domingo, 26 de dezembro de 2021

Em 2022 desejo um tsunami de democracia!

 

Em 2022 desejo um tsunami de democracia!

 

“Agosto de 1939: o mundo entra em pânico. Nas embaixadas e cancelarias nos palácios presidenciais e ministeriais, portas são batidas diante da guerra iminente. O acordo de Munique foi ratificado no ano anterior, sem que a tensão entre as nações diminuísse de maneira duradoura. Após invadir a Áustria e o território dos Sudetos, Hitler ameaça a Polônia. Em 23 de agosto, para espanto geral, ele assina um pacto de não agressão com Moscou”.(FRANK, Dan. Paris ocupada: os aventureiros da arte moderna (1940-1944). Porto Alegre: L&PM Editores, 2017, p. 11).

 

            São tempos estranhos, estes que vivemos, quando pensamos na história e observamos o avanço do nazismo sobre as nações. O totalitarismo ganhou o espaço da democracia. A década de 1930 testemunhou o crescimento e fortalecimento do obscurantismo nos quatro cantos da terra. Uma invasão bélica, o caso polonês, apenas coroou o imaginário de milhares de adeptos do nazismo liderado por Adolf Hitler e companhia. A lógica do totalitarismo provocou uma onda a devastar, como um tsunami, os governos democráticos.

            Atualmente essa onda totalitária lança seus tentáculos nos diversos grupos sociais, em uma verdadeira explosão de ódio contra os ideais democráticos/humanistas. Faz necessário ficarmos em alerta. Diante das ameaças a democracia, não podemos tergiversar. Não se negocia princípios democráticos. Neste sentido surfar nas ondas totalitárias é contribuir para a construção de novas “câmaras de gás”. O historiador norte-americano Timothy Snyder, sentencia:

Se os advogados tivessem seguido a norma que proibia execuções sem julgamento, se os médicos tivessem obedecido à regra que proíbe cirurgias sem consentimento, se os executivos tivessem endossado a proibição da escravidão e os burocratas tivessem se recusado a processar a documentação que envolvia os assassinatos, o regime nazista teria enfrentado muito mais dificuldades para dar cabo das atrocidades pelas quais é lembrado. (SNYDER, Timothy. Sobre a tirania: vinte lições do século XX para o presente. São Paulo: Companhia das Letras, 2017, p. 39).

            Esse é nosso papel de ficamos atentos aos ataques contra as instituições democráticas. O nosso tempo é um tempo de risco. Tempos que nos fazem lembrar o “Admirável mundo novo”.

- O ensino pelo sono chegou a ser proibido na Inglaterra. Havia uma coisa chamada liberalismo. O Parlamento, se é que os senhores sabem o que era isso, votou uma lei contra ele. Conservaram-se as atas das sessões. Discursos sobre liberdade do indivíduo. A liberdade de ser ineficiente e infeliz. A liberdade de ser um parafuso redondo num buraco quadrado. (HUXLEY, Aldous. Admirável mundo novo. São Paulo: Globo, 2020, p. 69).

            Aqui, apenas uma inquietação em busca de uma onda de resistência democrática no ano que se avizinha. Venha 2022, venha e traga um tsunami de DEMOCRACIA.

Professor Luciano Capistrano



sexta-feira, 8 de outubro de 2021

JANELA PARA O AMANHÃ (Aluízio Alves)


JANELA PARA O AMANHÃ (Aluízio Alves)
Este é um excelente documentário a dizer da cidade de Natal e das relações de poderes. 
Valeu muito para refletirmos sobre a formação do estado brasileiro!

segunda-feira, 14 de junho de 2021

Memórias, fotografias e cinemas... divagações.

         Caminhar no bairro do Alecrim, o bairro da feira e do um comercio popular pujante da cidade de Natal, sempre é ir ao encontro de novos encantos. A Praça Gentil Ferreira, cenário de grandes eventos artísticos/políticos, com o Relógio marcador do tempo, provavelmente é um dos lugares que mais representa simbolicamente o antigo “Cais do Sertão”. 

