sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Carta de um exilado: reflexões!


Carta de um exilado: reflexões!
Luciano Capistrano
(Historiador/SEMURB, Professor/Escola Estadual Myriam Coeli)

EM MEADOS DOS ANOS 1980, li “Cartas de um exilado: Djalma Maranhão”, publicação da editora Clima, edição de 1984. Organizado por Marcos Maranhão, o livro é um testemunho pujante da solidão e do sofrimento, vivido por Djalma Maranhão na distante Montevidéu.
Lembro de ter lido de um “fôlego” só, cada carta lida era o retrato da realidade de quem expulso de sua terra natal passou a viver num lugar estranho, obrigado, feito gado encurralado por um regime autoritário. Em suas cartas encontramos um homem forte, mesmo diante da adversidade.
Cidadão norte-rio-grandense, Djalma Maranhão. Político, foi professor de Educação Física do Colégio Estadual Atheneu, jornalista e esportista. Fundador e diretor de jornais. 
Djalma Maranhão iniciou sua vida política nos primeiros anos da década de 1940, reorganizando as forças populares herdadas do Cafeísmo. Na eleição de 1954, foi eleito Deputado Estadual e na condição de primeiro suplente, assumiu o mandato de Deputado Federal (1959 – 1960). Por duas vezes exerceu o cargo de Prefeito da Cidade do Natal.
O primeiro mandato por nomeação do governador Dinarte Mariz e o segundo mandato, em 1960, por eleição direta, tendo seu nome sufragado por mais de 60% dos votantes.
Em consequência do golpe de Estado de abril de 1964 foi deposto da prefeitura, e esteve preso em quartéis do exército em Natal, na ilha de Fernando de Noronha e no Recife. Morreu no exílio, em Montevidéu, em 30 de julho de 1971, aos 56 anos de idade. Segundo o professor Moacyr de Góes, de saudades de sua terra Natal.
Lembrar o Prefeito dos Folguedos populares, Djalma Maranhão, é preservar a memória das lutas sociais vividas na capital Potiguar.
Em tempos de crise ética, faz necessário registrar exemplo de homens públicos como o do prefeito dos autos populares, o amigo da cultura do povo, Djalma Maranhão.
Não esqueçamos a invasão da Prefeitura e a prisão do Prefeito, da Campanha de Pé no Chão Também se Aprende a Ler, e de grande parte de sua equipe.
       O famigerado golpe de 1964 Interrompia, através da força, uma das experiências das mais exitosas, em termos de educação e de administração popular.
         Quando em 2009 fiz uma vistoria na antiga residência de Marcos Maranhão, com uma equipe da SEMURB, formada pelos arquitetos João Galvão e Andréia Garcia, fiquei muito feliz, quando João Galvão me entregou uma carta, datilografada, de Djalma Maranhão endereçada a D. Dária, remetida de Berlim.  Encontrada no lixo, aquela Carta era uma representação dos dias de aflição vividos por um dos mais importantes gestores municipais que Natal conheceu. Diante daquele papel sujo, descuidado, fiquei a imaginar a dor sofrida por aqueles que não se dobraram perante o poder autoritário dos Presidentes Generais. Eles passaram,  Djalma Passarinho. 



terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Zila: um rio de poesias


Zila: um rio de poesias
Luciano Capistrano
Professor de História – Escola Estadual Myriam Coeli
Mestrando – Profhistória/UFRN

Zila: um rio de poesias

Rosa
De pedra
Brava
Da roseira
Em flor
Brotou
Zila Mamede
Do arado
De corpo
A corpo
Do poético
Mar
Fez
Exercício da palavra
Desabrochou
Zila
Um rio de poesias.
(Luciano Capistrano)

            A poesia de Zila Mamede me chega em uma tarde qualquer dos anos 1980, eu com papai no Sebo Cata-Livros, na rua da Conceição, Cidade Alta, nas proximidades da Praça Padre João Maria. Papai tinha comprado uma caixa com livros e entre eles um de Zila, o ARADO. Sem maiores pretensões, passei algumas tardes na Praça Padre João Maria, lugar onde vendíamos livros do sebo, com umas estantes e utilizando uma mureta de um canteiro que existia na Praça, bem, fato é que me encantei com a poesia de tanto cheiro de terra e saudades.
            Desde daquele primeiro encontro - um rápido encontro, afinal a finalidade do Sebo era vender os livros e o Arado logo, logo criou asas e voou -, passei a procurar a poesia da poetisa nascida em Nova Palmeira, na Paraíba, mas norte-rio-grandense de vida, aqui em solo potiguar chegou bem cedo. Nascida em 15 de setembro de 1928 e falecida em Natal, no dia 13 de dezembro de 1985. Uma vida intensa, marcada pelos livros, caminhou nos corredores das bibliotecas, e, neste universo da biblioteconomia, deixou uma grande contribuição para a produção de conhecimento no Rio Grande do Norte: a Biblioteca Central da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Hoje Biblioteca Central Zila Mamede.

