didático do cemitério.
Natal, não sei, se por causa do estigma de ser a “Cidade do Sol”, tem ao longo de sua história negligenciado com relação a uma política, que de fato, valorize nosso patrimônio histórico/cultural.
O Cemitério do Alecrim, reveste-se, como um lugar importante do ponto de vista do Patrimônio Imaterial e Material, a beleza dos estilos arquitetônicos e da história encontrados na “cidade dos mortos”, deveria ser muito mais preservado e “explorado” para fortalecer as ações de Educação e Cultura. Não é aceitável que o turista e o natalense saiam de nossa cidade e viaje para João Pessoa - abro um novo parêntese, apenas para informar, de minha admiração pela capital da Paraíba -, ou, seja nos falta o preparo da resistência, uma política efetiva na construção de alternativas, locais, que contemple roteiros culturais incluindo o Cemitério do Alecrim.

Não podemos deixar perdido no tempo, o túmulo da família de Januário Cicco, o “cemitério” dos judeus inserido no “campo santo”, o de padre João Maria, o espaço das ordens religiosas, Luxo e humildade, ali, dialogando sobre nossa cidade. A cidade dos mortos pulsa vidas.


2 comentários:

  1. O problema,meu caro, é que memória não se força, ela é resultante do amor dos antepassados pela terra e do respeito nosso pelas vidas e fatos de nossos avoengos. Onde estão os memoriais no cemitério do Alecrim dos milagres de combatentes norte-rio-guineenses na Guerra contra o tirano Lopez, do Paraguai? E dos nossos mortos em Canudos? Foram heróis em sua época. Por que não são mais? Quem os destituiu? Memória sem Tradição não tem serventia nenhuma.

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    1. Olá Mestre, compreendo suas, sempre pertinentes, reflexões. Agora, me permita, defendo a ideia de desenvolver ações de educação patrimonial, com o objetivo de se fazer conhecido os lugares e os personagens de nossa história. Um abraço fraterno.

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