        O alecrim guarda em cada avenida numerada, em cada esquina, memórias da urbe. Os vendedores a nos convidar a entrar nas lojas, diversas, como diverso é o comércio, e, os camelôs a disputar espaços nas ruas e calçadas, fazem do bairro uma espécie de caldeirão socioeconômico. Ao olhar o retrovisor do tempo, me delicio com fotografias e testemunhos orais, de registros do Alecrim dos cinemas de ruas. A avenida 2, nas mediações do Relógio ao Banco do Brasil, na década de 1950/1960, era palco, nas tardes de domingo, do encontro de jovens amantes do cinema e das revistas em quadrinhos, sedentos pela “Sétima Arte”, se encontravam no “Palácio Encantado do Alecrim”, o Cine São Luiz, como nos informa o pesquisador Anchieta Fernandes em seu clássico “Ecran natalense”, publicado pelo Sebo Vermelho em 1992. O cinema São Luiz encerrou suas atividades em 7 de março de 1974, em seu lugar foi instalado uma agência do Banco do Brasil. 

      Foto: Emerenciano Jaeci Galvão – Cine São Luiz – acervo IBGE

        Hoje nos encanta vê antigas fotografias, graças a fotógrafos como Jaecy , registros de um tempo não mais presente. É assim a memória: Vivemos as mais variadas coisas, lembramos algumas, esquecemos tantas outras, refletimos, na maioria das vezes, a partir do lembrado sobre o vivido, sem necessariamente controlar o que queremos ou devemos lembrar sobre ele. Muitas vivências deixamos de lado e apagamos, por mecanismos conscientes e inconscientes [...] Uma música, uma foto, um texto, alegrias ou traumas inusitados podem nos fazer lembrar. A essa operação, contínua e inevitável, de alternância entre lembranças e esquecimentos, chamamos de memória. Somos constituídos – nossos valores, comportamentos e ações – pela nossa memória. Se podemos aprender a partir de tantas vivências, esse aprendizado como experiência se faz por meio da memória. (FERNANDES, Rui Aniceto Nascimento [et al.].  História e patrimônio: Rio Bonito. Rio de Janeiro: Mauad X : Faperj, 2014, p.8).

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Gestores do Centro Histórico de Natal

Natal Nostálgica

@luciano_capistrano

A cidade: feitura de usos e abusos.

 

        A cidade é um conjunto de épocas expressas nas fachadas de suas edificações e traçado de suas ruas.  O transeunte no seu “corre-corre” diário a labutar pelo pão de cada dia não percebe os significados e as transformações ocorridas no espaço público. O ônibus lotado, o trânsito caótico, a insegurança...os espaços moldados ao longo do tempo guardam “movimentos” de interesses no redesenho da urbe. Assim pensa o historiador Wesley Garcia: 

A cidade, a partir dos usos diferenciados dos seus espaços, vai se constituindo, não apenas em termos da sua morfologia, de sua materialidade, da construção de moradias em determinadas áreas, por exemplo, mas também dos significados e dos valores atribuídos aos seus diferentes territórios. Assim, a cidade vai se reproduzindo de forma desigual, contraditória, como produto apropriado diferentemente pelos diversos sujeitos e grupos sociais. (SILVA, Wesley Garcia Ribeiro. Cartografia dos tempos urbanos: representações, cultura e poder na Cidade do Natal – década de 1960 -. Natal: EDUFRN, 2011, p.86). 

   Vista do alto: Igreja Presbiteriana e sede da Prefitura de Natal - Foto: Luciano Capistrano


        Do alto, a Igreja Presbiteriana e a sede da Prefeitura de Natal, edificações do século XIX e XX, respectivamente, construídas com finalidades distintas, ainda a manter suas funções originais, são representações de poderes religiosos e políticos, simbolicamente, podemos inferir, são fazedores do espaço urbano. A cidade de Natal tem em sua feitura territorial o “retrato” das disputas dos diversos segmentos da sociedade. O Professor Pedro de Lima, faz uma referencia ao Plano Polidrelli como exemplo do desejo da elite em segregar: 

[...] o Plano Polidrelli superaria o antigo desenho irregular originário da cidade colonial, onde as classes sociais conviviam, praticamente, no mesmo espaço ou guardando uma certa contiguidade [...] serviria como um refúgio, onde as classes dominantes poderiam se proteger do contato com as péssimas condições ambientais e das epidemias que, então, grassavam pela cidade. (LIMA, Pedro de. Arquitetura no Rio Grande do Norte: uma introdução. Natal: Cooperativa Cultural Universitária, 2002, p.71).

         A urbe vista de cima encanta ao tempo que provoca reflexões sobre sua feitura de usos e abusos.

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domingo, 7 de março de 2021

Cine Nordeste – Para além de uma saudosa memória dos cinemas de rua

 Cine Nordeste – Para além de uma

saudosa memória dos cinemas de rua

 

“No escurinho do cinema

Chupando drops de anis

Longe de qualquer problema

Perto de um final feliz”.