    Foto: Luciano Capistrano
            O jornalista Carlos Lyra, idealizador do Programa Memória Viva, nos deixou um belo depoimento de Zila, um documento vivo sobre essa mulher das letras e ação, vejamos um fragmento desse belo programa quando em um determinado momento a uma referência aos elementos motivadores da poesia de Zila Mamede:

Alvamar Furtado: [...] como surgiu a matéria prima da sua poesia? 

Zila Mamede: Taí uma pergunta difícil de responder. Acredito que o que vivi em Nova Palmeira e no sertão do Rio Grande do Norte, entre o dia que nasci até os quartoze anos de idade, foi tão forte, tão profundo e tão real, que somente quando publiquei “O Arado” é que eu tive aquela dimensão. Tanto é que o primeiro livro, “Rosa de Pedra”, praticamente não tem nada desse momento. É um livro, digamos, de filho pródigo, e representa muito mais o meu sentimento adolescente e de menina que veio morar na cidade, mas não os momentos iniciais, que só vieram surgir praticamente na maturidade, em “O Arado”. (Memória Viva Zila Mamede. Natal:Sebo Vermelho, 2012, p. 10. Edição Fac-símile)

            Zila Mamede publicou seguintes livros, Rosa de Pedra (1953); Salinas (1958); Arado (1959); Bibliografia sobre Chico Santeiro (1966); Luís da Câmara Cascudo: um pesquisador (1968); Luís da Câmara Cascudo: cinquenta anos de vida intelectual (1970); Os vários caminhos de Maria Alice Barroso (1974); Exercício da palavra (1975); Navegos (1975); A herança (1984) e Civil geometria: bibliografia crítica e anotada de João Cabral de Melo Neto – 1924/1982 (1987). Uma produção das mais importantes das letras potiguares.
            Neste 2019 celebramos os 60 anos do O Arado, livro de poesia editado em 1959, um convite para conhecermos o universo de Zila. Diante de todas as atividades em homenagem a esse clássico da literatura, que a maior seja fazer Zila Mamede chegar nas escolas, se fazer conhecida por estudantes de todos os níveis, assim, desejo, um livre voo de O Arado, pouse nas bibliotecas potiguares:

Arado

Arado cultivadeira
rompe veios, morde chão
Ai uns olhos afiados
rasgando meu coração.

Arado dentes enxadas
lavancando capoeiras
Mil prometimentos, juras
faladas, reverdadeiras?

Arado ara picoteira
sega relha amanhamento,
me desata desse amor
ternura torturamento.
(Zila Mamede)


domingo, 15 de dezembro de 2019

Forte dos Reis Magos: minhas inquietações em voz alta.



Luciano Capistrano
Professor de História – Escola Estadual Myriam Coeli
Mestrando – Profhistória/UFRN

           
            “Breve Notícia Sobre a Província do Rio Grande do Norte”, o ano 1877, obra de Manoel Ferreira Nobre, considerado o primeiro historiador do Rio Grande do Norte. Nas palavras de Manoel Rodrigues de Melo, “[...] acusado de queimar incenso à tradição, mas quando é posto em confronto com os mais modernos [...] verifica-se que o pai da história norte-rio-grandense não cede seu lugar aos novos nem aos velhos [...]”. (MELO In NOBRE, Manoel Ferreira. Breve notícía sobre a província do Rio Grande do Nortre. Natal: Sebo Vermelho,  2011, p.10).
            Início este artigo na companhia de Manoel Ferreira Nobre, por desejar provocar inquietações sobre a mais antiga edificação erguida em Natal. Me refiro, claro, ao Forte dos Reis Magos. E ao fazer essa referencia ao historiador Ferreira Nobre, objetivo trazer ao publico leitor a importância de se fazer conhecido nosso Patrimônio Cultural, e, nada mais adequado, do que dá o ponta pé inicial, nestes dias que se aproxima mais um aniversário de Natal, 420 anos em 25 de dezembro de 2019, refletir sobre políticas de preservação desse patrimônio.
            Segundo Ferreira Nobre:

A celebridade desta fortaleza, pelo drama sangrento que nela se representou quando foi retomada dos holandeses, junta-se a ser a parte escolhida para a prisão do índio Jaguarari, e a do poderoso atleta da liberdade Coronel André de Albuquerque Maranhão, que ali morreu a 25 de abril de 1817, banhado em seu próprio sangue, como um verdadeiro apóstolo da causa que esposara. (NOBRE, Manoel Ferreira. Breve notícía sobre a província do Rio Grande do Nortre. Natal: Sebo Vermelho,  2011, p.25)

            O Forte dos Reis Magos é o lugar do início da ocupação portuguesa nestas terras natalenses, este fato por se só já indica a dimensão da importância histórica deste monumento para a cidade de Natal. E esse é o mote que pretendo seguir nessas linhas escritas ao sabor da saudade. Uma saudade que vem do adolescente, filho do funcionário da Fundação José Augusto, Benjamin Capistrano Filho. Nos finais dos anos de 1970 papai trabalhava na lojinha do Forte. Eu filho do funcionário me alegrava nas tardes em que papai me levava para o trabalho.
            Abro aqui um parênteses, apenas para dizer, de como era bom receber os visitantes e conversar com eles sobre a história de nosso forte, lembro bem de um casal de norte-americanos, falando um português carregado de sotaque, simpáticos, me fiz de guia e fui com eles por todos os cantos daquele lugar de mágicas histórias, era meu mundo encantado. Bem me tornei professor de história e um frequentador assíduo do Forte dos Reis Magos.
            Hoje me inquieta o fato do seu fechamento, alguns irão dizer necessário porque está em obras de restauração, sim, sim concordo são obras necessárias e urgentes que há muito tempo deveriam ter ocorrido. Bom, mas a questão é muito mais do que o tempo, a demora em se concretizar esse projeto de restauro de nosso mais visitado Patrimônio Cultural, sim, o Forte dos Reis Magos é o Monumento mais visitado da cidade de Natal. O tempo, a demora na reabertura é um problema a ser enfrentado por todos os ógãos responsáveis pelas politicas de preservação do patrimônio cultural e do turismo.
            Suas linhas arquitetônicas tem a marca dos padres engenheiros jesuítas, foi o padre Gaspar de Samperes, pertencente a Companhia de Jesus, antes de clérigo foi militar, adequando seus conhecimentos de estratégia de guerra com a engenharia será o responsável pelas linhas e formas do Forte dos Reis Magos, o polígono estrelado. Construção de 1598, sua planta erguida em taipa foi no ano de 1628 transformada numa das mais belas arquiteturas de guerra construída em terras brasileiras. O engenheiro-mor Francisco Frias de Mesquita, foi o responsável pela substituição da taipa por pedras.
            O Historiador Hélio Galvão, em seu clássico História da Fortaleza da Barra do Rio Grande, nos chama a atenção para o fato de existir uma relação, digamos, de importância histórica entre o Forte e a Base Aérea de Parnamirim.

A Fortaleza da Barra do Rio Grande representou a mesma função que viria a ser o Aeroporto de Parnamirim na Segunda Guerra Mundial. Como agora tem a Base de Foguetes de Barreira do Inferno, nos primórdios da navegação interespacial. Singular destino que a Geografia reservou a Natal. Ponto de apoio para a Conquista do Norte, integrando-o na comunidade nacional que se formava. Base para a travessia transoceânica, quando a navegação apenas se iniciava. A ligação Europa-América somente foi possível pela via Dakar-Natal, o famoso estreito de Dakar. (GALVÃO, Hélio. História da Fortaleza da Barra do Rio Grande. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura, 1979, p.57).

            Ao aproximar do fim desse “Forte dos Reis Magos: minhas inquietações em voz alta”, chamo a atenção do leitor para a valorização desse lugar de memória, e faço isso por entender, como muitos de nós, ser fundamental a preservação desse que é sem dúvidas o maior Monumento da presença Ibérica em solo Potiguar. Há aproximadamente 8 anos, o Forte vive sobre uma corrente de incerteza, apesar das “promessas” advindas dos financiamentos do "Pac das Cidades Históricas", e, agora do "Banco Mundial", percebemos uma ausência de diálogos entre o Governo Municipal, o Governo Estadual e a União. Urge uma ação para além dos limites fronteiriços de cada ente federativo.
         O IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), a Fundação José Augusto e a Fundação Capitania das Artes, precisam criar um grupo de crise, sim, crise, pois não basta dizer que os caminhos burocráticos dos financiamentos, as “pendengas” entre construtoras e órgão público, são os responsáveis por paralisias ou quebra de continuidades das obras de reparos, saídas criativas podem ser pensadas e executadas, com a finalidade de amenizar os prejuizos causados com a demora de conclusão da obra. Se o Projeto de Restauro tem previsão de conclusão apenas para 2020/2021, então, que se pense ações de urbanização do entorno, estamos perdendo receitas. Falando em geração de renda e emprego,  principalmente o segmento do turismo, toda uma rede de empreendedores, desde os barraqueiros até os hoteleiros da Via Costeira, todos perdem com essa situação.
Finalizo com essa bela foto do fotógrafo Luiz Dias, como um convite para nos inquietarmos e abraçarmos o Forte dos Reis Magos.
           

    Foto: Luiz Dias 



terça-feira, 10 de dezembro de 2019

O Pac das Cidades Históricas e uma cidade de 420 anos


O Pac das Cidades Históricas e uma cidade de 420 anos
Luciano Capistrano
Professor: Escola Estadual Myriam Coeli
Mestrando: Profhistória/UFRN

                Em dezembro de 2010 o Centro Histórico de Natal, os bairros da Cidade Alta e da Ribeira, precisamente, foram declarados Patrimônio Histórico Nacional. O IPHAN, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, reconheceu através do instrumento do Tombamento a relevância histórica do conjunto arquitetônico e paisagístico dos dois bairros mais antigos da cidade. Natal entrava, assim, no clube das cidades históricas. Uma área de 28,4ha foram delimitadas no perímetro tombado e um entorno de 62,6 há, compõe o “território” com restrições legais para intervenções urbanísticas.
            A cidade cantada e decantada como Cidade do Sol, voltava-se para sua edificação, suas memórias erguidas e estampadas no seu Patrimônio de “Cal & Pedra”.
            Para além das edificações Natal começa a ter um olhar, de algum modo, mais cuidadoso ou, melhor, atento, para sua história, afinal, tem um rio, o Potengi, cenário dos encontros e desencontros coloniais, Potiguaras, Europeus, Africanos, civilizações  que aqui lutaram, que aqui se fizeram comedores de camarão, que aqui construíram uma cidade subindo e descendo dunas, atravessando rios, e erguendo pontes garantiram muito mais que o titulo de “Cais do Sertão” o de “Capital Potiguar”.
            E a Cidade do Sol é em 2013 inserida no Programa de Financiamento do Governos Federal, O Pac das Cidades Históricas. Um Programa que prevê linhas de financiamento para restauro de Patrimônios Históricos.
Natal tem escolhidos para Restauro as seguintes edificações: Forte dos Reis Magos, Palácio Felipe Camarão, Casarão do Arquivo Arquidiocesano, Casarão da Escola de Danças do Teatro Alberto Maranhão, Antigo Grupo Escolar Augusto Severo (Núcleo de Extensão da UFRN), Antigo Armazém Real da Capitania - Casa do Patrimônio, Edifício da Semut e o Teatro Alberto Maranhão.
Ainda faz parte do pacote de financiamento Projetos de Requalificação das Praças do Centro Histórico, como por exemplo as já concluídas, Praça do Estudante e Praça Sete de Setembro. E por fim a Reabilitação: Antigo Hotel Central - habitação de interesse social.
Bom não desejo fazer desse artigo um rol de obras acabadas ou inacabadas, apenas chamo a atenção para que a sociedade natalense perceba a importância da continuidade dessas ações, que se arrastam desde de 2013, para o desenvolvimento do turismo e me refiro ao turismo cultural, sempre é bom lembrar das particularidades de nossa cidade Natal. Lugar privilegiado do ponto de vista da história da aviação. Desde o início do transporte aéreo que o rio Potengi foi cenário para a amerissagem dos hidroaviões.
Jean Mermoz, Carlos Del Prete, Arturo Ferrarin, Francesco de Pinedo e até o escritor e aviador Antoine de Saint-Exupéry -  dizem que levou das terras natalense a inspiração para escrever O Pequeno Príncipe -, pousaram por essas margens do Atlântico.
Fato é Natal não recebeu de forma aleatória o nome de Cidade Trampolim da Vitória, cidade já conhecida na rota aérea Europa x América do Sul, foi base de apoio aos militares norte-americanos durante a Segunda Guerra Mundial. Uma história ainda por ser ensinada nas escolas e oferecida como atração turística para os visitantes e nativos da terra de Câmara Cascudo.
Finalizo o artigo sem nenhuma pretensão de ser conclusivo, apenas fui movido por uma inquietação referente ao abandono dos “nossos lugares de história”. Deixo aqui duas fotos para refletirmos sobre as Políticas Públicas, tímidas ou ausentes, de preservação do Patrimônio Cultural de Natal. Uma da Fortaleza dos Reis Magos, abro um parênteses para dizer da importância de se tecer uma rede com a Prefeitura de Natal, o Governo do Estado e o Governos Federal, através dos seus órgãos de turismo e de patrimônio cultural para com urgência fazer as obras necessárias no nosso vestígio mais antigo da presença ibérica em nossa cidade, e a outra foto, é do Casarão do Arquivo Arquidiocesano, na espera das obras de restauro, parte do prédio tombou.
Faz urgente ações de resteuro e preservação do Patrimônio Cultural, este é o nosso alerta, neste, O Pac das Cidades Históricas e uma cidade de 420 anos. Eis as fotos...