No rádio ouço Rita Lee, “Flagra”. Talvez embalado pelo som da nostalgia, nestes tempos pandêmicos as emoções ficam mais latentes, a flor da pele. Fiquei a pensar sobre os “cinemas de ruas”, eu que gosto de andar por ruas e becos da urbe, me vi diante do antigo Cine Nordeste, na rua João Pessoa, nas proximidades da Praça Kennedy e Praça Padre João Maria, ali, passei várias tardes de domingo. Hoje o prédio, fechado, tem embaixo de sua marquise a “cama” dos desvalidos, dos muitas vezes invisíveis sociais. O Cinema Nordeste, empreendimento da Cireda, foi inaugurado em 20 de dezembro de 1958, um marco na história das salas de cinemas em Natal. O Cinema Nordeste, foi o primeiro a ter um sistema de ar condicionado. Durante muitos anos a Sorveteria Oásis, vizinho ao cine, era o “point” pós filmes. Hoje a edificação guarda para as gerações das décadas de 1950 á 1980, memórias afetivas das exibições na grande tela aos “flagras” quando as luzes acendiam. Tempo, tempo, tempo... Hoje não encontramos os “cinemas de ruas”, mas antigos problemas sociais pulsam. Anchieta Fernandes, em seu clássico “Écran Natalense”, reproduz uma nota publicada no jornal A República, assinada por R. X.: “... os mendigos importunavam as pessoas que ali vão tomar um refrigerante, um sorvete ou outra coisa e, isso recomenda mal a direção da sorveteria e a própria Cidade.” Cine Nordeste – Para além de uma saudosa memória dos cinemas de rua, antigos problemas a desafiar a urbe do tempo presente.

 (Referência: CAPISTRANO, Luciano Fábio Dantas. Divagações: memória, fotografia e história. Natal: Sebo Vermelho, 2019; FERNANDES, Anchieta. Écran Natalense: Capítulos da história do cinema em Natal. Natal: Sebo Vermelho, 2007).

Projeto: Das ruas às redes: Quinta da história.

(Foto e texto: Professor Luciano Capistrano)

   Prédio do Antigo Cinema Nordeste - Foto Luciano Capistrano/2021

segunda-feira, 1 de março de 2021

Do alto da Torre: Um Memorial dos Potiguara, por que não?

 Do alto da Torre:

Um Memorial dos Potiguara, por que não?

 

O que guardamos da presença dos povos originários? Ao caminhar pela urbe onde encontramos vestígios dos Potiguara? A um silenciamento sobre os povos Potiguara, para além do patrono da sede da Prefeitura, Palacio Felipe Camarão, a cidade cresceu, urbanizou seus espaços, construiu monumentos de “padra e cal” e os lugares dos aldeamentos ficaram embaixo do tapete de uma vergonha não dita em sermos herdeiros dos primeiros habitantes da Capitania do Rio Grande. A conquista dos ibéricos não ocorreu de forma pacifica. Aqui foi cenário de conflitos violentos, entre portugueses e nativos. “Do aprisionamento dos Potiguara durante a conquista entre 1597 e 1598, [...] Em apenas uma aldeia nas proximidades do Forte, os soldados ‘... mataram mais de quatrocentos potiguares e cativaram oitenta...’”. (LOPES, 2003, p.63). Sobre a localização do último aldeamento Potiguara nos informa o Professor Olavo de Medeiros Filho: “...na Aldeia Velha, o Outeiro do Minhoto, à margem esquerda do Potengi ...” Este local é hoje o Alto da Torre, localizado no bairro Salinas. Uma região repleta de raízes históricas, cortadas por gamboas, com seus mangues e olheiros a brotar água da terra. Tem na região da antiga aldeia de Felipe Camarão e Clara Camarão, uma iniciativa importante para o turismo cultural a “Gamboa do Jaguaribe”. E o que mais poderia ser realizado em memória dos Potiguara? Cadê o orgulho de ser descendente dos nativos? Se desmanchou no ar, o “Tal orgulho tão decantado foi substituído pelo total e mais terrífico e destrutivo dos silêncios: o do esquecimento. Recusa-se, assim, a memória de antepassados heroicos e dignos de lembrança, culto, respeito e veneração.” (SPENCER, 2010, p.232).  Do alto da Torre: um Memorial dos Potiguara, por que não?

(Referência: LOPES, Fátima Martins. Índios, colonos e missionários na Capitania do Rio Grande do Norte. Mossoró: Fundação Vingt-um Rosado; IHGRN, 2003; MEDEIROS FILHO, Olavo de. Aconteceu na Capitania do Rio Grande. Natal: Dept. Estadual de Imprensa, 1997; SPENCER, Walner Barros. Ecos do silêncio. Natal: Sebo Vermelho, 2010).