Forte dos Reis Magos - Foto: Luciano Capistrano


Casarão do Arquivo Arquidiocesano - Foto: Luciano Capistrano

domingo, 17 de novembro de 2019

Antes do pôr do sol... lembremos das vitimas de Tchernóbil.


Antes do pôr do sol... lembremos das vitimas de Tchernóbil.
Luciano Capistrano
Professor de História: Escola Estadual Myriam Coeli
Mestrando: Profhistória/UFRN

            Em uma das aulas com a turma do 1º C, o aluno Ricardo me interpelou sobre uma série que ele estava assistindo, "Chernobyl", eu desconhecia a série, então iniciamos uma conversa sobre o desastre nuclear acontecido na região da Bielorrússia, em 26 de abril de 1986. Um tema instigante. Essa conversa me fez relembrar das noticias transmitidas pelos canais de comunicação a época do desastre. Uma tragédia distante do meu “mundo”, mas me lembro das conversas com papai sobre o noticiário.
            Morador do Conjunto Santa Catarina, na década de 1980, minha preocupação era com o ônibus, minha condução diária para a Livraria Independência, meu primeiro emprego. Lembro-me de sair todos os dias pendurado na porta até o Alecrim, apesar das recomendações de mamãe para não fazer isso. Era quase impossível pegar um ônibus sem ter de “arriscar” a vida. Eram com emoção as viagens realizadas diariamente, entre Santa Catarina / Alecrim.
            Bom feito este parênteses, vamos ao tema deste artigo, o desastre nuclear de Tchernóbil. Para além das cenas descritas por Ricardo e depois conferidas por mim, na série dirigida por Craig Mazin, faço, aqui, uma inquietação em voz alta: Antes do pôr do sol... lembremos das vitimas de Tchernóbil.

    Foto: Luciano Capistrano - O Pôr do Sol!
Vi-me compelido a pensar sobre o dia 26 de abril de 1986, noticiado pelo Jornal Nacional no dia seguinte, quando diante da TV comentei com papai sobre o ocorrido. De fato, me preocupei com a possibilidade da contaminação, pensei na hora: vamos todos, eu, papai, mamãe e meus irmãos para o Capim, meu refúgio, assim pensava, claro uma segurança imaginária que trago desde os tempos de criança da Vila Mauricio.
            Provocado então por meu aluno Ricardo, procurei ler sobre o tema, foi nessa busca que encontrei na Livraria Leitura o livro, “Vozes de tchernóbil: a história oral do desastre nuclear”, da jornalista Svetlana Aleksiévitch. Encontrei o livro no dia 16/11/2019, ainda estou lendo, e, a cada página, a cada parágrafo, os olhos marejam, as lagrimas insistem em cair. Faço essa escrita para partilhar das minhas  inquietações, não me alongarei no texto, mas pretendo continuar em outro momento a tratar desse assunto. Por enquanto vou pisando devagar os caminhos espinhosos abertos por Aleksiévitch:

No entanto, a cidade ficou lotada de veículos militares, todas as estradas foram fechadas. Havia soldados por toda parte. Os trens regionais e expressos pararam de circular. As ruas eram lavadas com uma espécie de pó branco... Fiquei assustada: como iria, no dia seguinte, à aldeia comprar leite fresco? Ninguém falava em radiação, só os militares circulavam com máscaras respiratórias... As pessoas compravam os seus pães, saquinhos com doces e pastéis nos balcões... A vida cotidiana prosseguia. Só que... as ruas eram lavadas com uma espécie de pó... ( ALEKSIÉTCH, Svetlana.  Vozes de Tchernóbil: a história oral do desastre nuclear. São Paulo: Companhia das Letras, 2019, p. 18-19).

                Neste relato já fica claro o caráter obscuro que envolveu toda a situação desencadeada com a explosão do reator nuclear, me refiro a falta de clareza nas informações, as autoridades da ex União Soviética, simplesmente esconderam o real perigo da população das áreas atingidas pela radiação atômica. O ar, a terra e tudo que habitava a região foram condenados a própria sorte. Os monstros invisíveis liberados logo depois com as explosões, estavam nos lares, nas hortas, nas ruas, por toda a parte.
            As primeiras vitimas foram os bombeiros e os funcionários da usina.  Finalizo, com outro fragmento do livro citado, encerro para continuar a leitura e convido minha cara leitora, meu caro leitor, para continuarmos a refletirmos sobre o papel que deveria ter sido desempenhado pelas Instituições Governamentais de Moscou nos primeiros instantes informando as pessoas dos reais motivos de tantos militares estarem nas ruas e o porque da evacuação, anunciada dias depois da explosão. Talvez relato como este não existissem:

Pelo aspecto, parecia um bebê saudável. Bracinhos, perninhas... Mas tinha cirrose. No fígado havia 28 roentgen, e uma lesão congênita no coração. Depois de quatro horas, me disseram que ela tinha morrido. E me falaram de novo: ‘Nós não vamos te dar o corpo dela’. ‘Como não vão me dar o corpo?! Sou eu que não o darei a vocês! Vocês querem tomar minha filha para a ciência, pois eu odeio a sua ciência! Odeio! A sua ciência já levou o meu marido e agora quer mais...  Não darei! Eu mesma a enterrarei. Ao lado dele...’ [Passa a falar em sussurros.] ( ALEKSIÉTCH, Svetlana.  Vozes de Tchernóbil: a história oral do desastre nuclear. São Paulo: Companhia das Letras, 2019, p. 34).

            Volto a leitura. Façamos das nossas inquietações, sempre, um dialogo democrático.


sábado, 9 de novembro de 2019

09 de novembro de 1989: Grande dia


09 de novembro de 1989: Grande dia
Luciano Capistrano
Professor de História: Escola Estadual Myriam Coeli
Mestrando: Profhistória/UFRN

            Na noite do dia 09 de novembro de 1989, eu estava com papai assistindo ao Jornal Nacional.  Morávamos no Conjunto Santa Catarina, Rua Hidrolândia, quando testemunhamos à alegria do povo alemão diante do Muro de Berlim, rostos estampando um misto de choro e riso, era a representação do sentimento da liberdade do reencontro. O Muro estava indo ao chão e com ele a Berlim separada estava sendo a golpe de “picaretas” e mãos, finalmente, voltando a ser una.
            Naquela noite caia o símbolo da Guerra Fria!
            O Muro de Berlim não significou apenas a divisão de uma cidade. Construído em agosto de 1961, simbolizou a divisão do mundo: De um lado o “mundo”  Capitalista e do outro o “mundo” Socialista. Eram duas “Alemanha”, a República Federal da Alemanha e a República Democrática Alemã.  Famílias, amigos, uma nação de um dia para o outro foi separada. Quase três décadas de segregação. Era aproximadamente 70 km com grades metálicas, torres de observação, arames eletrificados e soldados armados com ordem expressa para atirar em todos que ousassem ultrapassar a barreira imposta.  
No link abaixo a queda do Muro de Berlim, em uma reportagem, memória,  da TV Globo:


https://www.youtube.com/watch?v=GYXBrlVkBuI&feature=share&fbclid=IwAR0sf7nNI_87qg23bAkbsG-SNOZn8fUBKAADrS1nqrI6zqmr_CokloMpGxQ


             E  e a banda SCORPIANS celebra com, THE WALL 1990:

https://www.youtube.com/watch?v=O9HtbTZuO_g&list=PLKjNPhOA2KhpR89WLeUMP6CAmD8y39LrB

            O dia 09 de novembro de 1989 deve ser celebrado por todo o mundo democrático, a sociedade alemã, da parte oriental e ocidental, disseram não a opressão das liberdades. O modelo autoritário faliu. O socialismo e seus instrumentos do stalinismo aliado a grave crise econômica já não conseguia “manter” a ordem nos países do leste europeu. Ventos da glasnot e perestroika, impulsionados por Gorbachev, na antiga União Soviética, varriam os países socialistas da Europa. O mundo exigia democracia.
            A crise dos países socialistas ganhou um simbolo, a queda do Muro de Berlim, como reflexo  da crise  “[dos] últimos anos da União Soviética  [...] uma catástrofe em câmara lenta”, disse o historiador Eric Hobsbawm, em  Era dos Extremos. Como cantaram os Titãs, "... a gente não quer só comida..." e para além das construções dos mitos, a década de 1980 representou o inicio de uma nova ordem, talvez os dias presentes tenham muito do sentimento vivido no leste europeu dos anos 1980.
            Fato é naquela noite, alemães, se abraçaram e gritaram “grande dia”.

terça-feira, 5 de novembro de 2019

Fotografia, cidade, história, caminhada histórica... inquietações!