Projeto: Das ruas às redes: Quinta da história.

(Foto e texto: Professor Luciano Capistrano)

    Foto: Luciano Capistrano - Ao longe o Alto da Torre.

domingo, 21 de fevereiro de 2021

Hospital Infantil Varela Santiago

 Hospital Infantil Varela Santiago

 

Na avenida Deodoro, bairro da Cidade Alta, localiza-se o Hospital Infantil Dr. Varela Santiago. Um lugar de amor e cuidados com as crianças da cidade de Natal. Uma edificação nascida da ação benemérita de seu patrono. Dr. Varela Santiago, é um desses seres iluminados, médico, nascido no munícipio de Touros, 28/04/1885, falecido em Natal, 15/07/1977, fez da medicina seu sacerdócio em defesa da vida. Nas palavras do médico Clóvis Travassos Sarinho, o dr. Varela Santiago: “[...] modelo de cidadão e de médico não cuidou apenas da criança pobre do seu Estado, o que seria suficiente para situá-lo na galeria dos mais ilustres filhos do Rio Grande do Norte. O seu nome está ainda ligado a outras instituições da saúde e da educação em nossa terra, sendo de destacar a contribuição decisiva que sempre soube dar com devotamento e abnegação àquelas entidades que contaram com seu saber e sua inteligência.” (SARINHO, 1995, p.125). No dia 12 de outubro de 1936 nasceu o Hospital Infantil, desde então, tem cumprido sua missão de “cuidar e sarar” as dores dos “infantis”. Lugar de acolhida. Sua arquitetura com colunas, valoriza a entrada dando ao prédio um ar de grandeza, onipotência. Sua fachada é bem preservada um bom exemplo de adaptação das normas e tecnologias sem modificar as linhas arquitetônicas originais. Em 12 de outubro de 1954 deixava a direção do Instituto de Proteção e Assistência à Infância o Dr. Varela Santiago, e, o Hospital recebia seu nome numa bela e justa homenagem.

(Referência: CAPISTRANO, Luciano Fábio Dantas. Divagações: memória, fotografia e história. Natal: Sebo Vermelho, 2019; SARINHO, Clóvis Travassos. Fatos, episódios e datas que a memória gravou. Natal: Nordeste Gráfica, 1991).

Projeto: Das ruas às redes: Quinta da história.

(Foto e texto: Professor Luciano Capistrano)

    Foto: Luciano Capistrano - Hospital Infantil Varela Santiago.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Antiga Escola Imaculada Conceição – CIC Atual Unifacex - Campus Imaculada Conceição

 Antiga Escola Imaculada Conceição – CIC

Atual Unifacex - Campus Imaculada Conceição

 

As escolas são espaços de vivências múltiplas, aprendizagens/amizades... gerações passaram por salas, corredores, formando seu caráter e abrindo veredas em seus projetos de vidas. A Escola Imaculada Conceição, o CIC, inaugurada em 22 de fevereiro de 1902. Escola católica, seguiu os ensinamentos do evangelho sobre a administração da Congregação das Irmãs Doroteias, trilhando os rumos das instituições pedagógicas de Santa Paula Franssinetti. Na primeira década do século XX a cidade de Natal, vivia um momento de transformação de seu espaço urbano: “Alagadiços foram transformados em praças e jardins, dando origem a espaços de sociabilidade e lazer. O calçamento e a abertura de ruas contribuíram para dar mais dinamismo à vida urbana e também para consolidar a Ribeira como bairro comercial. Com a criação de asilos e do hospital, os doentes foram afastados do centro urbano, numa operação que introduzia oficialmente no espaço da cidade formas de segregação dos enfermos. Desse modo, a higienização dos espaços considerados insalubres impulsionou o projeto de modernização da capital norte-rio-grandense. Com efeito, os princípios higienistas vinham acompanhados de palavras de ordem como sanear, higienizar, educar, reformar, regenerar, civilizar.” (ARRAIS; ANDRADE; MARINHO, 2008, p.85/86). Neste contexto de urbanização nasceu a escola das irmãs Doroteias, foram mais de cem anos contribuindo com a educação de crianças e jovens, pisar no solo do CIC é andar por sonhos das diversas gerações de ex estudantes. Ao passar na avenida Deodoro, no bairro da Cidade Alta, encontramos o  prédio, atualmente ocupado pela UNIFACEX, ainda apresenta linhas da arquitetura do antigo CIC compondo junto a Capela, traços da antiga escola erguida numa época de feitura da urbe moderna. Em 2012 o CIC encerrou suas atividades, ficou as lembranças a ecoar em suas paredes: as alegrias e as tristezas vivenciadas durante os anos de funcionamento.

(Referência: ARRAIS, Raimundo; ANDRADE, Alenuska; MARINHO, Márcia. O corpo e a alma da cidade: Natal entre 1900 e 1930. Natal: EDUFRN, 2008; CAPISTRANO, Luciano Fábio Dantas. Divagações: memória, fotografia e história. Natal: Sebo Vermelho, 2019).

Projeto: Das ruas às redes: Quinta da história.

(Foto e texto: Professor Luciano Capistrano)

    Foto: Luciano Capistrano 

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Antigo Cinema Rio Grande – Igreja Internacional da Graça de Deus

 Antigo Cinema Rio Grande – Igreja Internacional da Graça de Deus

Os caminhos da cidade trás inquietações múltiplas, seja o vai e vêm de gente, o barulho de automóveis ou as paisagens construídas/reconstruídas... são gerações de transeuntes de tempos presentes e distantes a se reconhecerem, ou não, diante de uma urbe e suas diversas camadas. A urbe é uma sala de aula a céu aberto, seu encandeamento de saberes nos convida a conhecer a rede urbana tecida ao longo do tempo. “O patrimônio histórico, por ser uma produção cultural, encerra em si características que favorecem, facilitam a relação ensino/aprendizagem por parte de quem utiliza, por parte daqueles que o usam como fonte documental para obtenção de conhecimentos a respeito de uma determinada época, de determinadas condições socioeconômicas de produção de determinado bem, das relações de poder que demonstram que tal móvel ou imóvel, por pertencer a uma determinada parcela mais abastada da sociedade, então, foi construído com material de melhor qualidade, pode explicitar continuidades e mudanças ocorridas em determinados locais, entre várias outras potencialidades que estes documentos apresentam [...]” (OLIVEIRA, 2011, p. 54). O Antigo Cinema Rio Grande, uma edificação da década de 1940, conforme Anchieta Fernandes: “No dia 11 de fevereiro de 1949, às 17 horas, o bispo diocesano Dom Marcolino Dantas, benzeu o novo cinema”. A grande tela foi substituída pelo altar da Igreja Internacional da Graça de Deus. Seus fundadores, Otacílio Maia, Rui Moreira Paiva, Raul Ramalho e João Messena, celebraram o sucesso do empreendimento naquela tarde/noite do 11 de fevereiro. O cinema contava com sorveteria, bar, bomboniere e nigth-club, este era o templo da sétima arte idealizado por seus sócios. Com a crise dos anos de 1980 surgiu no mesmo espaço, o Cine Rio Verde 1 e o Cine Rio Verde 2, era o último “suspiro” de atividade do antigo cinema Rio Grande. Hoje Natal não tem os cinemas de ruas. As sessões vespertinas e os lanches e encontros na saudosa Casa da Maçã ficaram guardada no velho baú das memórias afetivas. Sobre políticas de Preservação do Patrimônio, acredito ser o desafio primeiro: “[...] manejar essa transformação de maneira que não se rompa a delicada tessitura entre a tradição e a contemporaneidade, pois, ao intervir no bem patrimonial, nós o estamos modificando, sempre. Afinal, pela tradição, ele já nos chega tematizado e, pelo tempo, com sua significação “original” perdida.” (CARSALADE, 2017, p. 145).

(Referência: CAPISTRANO, Luciano Fábio Dantas. Divagações: memória, fotografia e história. Natal: Sebo Vermelho, 2019; OLIVEIRA, Almir Félix Batista de. Memória, história e patrimônio histórico. São Cristovão: Editora UFS, 2010; CARSALADE, Flávio de Lemos. A preservação do patrimônio. REVISTA DO PATRIMÔNIO, nº 36, 2017, p 136-149).

Projeto: Das ruas às redes: Quinta da história.