Fotografia, cidade, história, caminhada histórica... inquietações!
Luciano Capistrano
Professor de História – Escola Estadual Myriam Coeli
Mestrando – Profhistória/UFRN

    Foto: Luciano Capistrano – Monumento em homenagem a Câmara  Cascudo

Fiz essa foto durante a 7ª Caminhada Histórica de Natal (2018), promovida pela Viva Entretenimento. Bela iniciativa que tem a coordenação técnica do historiador Alexandre Rocha. Bem voltemos a foto, gosto desse click, e, sempre lembro do texto de Câmara Cascudo, extraído do livro História da Cidade do Natal:

“Do cimo da Torre da História, o alvissareiro anuncia a passagem, na linha do horizonte, dos velhos e passados navios que estão no fundo do mar. Sonhos, amores, lutas, ambições, delírios, mortes, tudo quanto segue na alma do Homem, sempre com ele viveu, como a sombra ao corpo, muda e teimosa testemunha de sua passagem, reaparece e vive a vida emprestada pela recordação. Gente do Norte e do Sul. As bandeiras sobem, contando, de dia e de noite, como os navios passaram, chegaram e partiram para sempre.” (Luís da Câmara Cascudo – História da Cidade do Natal).

            A fotografia tem sido uma das minhas paixões, sempre faço fotos das ruas e becos da cidade, talvez tomado pelo desejo, muito ambicioso de minha parte,  de fazer parte do grupo do “alvissareiro”, como apontou Cascudo, aquele com a função de anunciar “... a passagem, na linha do horizonte, dos velhos e passados navios...” O certo é, de uma alegria imensa, caminhar por “clicks” a registrar a paisagem da urbe em um dialogo entre os poetas, cronistas, memorialistas e historiadores a descortinar os “... passados navios que estão no fundo do mar...” Como no canto de João da Rua:
Natal
de peixe boi à fortaleza
não existe mistério
tudo todo mundo sabe
neste pequeno espaço
deste perímetro urbano
não há segredo no rosto da cidade.

Todo dia a estrela Dalva lumia
no peito desta gente multicor
um velho sentimento índio
que não seja traidor
tudo todo mundo sabe
sob a lua ou sob o sol desta cidade
um velho sentimento índio
resistindo pela eternidade.
( O Canto o colonizador contra o entregador – João da Rua )
            A cidade surge na escrita, são as narrativas dos fazedores da urbe, neste sentido gosto dos poetas, sigo os pares de João da Rua para compreender e desvendar os caminhos e descaminhos de  uma Natal existente na memória e nos seus símbolos erguidos ao longo do tempo. As praças e seus elementos são narrativas da cidade a dizer de seus habitantes. A foto da Praça André de Albuquerque apresenta no centro o Monumento erguido em 1917 em celebração aos potiguares Padre Miguelinho e André de Albuquerque mártires da Revolução de 1817.
            
     Foto: Luciano Capistrano – Monumento em homenagem aos Potiguares  Mártires de 1817.
           
    Foto: Luciano Capistrano – Relógio do Alecrim

           O imaginário faz parte construtiva do espaço urbano,  a identidade do ser local diz muito das representações imaginadas, sejam a paisagem natural ou a paisagem construída. Um exemplo, pode ser o Morro do Careca, símbolo da cidade de Natal ou o Relógio do Alecrim, pontos referenciais para  se localizar no espaço urbano, todos pertencentes as narrativas da urbe. O historiador José D’Assunção Barros chama a atenção para o imaginário do cidadão na feitura da cidade, neste sentido: “para além de sua representação através da imaginação dos mestres urbanistas e de intelectuais de diversos matrizes, a cidade deve ser examinada, adicionalmente, na perspectiva de sua construção na imaginação do próprio cidadão comum.” ( BARROS, José D’Assunção. Cidade e História. Petrópolis: Editora Vozes, 2012, p. 94)
A Caminhada Histórica de Natal é uma iniciativa importante na relação da cidade seus habitantes e o Patrimônio Cultural, ao andar por ruas e becos o cidadão inicia, digamos, um processo de reconhecimento de sua identidade, neste sentido, a Educação Patrimonial tem a digital bem nítida neste tipo de evento. Gosto de realizar feito um “andarilho da história”, em eventos criados nas redes sociais, a partir do Grupo Gestores do Centro Histórico, do Facebook, e vejo na Caminhada Histórica de Natal, sua 8ª edição, que será realizada no dia 30 de novembro, mais um instrumento para que se faça conhecida à história de Natal.
 