(Foto e texto: Professor Luciano Capistrano)

    Antigo Cinema Rio Grande - atual Igreja Internacional da Graça de Deus. Foto: Luciano Capistrano

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Sede da ASSEN (Associação dos Subtenentes e Sargentos do Exército de Natal)

 Sede da ASSEN

(Associação dos Subtenentes e Sargentos do Exército de Natal)

A cidade de Natal, de tempos passados, vive não somente na memória individual, ela está presente nos diversos lugares de memórias. Andar pelos museus, pelas ruas, olhar as edificações, remexer ou vasculhar as gavetas e estantes empoeiradas dos nossos arquivos, folhear velhos álbuns, abrir antigas cartas... enfim, tecer teias do tempo presente com vestígios de paisagens de outrora. Caminhar pela urbe pode significar ir ao encontro de memórias “silenciadas” ou “adormecidas” em fachadas de edificações, cores, odores, sabores ou sons a fazer emergir emoções diversas. Como nos ensina a Professora Ecléia Bosi: “[...] Ao lado da história escrita, das datas, da descrição de períodos, há correntes do passado que só desaparecem na aparência. E que podem reviver numa rua, numa sala, em certas pessoas, como ilhas efêmeras de um estilo, de uma maneira de pensar, sentir, falar, que são resquícios de outras épocas [...]”. O prédio da ASSEN é um destes lugares a provocar nos passantes da avenida Prudente de Morais lembranças, imagens de outras épocas. Fundado em 25 de agosto de 1947, logo depois da Segunda Guerra Mundial, com a finalidade de desenvolver atividades sociais, beneficentes e desportivas. Sua sede na avenida Prudente de Morais, teve sua obra iniciada em 1959. Hoje (2021) um lugar abandonado. De muito significado para a vida cultural e esportiva da cidade. Suas linhas arquitetônicas tem a marca da modernidade, assinada pelo arquiteto Raymundo Gomes. Conforme Pedro de Lima: “Na obra se encontram presentes diversos elementos que formam o repertório da arquitetura modernista. Pode-se dizer que a concepção da obra se inscreve na tendencia de substituição das formas planas, que identificam o modernismo europeu, pelas curvas que, a partir da igreja de São Francisco na Pampulha e de outras obras, passaram a identificar uma das vertentes do modernismo brasileiro”. O prédio da Antiga ASSEN expressa para além das aparências a cultura de nossos antepassados, seja nos estilos arquitetônicos ou no conjunto representativo do Patrimônio Imaterial.

(Referência: BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998; CAPISTRANO, Luciano Fábio Dantas. Divagações: memória, fotografia e história. Natal: Sebo Vermelho, 2019; LIMA, Pedro de. Arquitetura no Rio Grande do Norte uma introdução. Natal: Cooperativa Cultural Universitária, 2002)

Projeto: Das ruas às redes: Quinta da história.

(Foto e texto: Professor Luciano Capistrano)

   A ASSEN dos tempos aureos ao abandono - Foto: Luciano Capistrano/2021.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Grafismo na cidade – Artes colorindo a urbe

 Grafismo na cidade – Artes colorindo a urbe

 

A relatos da existência do grafismo como expressão artística desde as civilizações clássicas, no império romano já se encontravam nos muros e paredes o colorido a encantar a urbe de vida. A cidade de Natal tem um forte movimento que pulsa vozes no ritmo da periferia para o centro. Os grafites são verdadeiros painéis pincelados em céu aberto nos becos e ruas da urbe. Nos Estado Unidos dos anos de 1970, o Grafismo surgiu e tomou conta das ruas dos grandes centros urbanos em um dialogo com o Hip Hop, nos traços e nas letras, um grito de toda uma geração contra os descaminhos da humanidade. Viva a arte, viva os artistas a encantar nossa urbe.

Projeto: Das ruas às redes: Quinta da história.

(Foto e texto: Professor Luciano Capistrano)

   Grafite na Cidade Alta - arte de Lucas MDS - Foto: Luciano Capistrano

Alegria de historiador!

 Alegria de historiador!

 

    Fonte: Acervo digital - SEMURB .

Vi essa foto, pela primeira vez, quando estava participando do Projeto Memória Minha Comunidade: Lagoa Azul. Confesso meus olhos brilharam, meu coração disparou de alegria, quando, a servidora da Datanorte me levou por entre corredores e salas, daquela repartição, ao encontro de um funcionário guardião de um rico acervo fotográfico. Nossa pesquisa era sobre o bairro de Lagoa Azul, então, me vi diante de uma série de fotos dos conjuntos habitacionais construídos nos finais dos anos de 1970 e início dos anos de 1980. Essa foto do conjunto Gramoré me encheu os olhos de lágrimas, um choro de alegria e emoção, meses antes, tínhamos entrevistados uma antiga moradora do Gramoré, em seu depoimento oral, ela descreveu este cenário, o que dizer? Apenas agradecer a toda a equipe do projeto, e aos colaboradores.  A SEMURB por ter possibilitado as pesquisas. Este é apenas um depoimento da alegria do historiador, a alegria do encontro com as fontes!!


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Gestores do Centro Histórico de Natal
Natal Nostálgica
@luciano_capistrano

( Foto: acervo digital Semurb / Texto: Professor Luciano Capistrano)

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Antiga residência de Fortunato Aranha - Atual sede do IPHAN/RN

 Antiga residência de Fortunato Aranha

Atual sede do IPHAN/RN

 

A sede atual do IPAHAN/RN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Superintendência do Rio Grande do Norte) é um belo exemplar de uma arquitetura residencial transformada em repartição pública ao decorrer dos anos. Seu primeiro proprietário Fortunato Rufino Aranha, comerciante, fundador da Livraria Cosmopolita, que durante muito tempo funcionou na rua Dr. Barata, membro da elite política da cidade, Vice-presidente da Intendência. Primeiro livreiro da cidade de Natal, segundo João Amorim Guimarães: “[...] Fortunato não seria somente o negociante de livros, não. Seria também o principal leitor, o fidalgo estudioso de todas as obras didáticas do seu comércio, o principal leitor de todos os romances, de toda a infinitude de livros que enchiam aquelas enormes estantes da sua livraria, lendo sem cansar, ilustrando o espírito, alegrando a alma.”  Sobre o livreiro escreveu Deífilo Gurgel: “Ele foi sobretudo enquanto viveu, um exemplo de simpatia e dignidade para Natal.” Essa escrita sobre Fortunato Rufino Aranha é apenas para dizer da importância de olharmos nosso Patrimônio Arquitetônico muito além da “pedra e cal”, para além do construído, pessoas circularam por entre alegrias e tristezas, sonhos e decepções a compor memórias e histórias das edificações da urbe. A antiga residência de Fortunato Aranha (Atual sede do IPHAN/RN), tem linhas arquitetônicas que se destacam na avenida Duque de Caxias, bairro da Ribeira. Como bem descreveu a arquiteta Jeanne Nesi: “Trata-se de um prédio construído nos primeiros anos do século XX, recuado nos limites laterais do terreno e afastado do alinhamento de rua, protegido do exterior por grades e portões de ferro [...] O estilo eclético da edificação e o refinamento utilizado nos materiais de acabamento e nas técnicas construtivas revelam o gosto requintado do seu construtor.” Ao abrigar a Superintendência do IPHAN/RN esta edificação de tantas histórias, de tantas memórias da urbe, deve fazer feliz Fortunato Aranha, pois lá abrigam-se os caminhos da gestação de políticas de preservação do Patrimônio Cultural da terra Potiguar.

(Referência: CARDOSO, Rejane (Coordenação). 400 nomes de Natal. Natal: Prefeitura Municipal do Natal, 2000; GUIMARÃES, João Amorim. Natal do meu tempo. Natal: FIERN-SESI, 1999. (Organização, introdução e notas: Humberto Hermenegildo de ARAÚJO); NESI, Jeanne Fonseca Leite. Natal Monumental. Natal: IPHAN/RN, 2012).

Projeto: Das ruas às redes: Quinta da história.

(Foto e texto: Professor Luciano Capistrano)


   Antiga residência de Fortunato Aranha - atual sede do IPHAN. Foto: Luciano Capistrano.

Antiga loja “Paris em Natal!

 Antiga loja “Paris em Natal!

 

Caminhar pelas ruas e becos do bairro da Ribeira, é uma experiência que vai da alegria de encontrar vestígios de nosso passado a tristeza de verificarmos como estes vestígios tombam ao sabor do tempo. Olhar a cidade é, então, uma experiência repleta de interfaces, pois, não se basta num olhar, os elementos constitutivos do espaço urbano têm muito a ver com seus significados em determinadas épocas, nada é estável, eterno, quando pensamos nas paisagens da urbe, a dinâmica urbana modifica constantemente, claro, como resultado da intervenção humana. Bairros antes valorizados do ponto de vista imobiliário, em uma determinada época, em outra, transforma-se em uma área marginalizada. O prédio da antiga loja Paris em Natal é um bom exemplo, dessa ressignificação. Conforme os Professores Lenin Campos e Matheus Barbosa: “A Loja Paris em Natal [...] possuía quatro grandes janelas no piso superior e estas possuíam guarda-corpos trazidos da França. Sobre as portas, o tímpano dos arcos, também exibia trabalhos em metal de oficinas francesas. A loja abriu em 1908 e vendia artigos finos para a população potiguar. Ao lado, ficava o Cine Polytheama, que abriu suas portas na praça Augusto Severo em 1915.” Um espaço de intensa atividade comercial na Natal do início do século XX hoje sua fachada corroída é, simbolicamente, a representação do deslocamento do centro econômico da Ribeira para outras regiões da cidade. Entender essas mudanças é importante para a compreensão da expansão urbana, como explica o historiador José Barros D’Assunção: Por vezes imperceptíveis na paisagem de um dia a outro, este deslocamento da escrita urbana deixa-se registrar e entrever na longa duração [...] este deslocamento social do espaço também acaba por se constituir em uma forma de escrita que pode ser decifrada. As motivações para este deslocamento podem ser lidas pelo historiador: a história da deterioração de um bairro pode revelar a mudança de um eixo econômico ou cultural, uma reorientação no tecido urbano que tornou periférico o que foi um dia central ou ponto de passagem importante.”