     Foto: Luciano Capistrano – 7ª Caminhada Histórica de Natal/2018.

            Este “Fotografia, cidade, história, caminhada histórica... inquietações!” é um convite para pensarmos a urbe, o seu Patrimônio Cultural e participarmos da 8ª Caminhada Histórica de Natal. Pensar políticas de preservação faz necessário, principalmente nestes tempos de revisão do Plano Diretor, façamos sempre de nossas inquietações um dialogo democrático.

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Democracia, este é o caminho... minhas inquietações!


Democracia, este é o caminho... minhas inquietações!
Luciano Capistrano
Professor de História – Escola Estadual Myriam Coeli
Mestrando – Profhistória/UFRN

“... O povo, iludido, lamentavelmente trocou tudo isso por voto ...” (31 de março de 2010, discurso do, então, Deputado Federal Jair Bolsonaro no plenário da Câmara para exaltar os feitos da ditadura militar civil/1964)

            Ao longo dos anos tenho, cada vez de forma mais radical, me posicionado a favor da democracia, costumo inclusive dizer em voz alta: a saída para crise política e econômica é uma Overdose de Democracia. Não existe outro caminho. As soluções totalitárias são abismos de cores fascistas. Início este curto artigo, com um fragmento retirado do discurso do Presidente Jair Bolsonaro, na época Deputado Federal, feito durante uma audiência publica para relembrar o Golpe Militar/Civil de 1964.
            Infelizmente persiste essa narrativa enaltecendo o autoritarismo implantado no Brasil na década de 1960, quando o governo de João Goulart, democraticamente eleito foi derrubado por um movimento golpista articulado por parte dos militares e diversos setores da sociedade civil aliados aos EUA. O contexto da Guerra Fria foi o pano de fundo dessa interrupção da democracia brasileira.
            Penso nos riscos de uma sociedade quando os valores de respeitos à liberdade de expressão e critica são ameaçados ao ponto dos “inimigos invisíveis” serem parte da justificativa para  a evocação de instrumentos de repressão política, por isso, meu caro amigo, minha cara amiga, precisamos evocar sempre os valores da democracia quando vozes teimam em enaltecer o submundo dos porões da ditadura. Falas como a do Presidente Jair Bolsonaro, na época Deputado Federal, em entrevista à rádio Jovem Pan: “... o erro da ditadura foi torturar e não matar...”, devem ser rechaçadas.
            Hoje os senhores bolsonaristas, seguem a narrativa do antes candidato e hoje Presidente da República. O caso mais recente foi do seu filho o Deputado Federal Eduardo Bolsonaro ao se referir as mobilizações ocorridas no Chile disse: “E a resposta, ela pode ser via um novo AI-5...” Não foi uma frase infeliz, dita sem “querer”, a relação do clã Bolsonaro com o lado radical dos golpistas de 1964 vem de longe. Ao citar aqui algumas falas do Presidente, saudosistas dos mecanismos de repressão política criados durante os denominados “anos de chumbo”, faço para reafirmar o risco de termos na Presidência alguém, mesmo eleito, repito, dentro de um regime democrático, que tem como ídolo o torturador Brilhante Ustra . Para não irmos muito longe, relembro da opinião de Jair Bolsonaro durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, afirmando que a ditadura deveria ter matado “... uns trinta mil...”.
            Finalizo essas minhas inquietações com a frase do Deputado Ulisses Guimarães ao Proclamar a Constituição de 1988: “O Estado autoritário prendeu e exilou. A sociedade, com Teotônio Vilela, pela anistia, libertou e repatriou. (Palmas.) A sociedade foi Rubens Paiva, não os facínoras que o mataram.”
           Prefiro  o barulho do povo nas ruas, do que o som sombrio dos tanques,  seja nas Jornadas de Junho de 2013, seja nas Manifestações contra o Corte dos recursos para as Instituições Federais de Ensino de 2019. Façamos, sempre, das nossas inquietações um diálogo democrático.

    Foto retirada do blogger Revolta do Busão - Jornadas de Junho/2013, vista parcial da BR 101 Natal

    Foto: Luciano Capistrano - Manifestação Em defesa da Educação / 2019 
           
           

A esperança se vestiu de cinza.

  A esperança se vestiu de cinza.               Aqui faço um recorte de algumas leituras que de alguma forma dialogam sobre os efeitos noc...