(Referência: BARROS, José D’Assunção de. Cidade e História. Petrópolis: Editora Vozes, 2012;CAPISTRANO, Luciano Fábio Dantas. Divagações: memória, fotografia e história. Natal: Sebo Vermelho, 2019; SOARES, Lenin Campos; BARBOSA, Matheus. História da Arte Potiguar: Art Nouveau. https://www.nataldasantigas.com.br/blog/art-nouveau-no-rio-grande-do-norte, Acessado em 19012021; )

Projeto: Das ruas às redes: Quinta da história.

(Foto e texto: Professor Luciano Capistrano)

    Antiga loja Paris em Natal e o tempo. Foto: Luciano Capistrano.

A Cidade e o Rio: Nas margens, gente!

 A Cidade e o Rio: Nas margens, gente!

 

Natal tem suas raízes no leito do rio Potengi, o rio da cidade a banhar as margens e alimentar seus moradores. O Rio Grande para os portugueses, o Potengi, para os comedores de camarão, primeiros habitantes do solo natalense, o povo potiguara. Ao olhar o rio sob a ponte de Igapó nos vem imagens de séculos de uma expansão urbana, traços de ruas e avenidas abertas ao longo do tempo, desenhando a Natal para além das Quintas. A história é uma colcha de retalho sempre a se remendar numa busca constante em preencher lacunas. Existem vazios de relatos dos que ficaram as margens dessa expansão da urbe. A urbe deixou o rio escondido, cresceu de costas para o Potengi de forma ingrata em muitos momentos jogou a própria sorte as populações em situação de pobreza. O historiador Raimundo Arrais faz de sua escrita um chamamento a reflexão: “[...] por todos os lados ficaram as lacunas: ignoramos, para nos restringirmos a um único exemplo, dos mais eloquentes, com o que sonhavam os pobres da cidade de Natal. E eles eram muitos, e em alguns momentos chegavam em grandes vagas, desprovidos de tudo, situados bem abaixo da pobreza mediana da cidade [...]. Os “invisíveis” da urbe são os esquecidos nos planos de urbanização. O viver na cidade tem significados diferentes. Assim a cidade tem sentidos diversos para seus habitantes. Yi-Fu Tuan nos convida a pensar sobre estes sentidos: “[...] o espaço e o tempo coexistem, entremesclam-se e cada um deles é definido de acordo com a experiência pessoal. Toda atividade gera uma estrutura espácio-temporal espacial, porém raramente essa estrutura aparece na consciência. Acontecimentos como ir ao trabalho, planejar uma visita, admirar uma paisagem, ouvir notícias sobe amigos que moram em outra cidade, são coisas tão frequentes na vida diária para justificar um pensamento reflexivo [...].” Pensar sobre nossa existência na urbe é o desafio quase impossível para quem tem de remar contra a maré dos dessabores de uma sociedade não inclusiva. A Cidade e o Rio: Nas margens, gente, é um convite para pensarmos a ocupação urbana de Natal “para além das Quintas”.

(Referência: ARRAIS, Raimundo (Org.) A terra, os homens e os sonhos. A cidade de Natal no início do século XX. Natal: Sebo Vermelho, 2017; CAPISTRANO, Luciano Fábio Dantas. Divagações: memória, fotografia e história. Natal: Sebo Vermelho, 2019; TUAN, Yi-Fu. Espaços e lugar: a perspectiva da experiência. Londrina: EDUEL, 2013).

Projeto: Das ruas às redes: Quinta da história.

(Foto e texto: Professor Luciano Capistrano)


    A cidade... nas margens os ribeirinhos. Foto: Luciano Capistrano

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